Há
uns dias estava a ler uma revista de mulheres e vi um título a negrito grande e
gordo que dizia: “Diz não à violência
contra as mulheres”. Não me apeteceu ler o artigo, mas comecei a pensar cá
comigo própria:
Este
artigo desta revista refere-se ao que vivi há uns dias…
Estava
um dia chuvoso. Portanto, saíra de casa um pouco mais cedo. Com o saco dos
livros ao ombro e o meu chapéu-de-chuva na outra mão, caminhava distraidamente
pelo passeio que me levava até à escola. Ia a pé porque da minha casa à escola
era um saltinho, eu vivia mesmo perto dela.
Ao
passar por uma casa enfadonha e antiga, apercebi-me que a janela estava aberta
e vi um casal aos berros. O marido dizia à senhora que não queria que ela
andasse na rua porque tinha medo que ela o traísse com outros homens.
Claro
que não era nada comigo e eu continuei o meu caminho, apesar de não gostar nada
do que estava a ouvir. Foi então quando, ia eu já mais à frente, ouvi um grito
agudo e histérico da senhora. Ainda pensei em voltar atrás. Mas, o que poderia
eu, uma jovem adolescente fazer. Pensei melhor e decidi esconder-me por entre o
denso arvoredo e observar a cena pela tal janela aberta. E foi ai que vi algo
que me deixou petrificada e veemente horrorizada. O senhor dava chapadas e
pontapés na senhora. Ela bem tentava gritar, mas ninguém a ouvia. Ela bem lhe
dizia que parasse. Que ela lhe era fiel. Que a estava a magoar. Mas parecia que
quanto mais ela tentava fugir e defender-se mais a violência aumentava. E eu, o
que estava eu a fazer? Nada, eu estava cheiinha de medo, quase tanto como a
senhora. Quase que sentia na minha pele os murros e pontapés que ele deferia
nela…
Comecei
a virar-me para me ir embora, foi então que pensei que poderia agir, pois tinha
telemóvel e com ele poderia contactar alguém, só que não tinha o número da GNR.
Então o que fazer?
Já
sei! Acabara de me lembrar que tinha gravado no meu telemóvel um número da
linha SOS Mulher, que há algum tempo
o Cabo da Escola Segura nos tinha dado durante uma ação. Tirei-o da mochila e
liguei. Era o 800 202 148. Quem
me atendeu fez-me diversas questões e disse que ia de imediato ligar à GNR da
minha área de residência. E assim foi, pois a GNR chegou passado pouco tempo e
prendeu o senhor com algemas. Como a senhora ficou sozinha eu fui para junto
dela e comecei a tratar dela e incentivei-a a apresentar queixa. Pouco depois
chegou o INEM e levou a senhora, porque ela estava muito mal e com muitas
dores. Eu fui para as aulas.
O
senhor acabou por ser condenado a alguns anos de prisão, pela violência que
exercia sobre a mulher.
A
senhora ainda esteve internada durante alguns dias e eu pedi aos meus pais para
a ir ver. Quando ficou melhor veio para casa. Nessa altura foi mais fácil ir
vê-la todos os dias.
Entretanto
tornámo-nos amigas.
Hoje
ela é uma pessoa alegre e que ajuda mulheres que necessitam de ajuda como ela
também já precisou.
Depois
de contar isto deixo aqui um apelo:
Espero
que não haja violência contra a mulher porque as mulheres também são pessoas
humanas.
Violência
contra a mulher: NÃO!!!
Márcia Sousa, O
Ciclista
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