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terça-feira, 2 de setembro de 2014

O milagre do bosque - Texto narrativo concorrente concurso Ler & Aprender

Era uma vez uma menina chamada Íris, tinha cabelos de um bonito castanho avelã e uns olhos verdes que faziam inveja a qualquer pessoa. Durante o dia, era igual a todas as outras meninas da sua idade. De manhã levantava-se, tomava o pequeno-almoço e ia para a escola, brincava com os amigos e fazia-os rir. Quando chegava a casa, comia uma taça de cereais, fazia os trabalhos para o dia seguinte, treinava basquetebol, tomava banho e depois jantava com os pais. Seguidamente lavava os dentes, lia duas páginas de um livro e adormecia.
A vida de Íris não podia estar a correr melhor. Era uma boa aluna, tinha amigos e família que a apoiavam e a sua equipa de basquetebol estava a ter ótimos resultados. Porém, num dia normal de escola, a mãe interrompeu a aula para a ir buscar, facto que nunca tinha acontecido. A sua querida avó tinha então falecido e Íris estava devastada. A sua avó era quem ouvia as suas aventuras e quem lhe dava os melhores conselhos e a rapariga já não imaginava a vida sem ela. Sentia-se sozinha e, de um momento para o outro, deixou de ser aquela rapariga otimista, divertida e alegre que todos conheciam para uma menina introvertida e indefesa.
O dia do funeral foi um dia muito triste para a família e Íris não se sentia muito confortável para falar nesse assunto, portanto decidiu ficar um tempo sozinha a recordar momentos passados com a avó e a rever fotografias antigas. Foi então que encontrou um colar. Era um fio de prata muito invulgar com uma pedra pendente muito brilhante de cor azulada, o que lhe chamou a atenção. Era igualzinho a um colar que Íris tinha visto na capa de um filme, que tinha ido ver com os amigos e começou a pensar que talvez não o tivesse encontrado por acaso. A menina guardou-o, mas rapidamente se esqueceu dele.
Os dias foram passando e o vazio no seu coração começava a sarar. A rapariga tímida e introvertida voltara ao normal assim como a sua rotina. Ou quase. Já não lia duas páginas de um livro antes de adormecer, escrevia sim duas páginas de uma história para conseguir dormir. Era como se durante a noite vivesse num mundo à parte, no seu próprio mundo, e era a altura do dia em que se sentia melhor, porque ninguém podia estragar aquele sentimento de liberdade, ninguém a podia julgar por ser ela própria.
Entretanto, fizera um ano que a avó partira para o céu e Íris foi comprar as suas flores preferidas para a sua campa. Como já era habitual, ficou por lá a falar com a sua conselheira e pela primeira vez reparou que no seu nome, Cândida, a letra 'C' estava com menos relevo do que as outras. Nesse momento, lembrou-se do colar que encontrara junto das coisas da avó. Encaixava perfeitamente naquele espaço. Até podia ser mais uma das suas paranoias mas, intrigada, voltou lá no dia seguinte com o colar e, quando o encaixou no C, este brilhava mais que raios de sol. A luz crescia cada vez mais e mais, até que de repente formou uma espécie de portal. Íris, que não dizia não a uma aventura, deu um salto lá para dentro e entre rebolões e viravoltas acabou por aterrar num bosque. Era um espaço que curiosamente não lhe era estranho e não demorou muito tempo a entender que era exatamente o bosque que descrevera na sua história. Tal como ela dizia, “era um bosque verde mas castanho, calmo mas agitado, mágico mas misterioso”. A rapariga sabia todas as criaturas que lá viviam e, se fosse mesmo a sua história, sabia também todos os segredos. Dirigiu-se então à árvore mãe, uma árvore que tinha o dom de ajudar a natureza na sua purificação e, ao contrário do que estava à espera, a árvore estava com os ramos virados para baixo, sinal de tristeza e preocupação. O 'coração' do bosque não podia estar em baixo de forma, caso contrário poria em risco todo o bosque.
Íris não estava a perceber, tinha criado o seu mundo sem imperfeições e, pelo que a árvore lhe tinha dito, não era um mundo tão perfeito assim. De alguma forma, os humanos queriam conquistar a árvore mãe pois a partir dela conseguiam voltar à vida. Sim, voltar à vida! É que os humanos do bosque eram almas que já tinham gozado a vida e, entre eles, a avó Cândida!
Ao ouvir isto, Íris não conseguia acreditar. 'Como podia a minha avó querer deitar abaixo o Meu Mundo? Seria capaz de voltar à vida e acabar com a minha?' pensava ela cada vez mais incrédula.
Apesar dos perigos que caracterizavam o bosque, a rapariga foi ao encontro da avó, sem pensar duas vezes. Íris tinha criado vários tipos de pássaros: os pássaros inteligentes, os fortes, os faz-tudo e ainda os pássaros cantores. Cada um tinha a sua função, mas juntos eram imbatíveis. Os pássaros cantores reproduziam sons e, por saber disso, Íris chamou pela avó. Não ouviu resposta. Voltou a chamar, mas não ouviu senão silêncio. Junto com este silêncio veio também uma flor em forma de concha e trazia uma mensagem:

“Querida neta,
Vejo que encontraste o colar. Antes de mais quero que saibas que estou do teu lado e nada vai mudar isso. Vou lutar por este bosque até ao fim, custe o que custar. Tentei tornar isto mais fácil mas não tenho forças, apenas medo. Mantém-te forte e, por favor, não desistas agora.
Sempre do teu lado, C.”

Esta mensagem fez com que Íris tivesse ainda mais vontade de vingar o bosque e começou desde logo a planear uma estratégia. Não podia passar dessa noite ou podia ser tarde demais. Juntou todos os animais à volta da árvore mãe, para rezar. Porém, as preces foram interrompidas por barulhos de máquinas e de vozes, eram os humanos. A agitação dos animais era imensa e o medo ainda mais, mas fé era o que residia em abundância nos seus corações. Os humanos aproximavam-se a passos velozes, e determinados que eles eram! Os animais, movidos por uma força interna, uniram-se em volta da árvore e deram as mãos, patas, asas, caudas e, qual foi o espanto dos humanos, quando começou a surgir um escudo protetor em forma de cúpula em torno da árvore. Estes ainda tentaram combater os animais mas nada os movia. Íris, sempre fiel, tinha conseguido salvar o bosque e fez os humanos prometer que não voltariam a desafiar a força animal.
Tal como Íris, temos de lutar pelos nossos objetivos e acreditar que somos capazes de os concretizar para construir um mundo melhor. Mesmo que a vida não esteja sempre a sorrir para nós, não vai estar sempre a chorar. Sendo assim, desistir deverá ser uma palavra e um ato a excluir do nosso dia a dia.

Ana Sofia Monsanto, 9º C

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