Se o futuro fosse
escrito num livro a que todos nós tivéssemos acesso, talvez não cometêssemos
erros que mudam as nossas vidas do avesso. Talvez a infelicidade existente
passasse a ser felicidade.
Jordan estava prestes a
saber qual seria o seu rumo.
Nem tudo na vida era
perfeito mas o que se tornou assim, ele conseguiu estragá-lo. Às vezes um só
segundo, uma só palavra pode mudar tudo.
Jordan era um rapaz de
28 anos a quem a vida já tinha pregado muitas partidas e, tal como toda a gente,
cometeu muitos erros. Loiro, de olhos verdes, alto, um autêntico caçador de
corações.
Falemos um pouco sobre
a sua história. De momento, está à porta do restaurante onde trabalha Kelly e
os seus amigos. Ele está a faltar ao seu trabalho só para estar à porta de um
restaurante, mas talvez tenha algum sentido esta situação. Talvez viesse resolver
o pior erro que cometera ou tudo ficaria como estava.
Era o dia 18 de maio.
Jordan estava a sair da faculdade, ia a caminho da paragem do autocarro para ir
para casa quando, sem querer, derrubou uma garotinha inocente e encantadora.
Uma morena com olhos cor de mel, baixinha, 1.55 metros. O feitio dela não era
nada fácil, pois ela já tinha sofrido muito na vida mas quem conseguia a
confiança dela sabia que Kelly era a pessoa mais doce do mundo, dava tudo o que
tinha para fazer alguém feliz. O seu sorriso era lindo e derretia até os
corações mais frios.
Coitada da menina! Estava
ali no chão à espera que um cavalheiro a ajudasse e Jordan estava encantado com
aquela beleza.
Kelly percebeu que
aquele rapaz, cavalheiro não era e, por isso, decidiu levantar-se sozinha. De
um instante para o outro ele “acordou” e apanhou as coisas dela que estavam
espalhadas pelo chão. Já que não tinha ajudado a rapariga a levantar-se ao
menos apanhava as suas coisas.
Quando se voltou, viu o
seu autocarro a chegar. Ainda bem, porque se perdesse o autocarro teria que ir
a pé para casa e ainda era longe.
Curiosamente, a bela
moça, a que ele tinha acabado de “conhecer”, ia no mesmo transporte que ele e,
por coincidência, a casa dele era na mesma rua da casa dela. Por conseguinte,
ele decidiu meter conversa com ela:
- Hmm, olá! Será que
posso sentar-me ao teu lado?
Ela hesitou mas lá o
deixou sentar e ele continuou:
- O meu nome é Jordan,
tenho 19 anos, fala-me um pouco sobre ti!
Como primeira impressão,
Kelly começou a achá-lo convencido e intrometido. Mal se tinham visto e ele já
estava a falar como se não a tivesse derrubado, mas…
- O meu nome é kelly.
- Bonito nome. E que
idade tens?
- Vou fazer 19 anos em
julho.
- Eu fiz 19 há pouco
tempo, no dia 1 de maio. Tenho dois cães e uma tartaruga. Os meus dois cães
eram abandonados, encontrei-os a vasculhar num caixote do lixo. Estavam
esqueléticos, decidi levá-los para minha casa e voltar a dar-lhes felicidade. A
tartaruga chama-se Molly. Os meus avós paternos têm uma quinta com muitos
animais: cavalo, vacas, vitelos, cabritas, porcos, ovelhas…
O meu preferido é o
Trovão, um cavalo que posso dizer que durante as férias é o meu melhor amigo,
com ele sinto-me livre e feliz! Fala-me de ti.
- Bem, eu vivo com a
minha mãe e o meu gato Félix, toco guitarra desde os 10 anos e a música é a
minha verdadeira paixão. A música não precisa apenas de ser tocada, precisa sobretudo
de ser sentida. Estou a tirar um curso de medicina mas trabalho num
restaurante.
Parecendo que não
Jordan até era boa companhia, ou melhor estava a ser. Foram os dois juntos para
casa e decidiram encontrar-se, no dia seguinte, no parque da cidade.
Eram 9 horas da manhã,
o despertador tocou. Para Jordan iria ser um dia maravilhoso, talvez ele
estivesse seriamente encantado com Kelly.
Às 9:15 da manhã foi a
vez de Kelly acordar. Foi tomar banho e depois disso foi vestir-se. Ela tinha
achado Jordan simpático mas mesmo assim continuava a achá-lo convencido.
Combinaram encontrar-se
às 11 horas no parque e Jordan iria levar o seu cão Snow com ele. O outro cão,
o Simba, iria ao veterinário, por isso ele só levaria um deles.
Na noite anterior
Jordan tinha sonhado com Kelly, coisa que nunca antes lhe acontecera, nem com
Brunna, o relacionamento mais longo que ele já tivera e que durara nove meses.
Vamos continuar! Como
ele já tinha carta de mota e já estava pronto para ir ao encontro da rapariga,
foi indo para o local combinado.
Quando lá chegou só
teve que esperar cinco minutos, pois ela apareceu com um belo vestido rosa-bebé
coberto de borboletas brancas, o cabelo cacheado e sandálias castanhas. Estava
linda!
Cumprimentaram-se e ele
sorriu. Logo de seguida ela olhou-o nos olhos e o tempo parou por alguns
segundos. Entretanto Snow ladrou e “estragou” o clima.
Foram, então, dar uma
volta para se conhecerem melhor. Passados uns vinte minutos a andar a pé,
pararam e sentaram-se na relva a olhar o rio.
- Eu já tive um cão. –
disse ela.
- Tiveste?
- Sim, chamava-se
Marley. Infelizmente morreu e fiquei com o Félix.
- Lamento. Posso
fazer-te uma pergunta?
- Claro que podes!
- Ontem, disseste que
vivias com a tua mãe, então e o teu pai? Está emigrado?
- Não, quando eu tinha seis
anos ele deixou a minha mãe e foi para a tropa. Mais tarde voltou, eu já tinha onze
anos, e veio ao encontro da minha mãe. Como ele tinha deixado a minha mãe
sozinha comigo, ela estava muito magoada com ele e não quis qualquer contacto
com ele. No dia seguinte, de repente, ele morreu. Foi sempre assim! Só eu e a
minha mãe! Eu sei que há histórias pelo meio, mas a minha mãe nunca me quis
contar o porquê de tanta mágoa.
- Como é que se chamam
os teus pais?
- Angelina e Micka.
- Mesmo assim a senhora
Angelina conseguiu criar uma linda rapariga!
- Obrigada! Conta-me
como foi a tua infância. – disse ela.
- Ora, eu sempre fui
muito feliz enquanto criança, mesmo agora também sou mas, aos 7 anos, foi-me
diagnosticado cancro no braço direito. Foi um período difícil, contudo
ultrapassei essa dificuldade e aqui estou pronto para outra!
Na minha opinião, nós
não devíamos perder tempo a pensar no passado ou no que vem depois, devemos sempre
seguir em frente apesar de tudo e, é claro, traçar o nosso caminho com um
sorriso no rosto.
Quando era pequeno, só
sabia fazer estragos!
- Eu era certinha!
- E sempre foste assim?
Linda?
- Que pergunta… eu não
vou nessas cantigas!
- Não são cantigas é a
verdade! – afirmou o rapaz.
Eles continuaram a
falar e ela ia brincando com Snow pelos campos verdes. Ela era, sem dúvida, a
rapariga dos sonhos dele.
Passaram-se algumas semanas
e eles começaram a aproximar-se. Iam sempre juntos para a faculdade e para casa
e também estudavam juntos de vez em quando. Ela até conheceu os avós e os pais
dele. Com o passar do tempo, a sua relação amadureceu, de conhecidos tornaram-se
amigos, e de amigos a melhores amigos. Quem sabe se, ao longo dos anos, também
não passariam a ser namorados.
Aquele rapaz que era um
autêntico caçador de corações mas, de repente, desapareceu.
Ele gostava dela ou
melhor amava-a, isso era um facto. No entanto, ela, pelo seu lado, tinha
dúvidas, embora não conseguisse passar dois dias sequer sem estar com ele.
Eles os dois ficavam
tão bem juntos, já eram muitos os momentos vividos, as mensagens trocadas, as
brincadeiras. Ela já nem se lembrava do que era chorar.
O sentimento que os
unia era tão forte que a sua existência até parecia impossível!
Foi no dia 14 de março
que ele lhe pediu namoro e, surpresa das surpresas, ela aceitou. Ele não estava
à espera que ela aceitasse, mas aconteceu. Com 23 anos, Jordan já tinha carta
de condução e, após o sim dela, levou-a à praia. Deu-lhe uma bandolete com um
mini véu e um anel com um grande diamante de crianças. Quando chegaram à praia
ele colocou um laço ao pescoço e realizou a cerimónia do suposto futuro
casamento. Ambos estavam felicíssimos e pelo rosto de Kelly começaram a deslizar
lágrimas de alegria. Naquele momento, tudo o que era mau desapareceu, todas as
dúvidas que ela tinha desvaneceram-se, naquele minuto ela teve a certeza que
queria ficar com Jordan para sempre e que só ele a podia fazer feliz. Passado
um ano e meio, por “acidente”, ela ficou grávida e quando ele soube a notícia
ficou sem reação.
- Estás mesmo grávida?
- Sim! Eu não me andava
a sentir muito bem e aconselharam-me a fazer um teste de gravidez e deu
positivo.
- Eu não posso
acreditar… vou ser pai. – gritou alegremente. – Sei que somos novos mas vamos
ser os melhores pais de sempre.
- Ainda bem que estás
feliz, sempre pensei que reagisses mal.
- É uma grande
responsabilidade, mas juntos vamos conseguir.
Nove meses depois, a
criança nasceu, tendo-lhe sido dado o nome de John. Jordan teimava que ele saía
ao pai.
Com o nascimento do
bebé, os jovens decidiram ir morar na quinta dos avós de Jordan. Eles os dois
não podiam estar mais felizes, ela continuava a trabalhar no restaurante, ele
ajudava o avô na quinta e o bebé crescia alegre e saudável.
Estava tudo perfeito,
contudo, de um momento para o outro, tudo se desmoronou.
Numa tarde de verão, estava
um dia muito quente, era fim-de-semana, John e o pai estavam os dois a brincar,
enquanto Kelly limpava a casa com a ajuda da avó do namorado, a senhora Morgan.
Parecia ser um dia feliz até que o jovem recebeu um telefonema da Brunna.
Todos pensavam que a
relação entre Jordan e Brunna já estava mais que morta e enterrada, mas ao que
parece Brunna ainda sentia algo pelo rapaz.
Ela tinha-lhe ligado
para lhe dizer que o seu melhor amigo tinha tido um acidente e estava no
hospital entre a vida e a morte. Acreditando nas suas palavras, Jordan saiu de
casa a correr sem dar explicações a ninguém. Quando chegou ao hospital onde o
amigo supostamente devia estar, avistou Brunna.
- Onde é que ele está?
- Não está. Ele está na
Austrália, foi para lá trabalhar há cerca de dois anos. Eu já comprei os
bilhetes de avião para nós dois, vens ou ficas?
- Estás a gozar comigo?
Porque é que não me avisaste disso por telefone?
- Vens ou ficas?
Embora irritado, ele
foi com a rapariga. Embarcaram no avião e quando chegaram, depois de tantas
horas, ele viu que já tinha chamadas de Kelly, por isso, decidiu falar-lhe do
lugar onde se encontrava. Quando tentava fazer isso mesmo, Brunna tirou-lhe o
telemóvel das mãos, inventando uma desculpa qualquer para irem rapidamente para
junto do amigo. Eles foram os dois juntos, contudo a viagem tinha sido muito
longa e Jordan estava cansado. Então Brunna conduziu enquanto ele dormia.
Quando acordou, estava
num hotel, onde viu o seu amigo com a sua amiga. Não percebendo o que se estava
a passar pediu explicações.
- Nós trouxemos-te para
umas férias prolongadas. Os bilhetes são de ida e volta. Voltamos daqui a dois
meses se quiseres, caso contrário ficamos. A Kelly já esta informada de tudo e
não se importou, por isso descansa. – afirmaram os amigos dele.
A verdade é que Kelly
continuava sem ter conhecimento de nada, mas mais uma vez Jordan acreditou nos
amigos.
Passados dois meses
Jordan não voltou para a Carolina do Sul. Ele tinha sido chamado para a tropa e
não deu satisfações a ninguém, apenas escrevera uma carta à namorada dizendo-lhe
que voltaria passados dois anos. Como é óbvio, deixar os pais, a namorada e o
filho sem dar satisfações foi um erro imperdoável. Mas, o que foi ainda pior
foi o facto de se ter esquecido de enviar a carta.
Na Carolina do Sul,
Kelly voltou para casa da mãe com o filho. Foi com o pensamento de que o rapaz
que ela amava tinha passado a ser o rapaz que ela nunca mais queria ver, trocou
o amor por ódio e mentalizou-se que a partir daquele dia era só ela e John.
Talvez ela ainda o amasse, mas com toda a mágoa que ele a obrigara a sentir a
partir do seu erro, esse sentimento carinhoso estava quase apagado.
Para Jordan, estava
tudo sobre controlo. Ele ainda chegou a enviar uma carta a dizer que estava
tudo bem, que ainda faltava mais um ano e uns mezinhos, mas quem a recebeu,
foram os seus avós e Kelly nem disso teve conhecimento.
Lá se passaram os dois
anos e, quando Jordan voltou, foi a correr para casa, para abraçar o filho e a
namorada. Ao chegar à quinta dos avós, ele teve a informação de que Kelly tinha
ido embora porque estava muito magoada. Afinal não estava tudo sob controlo, até
um dos seus cães, Simba, já tinha morrido, pois estava muito doente.
Jordan não sabia o que
fazer. Tomou um banho e foi à procura da namorada. Encontrou-a nas traseiras da
casa da mãe dela a brincar com o filho. Olharam-se e, de repente, Kelly
encheu-se de raiva e começou a chorar.
- Sai daqui! Já!
- Mas, Kelly eu não
queria que isto acontecesse. Não queria que te sentisses trocada ou abandonada.
- Eu não quero saber.
Eu só quero que saias. Só pensas assim agora? Quando foste embora, sem dar
justificações, eu tive que sobreviver sozinha E sabes que mais, eu nunca mais
te quero ver, nem sequer ouvir falar de ti! E mais, o John fica comigo e não
quero discussões. Podes ir, vai-te embora!
- Mas, Kelly, desculpa.
- Eu não te vou
desculpar, esquece, desaparece da minha vista!
Concluindo, ele foi-se
embora, mas não desistiu dela. Tendo passado tantos anos com ela, já a conhecia
bem. Ela tinha um coração doce demais para ser tão fria e ele amava-a muito. Apesar
de ter feito o que fez, ele não desistiu e é por isso que, neste momento, está
à porta do restaurante onde ela trabalha. Ele está com uma flor na mão a pisar
pétalas de rosas vermelhas, atrás dele estão duas pessoas vestidas de branco,
segurando duas velas acesas. Pediu para que ela viesse cá fora e declarou-se.
- Kelly, já te conheço há
nove anos e até hoje a luz dos meus dias, a força que sempre me levantou foste
tu. Sabes, tudo começou no dia 18 de maio quando eu, sem intenção, te derrubei.
Logo de início fui um estúpido, porque nem nesse dia te ajudei a levantar, mas
mesmo assim deste-me a oportunidade de te conhecer. Os teus olhos cor de mel, o
teu cabelo encaracolado, o teu feitio, tudo em ti é perfeito, perfeito para
mim. Encantas-me com esse teu sorriso. Eu lembro-me do teu vestido rosa,
lembro-me de todo o carinho que me davas, de todas as mensagens trocadas,
lembro-me dos nossos estudos, brincadeiras e aventuras. Até me lembro do dia em
que me deste a notícia de que íamos ser papás. Temos um filho lindo e eu também
tinha uma namorada maravilhosa. Mas, eu fui criança, fui orgulhoso e perdi
tudo, só restaram memórias…
Mas eu ainda te amo,
melhor eu sempre te amei, eu quero acordar ao teu lado, quero voltar a receber
carinho da tua parte, porque eu preciso de ti. Eu só preciso de mais uma
oportunidade, eu preciso de te fazer feliz, preciso do teu sorriso para viver!
Perdoas-me? Kelly, queres
casar comigo?
As velas foram
apagadas, ele baixou a cabeça e estendeu a mão para lhe entregar a rosa.
No meio do silêncio
ouviu-se uma voz doce.
- Sim, eu quero casar
contigo. Eu amo-te muito Jordan e também te odeio por causa de todas as asneiras
que fizeste. Contudo, tudo isso não consegue apagar o sentimento que tenho por
ti.
Nesse preciso momento,
pelo rosto de Kelly, começaram a correr lágrimas de alegria e uma vez mais se
ouviu a sua voz.
– EU AMO-TE JORDAN!
Inês
Rafaela, 8.º A
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