O bolo-rei tomava-se muito a sério. Não havia
discussão: ele era o rei dos bolos.
Como tal, quando lhe caiu uma passa da coroa,
ordenou ao bolo-inglês:
- Traz-me essa passa de volta.
O bolo-inglês fez-se desentendido e respondeu:
- Sorry! I don’t understand...
O que queria dizer, na língua dele, que pedia
desculpa, mas não tinha entendido.
Então, o bolo-rei virou-se para um bolo de natas e
deu a mesma ordem. Queria, outra vez, a passa a ornamentar-lhe a coroa.
O bolo de natas tinha uma fala atrapalhada, por
causa do excesso de natas.
- Flá, plefe, pflu, pfló...
Não se percebia nada.
O bolo-rei, muito irritado, ordenou o mesmo ao bolo
de amêndoa, que lhe respondeu:
- Também a mim me caiu uma amêndoa torrada e não me
queixo.
O bolo-rei, cada vez mais exasperado, deu a mesma
ordem a um pudim de gelatina, mas o pudim de gelatina era muito frágil, muito
nervoso e só tremeu, tremeu, incapaz de dizer ou fazer o que quer que fosse.
Então o bolo-rei, corado de fúria, convocou o bolo
de chocolate dizendo:
- Ou me encontras tu aquela passa já..., ou te faço
a vida negra!!!
Mas o bolo de
chocolate nem um bocadinho se assustou.
- Oh., eu também...já estou tão habituado à
escuridão!!!
E, por fim, já completamente nervoso e irado,
virou-se para um bolo de coco ralado que por ali casualmente passava e emitiu:
- Encontra-me essa passa! Põe-ma já aqui!! Se não eu
castigo-te tanto que tu até ficas
branco!!
- Oh..ora..ora... e eu ralado! - respondeu o bolo,
falando para o alto.
- São uns rebeldes estes meus súbditos — concluiu,
numa grande exaltação, o bolo-rei. - Condeno-os a que sejam todos cortados às
fatias.
E assim aconteceu. Mas nem o bolo-rei escapou.
António Torrado, www.historiadodia.pt
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