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domingo, 6 de janeiro de 2013

O bolo-rei


O bolo-rei tomava-se muito a sério. Não havia discussão: ele era o rei dos bolos.
Como tal, quando lhe caiu uma passa da coroa, ordenou ao bolo-inglês:
- Traz-me essa passa de volta.
O bolo-inglês fez-se desentendido e respondeu:
- Sorry! I don’t understand...
O que queria dizer, na língua dele, que pedia desculpa, mas não tinha entendido.
Então, o bolo-rei virou-se para um bolo de natas e deu a mesma ordem. Queria, outra vez, a passa a ornamentar-lhe a coroa.
O bolo de natas tinha uma fala atrapalhada, por causa do excesso de natas.
- Flá, plefe, pflu, pfló...
Não se percebia nada.
O bolo-rei, muito irritado, ordenou o mesmo ao bolo de amêndoa, que lhe respondeu:
- Também a mim me caiu uma amêndoa torrada e não me queixo.
O bolo-rei, cada vez mais exasperado, deu a mesma ordem a um pudim de gelatina, mas o pudim de gelatina era muito frágil, muito nervoso e só tremeu, tremeu, incapaz de dizer ou fazer o que quer que fosse.
Então o bolo-rei, corado de fúria, convocou o bolo de chocolate dizendo:
- Ou me encontras tu aquela passa já..., ou te faço a vida negra!!!
  Mas o bolo de chocolate nem um bocadinho se assustou.
- Oh., eu também...já estou tão habituado à escuridão!!!
E, por fim, já completamente nervoso e irado, virou-se para um bolo de coco ralado que por ali casualmente passava e emitiu:
- Encontra-me essa passa! Põe-ma já aqui!! Se não eu castigo-te tanto que tu até ficas  branco!!
- Oh..ora..ora... e eu ralado! - respondeu o bolo, falando para o alto.
- São uns rebeldes estes meus súbditos — concluiu, numa grande exaltação, o bolo-rei. - Condeno-os a que sejam todos cortados às fatias.
E assim aconteceu. Mas nem o bolo-rei escapou.

António Torrado, www.historiadodia.pt  

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