“O tesouro ainda lá está na mata
de “Roquelanes”
No dia seguinte ao trágico incidente da morte
dos três irmãos de Medranhos, Martino, um pobre e sensível serralheiro de
Medranhos, reparou naquelas três pessoas mortas num jardim ao pé do lago. Não
sabia o que fazer! De repente, lembrou-se de os enterrar num bonito jardim a
poucos quilómetros daquele local. Para além de enterrar os cadáveres,
“enterrou” também o assunto. Sendo assim, Martino nunca havia de falar deles a
ninguém.
Entretanto, dias depois, decidiu ir outra vez
ao lugar, onde os tinha encontrado e reparou que havia um cofre velho com três
chaves perto dele. Abriu-o e, para seu grande espanto, viu muitas moedas de
ouro e logo pensou:
- Uau! Isto foi um milagre! Precisava tanto
destes valores para melhorar o meu estado de vida e dar umas prendinhas à minha
mulher e aos meus filhos que tanto merecem!
Martino tinha um irmão, o Julião.
Julião era rancoroso, mal-educado, ambicioso e
muito invejoso. Martino não queria assim contar ao irmão o que lhe acontecera
com medo que ele fizesse alguma coisa só para ficar com o tesouro todo para si,
mesmo que isso afetasse a vida da sua família.
Martino foi, então, para casa carregado com o
baú. Assim que chegou a casa, Gorjete, a mulher, logo lhe perguntou:
- O que trazes aí? Um baú com lenha a fingir
que trazes riqueza?
- Não, Gorjete! Este baú traz mesmo riquezas!
Ouro! Muitas moedas de ouro!
- Não traz nada! – exclamou a mulher,
admiradíssima.
- Traz, sim! Ora vê!
Mal Gorjete fixou os olhos no tesouro, uma
imensa alegria saltou ao de cima. Pulou, gritou, soltou gargalhadas… Enfim,
ficou tão feliz que não conseguiu esconder a sua alegria.
Gorjete era assim, impulsiva, simpática,
humilde, amiga, alegre.
Seguidamente foi chamar os filhos para verem o
que o seu pai tinha encontrado na mata.
Os seus filhos, Arturino que tinha treze anos
e que era magricela, sensível, alegre e impulsivo como a mãe, e Rosalina que
tinha catorze anos e que era gordinha, tímida, alegre, inteligente e humilde
ficaram muito admirados e muito contentes, já que poderiam recomeçar a estudar.
Pode parecer estranho, mas foi na primeira coisa em que estas duas crianças
pensaram.
Bem! Muitos dias passaram até que, sem querer,
Arturino comentou com o filho de Julião, Marcos, que a sua família estava rica,
porque o pai tinha encontrado um tesouro.
Marcos era ciumento, ambicioso, coscuvilheiro,
rancoroso e muito materialista. E, então, foi contar ao pai o que Arturino lhe
tinha dito.
Julião, de tanta inveja que tinha do seu irmão
Martino, foi logo arranjar uma maneira de acabar com a felicidade da família
dele. Saiu então do seu local de trabalho e, nesse preciso momento, o seu filho
perguntou-lhe:
- O que é que o pai vai fazer?!
- Cortar o mal pela raiz!
- Como assim?
- Acabar com esse tesouro que lhes trouxe
harmonia e felicidade! Eles vão ver! Hão de ser sempre pobres e infelizes!
Julião foi assim ter com Martino e disse-lhe:
- Nunca hás de ser tão feliz quanto eu! Nem
tão bom quanto eu!
- O quê?! Do que estás a falar?
- Do tal tesouro que encontraste!
- Ah! Então, já sabes?! Sim, é verdade! E sim,
estou muito feliz, mas nunca me vais conseguir derrotar, porque posso ser
pobre, porém, tenho uma família maravilhosa e feliz, ao contrário de ti, que
são todos rancorosos e mal-educados!
- Não contes com isso! Só há uma coisa que me
podes fazer para que a minha felicidade acabe, que é matar-me!
- Se for preciso matar-te, mato!
- Não tenho medo de ti! Vais fazer-me o mesmo
que fizeste à tua mulher?!
De repente, Julião sentiu uma dor imensa no
peito, que fazia com que não respirasse. Martino, mesmo com a desilusão que
tinha para com o irmão, preocupou-se muito com ele. Contudo, Julião acabou por
morrer minutos depois.
Entretanto passaram os anos, Martino e Gorjete
já eram velhos e até já tinham netinhos.
Na verdade, o tesouro acabou por dar muito
jeito a esta família porque, para além de ter trazido harmonia e felicidade,
fez com que Arturino e Rosalina tivessem acabado os estudos e arranjado um bom
emprego como engenheiros civis.
Marcos, por sua vez, para conseguir ganhar
para comer tinha de trabalhar nas terras.
O tesouro deu assim para Martino, para os seus
filhos e ainda para os seus netos. O tesouro acabou por assim dar mesmo muito
jeito a esta família tão carenciada. É mesmo para se dizer: “Trouxe tanta
harmonia e tanta felicidade que foram bem merecidas!”
Ana Francisca Marques, nº 2, 8º F
Sem comentários:
Enviar um comentário