A Nadezhda, uma jovem
russa, desde que chegou à escola, tornou-se indiferente para muitos colegas,
mas para outros não e eu bem vi o sorriso que estava espelhado nos seus rostos.
É que ela tinha uns belos olhos azuis e uns longos cabelos loiros e, claro,
isso atrai logo a atenção dos rapazes. Quanto a mim? Eu adoro fazer novas
amizades e por isso, tentei aproximar-me dela, porém a diferença linguística
não nos permitiu de início comunicar.
Eu, a minha irmã e
mais três amigas, como sempre fomos e somos persistentes, usámos todos os meios
que tínhamos ao nosso alcance para dialogar com ela e aos poucos, fazendo
gestos, dizendo palavras simples e apontando objetos e pessoas, lá fomos
comunicando. Tivemos também o precioso apoio por parte de Aniya, colega que
está em Portugal desde o 1º ciclo e que lá nos ia servindo de intermediária e
assim, conseguimos ir comunicando com a Nadezhda.
Por outro lado,
ajudava em muito o apoio que estava a ser prestado pela Dra. Maria Pires,
professora de Português, que lhe estava a dar um acompanhamento muito grande na
nossa língua.
A Nadezhda sempre nos
pareceu uma adolescente alegre, embora no seu olhar houvesse algo de turvo. Bem
que a questionávamos, mas ela dizia “serem saudades de meu país!”.
Claro, como não
sentiria saudades do seu país?! Ela fora arrancada às suas origens, à sua
cultura, às suas tradições, à sua família, muito embora tenha vindo com os seus
pais e irmã. Mas os avós, primos, tios e até os amigos tinham ficado nesse país
distante.
O nosso papel, enquanto
novos amigos dela, era por isso muito importante! Tínhamos mais do que
acolhê-la bem, como fazemos a qualquer novo colega. A ela pretendemos
ensinar-lhe tudo sobre a nossa cultura e ensinar a gostar dela. Não é fazer com
que ela esqueça a dela. Isso nunca! Mas fazê-la ver que somos um povo
acolhedor, simpático e com quem ela pode contar.
Fazê-la ter
esperança, como nos disse que significa o seu próprio nome, que o futuro lhe
venha a sorrir. Para isso, estamos cá nós. Esse é o significado da amizade!
Lembrámos assim,
apesar de já estarmos a deixar de ser crianças, um dos seus direitos
internacionais e fundamentais das crianças e que, por acaso, é o último: “Deve ser educada dentro de um espírito de
compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e fraternidade universais
e com plena consciência de que deve consagrar as suas energias e aptidões ao
serviço dos seus semelhantes.”.
Sofia Pedrosa, O Ciclista
Nota: O Ciclista celebra,
deste modo, o Dia dos Direitos Internacionais da Criança, dia 20 de novembro.
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