Já não sabia onde estava. Olhei em redor e avistei
somente uma imensidão de água. Sentei-me novamente. Memórias assaltavam-me a
mente como se me exigissem ficar mas eu não me queria lembrar. Observei o meu
reflexo na suave e traidora ondulação esverdeada, a minha pele
enegrecida do sol provava os dias à deriva e talvez as lágrimas derramadas devido
ao desespero de lhes ter perdido a conta.
Ao anoitecer, desse mesmo dia,
apercebi-me de que os meus mantimentos tinham acabado. Afinal a luta acabara de
começar, mas tal adversidade não me impediu de adormecer, embalado por aquele
mar sem fim. Confesso que era capaz de me habituar à sensação.
Lembro-me de nessa noite sonhar com o navio em que
parti, o navio em que embarquei com destino à guerra que decorria na altura em
África. Sonhei com as chamas a apoderarem-se da nobre embarcação, com os gritos
de socorro a ecoarem para lá das ondas e que eu não consegui alcançar com o meu
pequeno barco egoísta. O sentimento de culpa fez-me acordar sobressaltado, mas
continuava no mesmo sítio, com a mesma paisagem, com o mesmo céu.
Os dias passavam e a esperança já chegava ao fim,
mas tive sorte, acabei por ser salvo por um navio de comércio e ainda
consciente. Irónico, ia para salvar e acabei por ser salvo. Ainda hoje penso no
terá acontecido, no que terei feito ao mar para me desejar tanto mal.
Adriana Torre, 9.º A
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