O
tesouro
“O tesouro ainda lá está na mata de
Roquelanes.”
Nos dias de inverno que se seguiram àquele
trágico fratricídio, dois irmãos de Retortilho, o João e o Francisco, que eram
membros de uma família muito, mas muito abastada, sendo o seu pai milionário
devido ao lucro da sua cadeia de empresas, pretendiam quebrar com a ideia de
que as pessoas mais ricas detestam trabalhar nas terras.
Os dois jovens viviam
numa casa ricamente revestida de talhas de ouro e decorada com quadros dos
melhores pintores, móveis extremamente limpos pelos seus inúmeros criados e
todas as porcelanas, nela existentes, eram da marca mais cara que se possa
imaginar.
O João, como não
tinham lenha, pediu a Francisco para que, nesse inverno, fossem juntamente com
alguns dos seus criados cortar alguns carvalhos, pois era o tipo de árvore que
estava plantado em algumas das terras dos seus pais. No dia que se seguiu, João
e Francisco na companhia de alguns criados decidiram começar por cortar os
carvalhos da terra que possuíam na mata de Roquelanes, porque era a mais
distante e, sendo aquele o dia em que estavam a começar a trabalhar, estariam
em forma e preparados para a caminhada que tinham pela frente.
João, como era o irmão mais velho, possuía
mais força, e era mais objetivo do que Francisco e por isso, deu uma grande
ajuda aos seus criados. No entanto, Francisco era bastante preguiçoso e só
aceitara aquele pedido, pois não tinha nada de especial para fazer em sua casa
a não ser jogar vídeo jogos ou ver televisão. Enquanto João exibia os seus
grandes bíceps ao cortar um enorme carvalho, o irmão, como era muito curioso e
bom observador, decidiu explorar as redondezas. Passado alguns minutos,
Francisco aparece de sobressalto nas costas do seu irmão, que se assustou,
dizendo:
- Anda, mano, vem
rápido! Encontrei um tesouro!
João não acreditou na
veracidade das palavras de Francisco e continuou o seu trabalho. No entanto,
Chico, alcunha que recebera ao iniciar o ensino primário, tanto insistiu que
conseguiu convencer João a deslocar-se ao local onde o jovem curioso tinha
encontrado o cofre velho. O irmão mais velho ficou maravilhado com o que via.
Tratava-se assim de um cofre enferrujado que possuía fortes dobradiças e um
dístico que, pelas aulas de línguas, era facilmente reconhecido que estava
escrito em árabe e tinha três fortes fechaduras. Procuraram então pelas chaves,
mas sem sucesso, pois era o corpo já degradado de Rui (um dos irmãos de
Medranhos, para quem conhece a história) que as tinha. Como tal, pediram ajuda
aos seus criados para o abrirem. No entanto, não conseguiram. Entretanto,
Francisco lembrou-se que na garagem de sua casa talvez pudesse encontrar algo
suficientemente forte para abrir aquele cofre misterioso.
Quando chegou perto
dos seus criados, ofereceu-lhes alguns pés de cabra e usaram também os machados
utilizados no corte dos eucaliptos. Ao fim de muito esforço, conseguiram
rebentar as fechaduras e abrir o cofre. Dentro dele estavam milhares de dobrões
de ouro.
No regresso a casa,
já o sol decidira deitar-se. Protegido por todos os serviçais, o tesouro chegou
sem grandes dificuldades a casa dos dois irmãos. Porém, ainda não tinham
decidido o que fazer com todo aquele ouro, visto que era desnecessário para
eles. Esperaram então pelo jantar, pois era nessa hora que toda a família se
reunia e conversava sobre o que se tinha passado durante o dia. Sentados à
mesa, o Francisco pensava para si próprio que os seus pais iriam concordar com
a sua ideia de distribuir o dinheiro pelas famílias carenciadas de Retortilho.
Tanto o seu irmão como os seus pais acolheram a ideia de braços abertos.
Os habitantes de
Retortilho viviam agora mais felizes, pois tinham resolvido os seus problemas
financeiros graças à generosidade do Francisco e do João.
João Rocha, nº 10, 8º F
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