A
torrente de água brota dos meus olhos incontrolável! Agora, não sei mais o que
fazer. Portanto, deixo que deslize e se desfaça no meu rosto dilacerado pela dor.
Dor que já nem compreendo… Já nem sei de onde provém.
Quem me
dera ser outra vez criança. Poder estar outra vez protegida pelo calor dos
braços aconchegantes da minha mãe e pelo sorriso terno e bem-disposto do meu
pai. Poder sonhar com o mundo encantado dos brinquedos e da fantasia.
Tudo é
tão diferente, quando se é crescido.
Eu era
uma menina igual a tantas outras. Brincava com as minhas Barbies, os meus jogos
de empilhar, de encaixar. As minhas épocas prediletas eram o Natal e as férias
grandes. Nessa altura, o meu sorriso parecia ainda ser mais radiante. O Pai
Natal visitava-me todos os anos durante a noite de Natal. Eu bem tentava
esperá-lo mas, quando chegava a hora, o sonito apertava de tal maneira que nem
o tilintar dos sininhos das renas me faziam regressar do mundo do sono e dos
sonhos. Quando finalmente chegava a manhã, eu corria para junto da lareira,
onde o meu sapatinho já estava recheado de belos presentes, que eu abria ávida
por descobrir as surpresas desse ano.
No
verão, adorava construir belos castelos de areia e nadar nas límpidas e tépidas
águas do belo oceano. Se não estivesse à beira-mar, divertindo-me na dourada
areia ou passeando-me por entre o emaranhado das pessoas que povoam as praias,
então a piscina era o meu lugar de eleição, ainda o é, pois nela eu solto as
minhas energias e o meu eu mais profundo. Aliás, liberto-me!
No
infantário era uma alegria constante, apesar de ansiar a chegada do pai ou da
mãe, gostava da companhia dos meus amiguinhos. Como era bom brincar, saltar,
jogar à apanhada, ou ir para o parque infantil. As festas, em que as famílias
podiam assistir, também eram tão bonitas. Embora, às vezes, tivessem palhaços
que nos assustavam, não era por mal, mas metiam medo por estarem mascarados.
Recordo
com muita saudade o tempo em que o meu pai ou a minha mãe vinham para o meu
quarto ler-me a historinha antes de dormir. Isso não terminou, ainda continua,
mas não da mesma forma. Claro, que agora sou eu que as leio. Daí as saudades
que sinto desses tempos maravilhosos. As histórias também eram outras,
evidentemente diferentes e para crianças. Todavia, mantenho esses ternos
momentos em que pego no livro, esse eterno tesouro, e me deixo transportar para
o seu mais profundo âmago. Em que me envolvo na sua história e viajo nas asas
da fantasia para o mundo de outras pessoas.
Depois
chegou a escola. Não era difícil. Tudo corria bem, aprender a ler e a escrever,
a somar, a subtrair, a dividir e a multiplicar. Os planetas, o aparelho
digestivo, auditivo, entre outros. Enfim, tudo queríamos saber. Contudo, a
facilidade foi-se desvanecendo e deixou de ser algo que parecia inato como o
que aprendemos na infância.
Quando
aprendi a andar? A nadar? Não me lembro. A andar de bicicleta? Foi difícil?
Não! Quando aprendi a andar de patins foi difícil? Também não! Enfim, mas agora
que penso no meu futuro, isso sim. Isso está a ser tão difícil. Sinto tanta
insegurança. Oiço as notícias. Leio os jornais. Vejo na televisão. E nada,
mesmo nada me traz um pouco de esperança.
Com o
tempo, a responsabilidade foi aumentando. O estudo, a necessidade de ter boas
notas, entrar na universidade, ter um emprego. Mas, que emprego? Se há tanto
desemprego! Que curso tirar? O X? Não tem saída. E o Y? Já estão os lugares
esgotados. E se for o Z? Esse, então, ainda está pior!
Parem!
Já chega!
Não
consigo!
Estão a
baralhar-me.
Então,
desfaleço e não consigo ouvir-me a mim mesma.
Tenho
de reagir. Sei disso. Volto a lembrar tempos idos. Esses em que o futuro era
algo belo. Em que tudo era bom, bonito. Fácil! Podia ser tudo e tudo era tão
simples. Como era bom ser pequenina! Era mesmo bom.
Sempre
que íamos a algum lado e via um novo profissional a trabalhar, já me via no meu
futuro. Fosse ele um médico, ou um balconista. Mas o mais importante é que o
meu ideal estava ali e eu era feliz!
Como
qualquer criança, a simplicidade estava presente no meu pequeno querer e no meu
sentir. Não compreendia a realidade dos factos. Quando eles se me apresentaram
nus e crus, foi um choque brutal! A minha consciência acordou como de um transe
hipnótico e fez-se luz.
Mas, se
a torrente de água que brota incontrolável dos meus olhos não parar? Não sei
mais o que fazer e se deixo que deslize e se desfaça no meu rosto dilacerado pela
dor. Dor que vejo e compreendo e sei de onde provém.
Como
sei que já não posso ser outra vez criança.
Nem
posso sonhar com o mundo encantado dos brinquedos e da fantasia, embora possa
estar outra vez protegida pelo calor dos braços aconchegantes da minha mãe e
ter o sorriso terno e bem-disposto do meu pai.
Então,
o que me resta fazer?
Lutar!
Pegar nessa palavra que quis esquecer e que se diz esperança, e gritá-la bem alto, vezes sem fim. Até ver se entra bem
dentro de mim, pois se eu mesma não confiar, quem o fará por mim?
Dizem
que somos nós as mulheres e os homens de amanhã. Então, temos de ser nós a
construir o nosso futuro. Temos de ser nós a fazer por nós. Sou eu que tenho de
fazer por mim. Como tenho de lutar por aquilo que pretendo e vencer.
Sei que
tudo depende de mim. Do meu querer, do meu esforço e da minha força. Dessa
força interior que nem sempre tenho. Mas, que quero ter!
Os
Homens de hoje sabem que têm de lançar os alicerces da construção do nosso
futuro. Têm de lançar sementes sãs, para não hipotecarem o amanhã com uma
podridão avassaladora.
Os
atuais governantes têm de desenvolver a economia, pois, se esta não se
desenvolver, as condições de vida das populações degradar-se-ão e o nosso
futuro ficará insustentável.
Eles
sabem que não podem comprometer o futuro das próximas gerações, têm que pensar
na sustentabilidade! Têm de respeitar os seres humanos e, muito
particularmente, respeitar-nos a nós, os jovens.
Não se
esqueçam: “Nós iremos ser as mulheres e
os homens de amanhã!”
Depois
de tudo, tenho de acreditar e de lutar para vencer!
Acredito
na esperança!
Adriana Matos, nº 1, 10º Ano, Turma A
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