Ana era uma rapariga absolutamente corajosa. Era muito mesmo muito magra, característica de onde vivia. Tinha o cabelo preto, longo, liso e macio. A pele era rosada e os seus olhos eram violeta.
Ana vivia num país de guerra. Perdera o pai tinha apenas três anos, pois a sua casa, que também não tinha grandes condições, fora bombardeada. Isto pelo que a mãe lhe tinha contado. Agora, vivia só com a mãe num pequeno beco da aldeia. Era escuro e frio, porque no seu país as condições são difíceis de encontrar.
Esta bela rapariga tinha doze anos e, como devem imaginar, não ia à escola. A mãe ensinou-lhe a ler, escrever e contar que era o principal. Tinha um dom: desenhar, fazia desenhos belos, magníficos, extraordinários e incríveis. Ela não tinha tema para os desenhos, simplesmente deixava a imaginação voar. Desenhava com pedras que, por vezes, encontrava no chão, infelizmente tinha que ser assim, mas bastava-lhe. Eram pobres e, então, aproveitava o dom para ganhar dinheiro, desenhando e vendendo. O dinheiro podia não chegar, mas já era uma ajuda.
Durante o dia desenhava e passeava pela cidade. Bem, nem faz muito sentido usar o termo “passear”, dava uma volta digamos assim …
Esta pequena adolescente não gostava da noite, porque tinha pesadelos com os sons das bombas e das balas a sair das armas. Quando não conseguia adormecer, pensava como era ter liberdade, ter uma família, uma casa e, enquanto isso, ia observando as estrelas e pensando que por cada estrela podia pedir um desejo. E todas as noites pedia sempre o mesmo desejo: ter uma casa, uma família e, sobretudo, liberdade. Era uma rapariga doce e valente. Nos últimos tempos, a mãe tinha vindo a ficar doente. Sabia que tinha de ser forte para a ajudar como a mãe fizera com ela todos aqueles anos.
Certo dia, acordou e a mãe continuou a dormir mais uma ou duas horas. Tinha a pele muito pálida, e, entretanto, Ana decidiu acordá-la, mas a mãe nem o cantinho do olho abria. Ana já era crescida o suficiente para saber o que aquilo, tristemente, queria dizer. A mãe dela preparara-a bem para quando este momento, um dia, chegasse. Esta tinha uma pulseira cor-de-rosa com brilhantes. Ana tirou-a e colocou-a no seu pulso fino.
Um dia, um rapaz chamado Salvador, tinha Ana já quinze anos, passou pela rua onde ela vivia e estava a desenhar. Chamou a atenção de Ana, pois, nesse preciso momento, tinha acabado de ajudar uma pequena criança que estava isolada e perdida. Ana captou o olhar profundo de Salvador, porque ele não sabia o que fazia uma rapariga tão bela, sentada numa pequena pedra a desenhar.
Salvador, ao passar por Ana, deixou cair a mala de cabedal que trazia pendurada no ombro largo e, de dentro da mala, saíram vários desenhos que vieram para junto de Ana.
- São magníficos, são a perfeição no papel! … - exclamou ela e deixou-se levar pelo seu pensamento profundo. - Desculpa, não devia mexer no que não é meu. – desculpou-se rapidamente.
- Eu é que te devo um pedido de desculpas – disse o rapaz, todo atrapalhado, em voz baixa.
A partir desse momento, o rapaz passava pela Ana todos os dias. Começaram a conhecer-se melhor e a partilhar ideias para os desenhos de ambos. Era amor profundo porque, apesar das condições de cada um, continuavam juntos. Ambos queriam uma coisa em comum: liberdade. Queriam sair do país. Sentiam necessidade de serem livres e apercebiam-se cada vez mais que deviam lutar por aquilo de que gostavam. Tinham, porém, a noção de que, se cumprissem o plano preparado, podiam ser capturados, torturados ou até morrer. Mas, mesmo assim, não desistiram. Conseguiram passar a fronteira, indo para um país calmo, onde existia justiça. Este foi o dia mais feliz nas suas vidas e, claro ficaria sempre marcado não só nas suas memórias, mas também nos seus corações.
Ambos ficaram com marcas para a vida. Salvador ficou com uma cicatriz na parte inferior do braço e Ana, com a tal pulseira da mãe. Ana tornou-se designer e Salvador arquiteto. Ambos construíram uma casa e tiveram dois filhos: Inês e Santiago. O filho era corajoso como a mãe e Inês tinha a pele pálida como a do pai. Os pais amaram-nos e cuidaram deles como se não houvesse amanhã.
Uma última frase que eu, narradora, vos lembro: lutem pelos vossos direitos e pelo que realmente querem!
Camila Oliveira, 7.º B, Escola Básica de Vilarinho do Bairro
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