Dia Internacional das Migrações
Nos anos 60, do
século XX, quem emigrava clandestinamente recorrendo a um passador, conhecia muito
bem o “código da fotografia rasgada”. O passador guardava metade da fotografia
de quem emigrava e a outra levava-a o emigrante que, uma vez chegado ao
destino, a remetia à família, em sinal de que chegara bem e que poderia ser
concluído o pagamento pela sua “passagem”.
Esta é a minha
história sobre esse passado…
Quero
apenas contar uma de tantas histórias que ainda continuam a ser uma realidade
no dia de hoje, em que se comemora o Dia
Internacional das Migrações.
O tempo passa
Parece que foi ontem
e, ao mesmo tempo, já quase nem recordo o dia que pela primeira vez tive
consciência que iam partir. Deixámos-vos em vossa casa, a de Portugal. Mas
sabia ou soube, nesse dia, que no dia seguinte já estariam longe… noutro lugar,
numa outra casa, num outro país. Em frente a vós, fui sorrindo, abracei,
beijei… despedi-me.
Quando regressava a
casa, a torrente de lágrimas invadiu-me e então, deixei que os gritos
invadissem a minha alma e explodi-os pela minha boca, tal era o vulcão em plena
atividade.
Nesse dia, ainda
quase um bebé, não percebia bem o que se estava a passar. Os pais explicaram
que vocês tinham de ir para França, pois iam trabalhar. Mas voltariam novamente
no verão… Não ia demorar. Todavia, ainda era verão e o tempo, nessa altura, era
uma ilusão para mim!
Entretanto, o tempo
foi passando, passando. Vocês foram indo e, de facto, regressavam sempre no
verão.
Chegámos a ir
visitar-vos e foi tão bom! Durante a viagem, eu sempre ia a perguntar se já
estávamos perto. Depois, finalmente me deparava com a surpresa dos avós e com a
beleza branca da neve. O frio lá fora fazia-se sentir, enquanto nós estávamos
no quentinho a deliciarmo-nos com as pipocas estaladiças, ao mesmo tempo que
víamos a neve que lá fora nos presenteava com o seu espetáculo.
Não sabem a
satisfação que tivemos, quando o pai me disse que vocês estavam aposentados. Aí
sonhei! Sim, era agora. Vinham definitivamente para Portugal. Erro meu!
Desculpas e mais
desculpas do avô, pois a avó estaria aqui… Mas, sim vamos passar mais tempo por
cá! Em tudo eu acreditei. Mas, afinal, não passou de mais uma ilusão. Feitas as
contas: tal ainda não aconteceu. Tu vais por um mês, depois são dois, três,… e
voltas, passado muito mas mesmo muito tempo depois.
E quando estás cá?
Bem, a história repete-se. Falas sempre em partir. Papelada para aqui, papelada
para ali. Há sempre tanto para fazer em França! E queres sempre arrastar a avó
contigo.
Para avô! Pelo menos
uma vez na tua vida pensa em ti, nos teus, pensa em mim e na tua outra neta.
Pensa em como gostaríamos
de te ter connosco e de desfrutar da tua companhia. De viver sem a sombra da
tua migração constante!
Adriana Matos, O Ciclista
Nota:
A primeira imagem foi retirada da Internet.
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