O Dia
Mundial da Bengala Branca assinala-se no dia 15 de outubro, e é o símbolo de
independência, liberdade e confiança das pessoas cegas.
Foi estabelecido pela Federação Internacional de Cegos em 1970 e tem como
objetivo reconhecer a independência destas pessoas e a sua plena participação
na sociedade, na
medida em que a sua utilização permite ao deficiente visual movimentar-se
livremente.
Tendo assim em conta esta comemoração, foi-me
pedido que elaborasse um texto que retratasse uma situação enquadrada neste dia
e assim o fiz!
A minha vida mudou!…
Antes daquele
trágico dia, João era um jovem feliz, tinha amigos e claro, ia à escola. Podia
ver o amanhecer, o pôr do sol, a chuva a cair, e o seu tão adorado mar.
Tudo
aconteceu quando, num dia de brincadeira e distração, ele e os seus amigos
decidiram ir de carro para a praia. A distração dos rapazes era tanta que
afetava o condutor, também jovem, que acabou por se envolver nos risos, no
bater de palmas e no cantar dos seus passageiros. Claro que teve um atitude
incorreta, pois deixou de ver a estrada, bem como os carros que vinham, não
tendo assim a noção do que se iria passar a seguir... Um carro, de certo modo
com bastante velocidade, entrou de rompante na estrada e foi bater no carro de
João e seus amigos, deixando o veículo completamente desfeito e a saúde dos
seus passageiros também.
Umas horas
depois, já no hospital, soube-se a triste notícia, houve muitos arranhões,
muitos ossos partidos e houve um dos rapazes que ficou cego. E esse rapaz era o
João.
Quando
regressou a casa, o jovem estava arrependido daquele dia, daquela hora, daquela
brincadeira, e pediu para que tudo voltasse atrás. Mas, naquele momento, nada
podia fazer e na verdade, não voltaria a poder ver a cara dos seus pais, dos
seus irmãos, da sua família. Não poderia voltar a ver nada! E, de repente, uma
certa raiva e frustração começou a correr-lhe nas veias e chorou, chorou até
conseguir pôr tudo cá para fora.
Nos dias que
se seguiram, João teve de deixar a sua vida normal, e juntar-se a uma
associação de jovens invisuais, e aí conheceu excelentes pessoas que o ajudaram
com tudo, lhe ensinaram muito... João passou a conseguir usar mais os seus
outros sentidos, para reconhecer as pessoas, os objetos, e a comida e teve de
reaprender a ler. Na sua vida, passou a fazer parte uma outra língua, o
Braille, utilizada pelas pessoas com a mesma deficiência para conseguirem ler,
através do tato.
Mais meses e
dias passaram, e a raiva e a frustração de João começavam lentamente a esvair-se,
pois começou a aperceber-se que não era assim tão difícil de lidar com o facto
de ser cego.
Ao contrário do que as pessoas pensam, os
cegos não são seres incapacitados. Podem fazer tudo na perfeição, e talvez melhor
que as pessoas chamadas "normais".
João fazia a
sua vida normalmente, podia andar na rua graças à sua bengala, que o "conduzia"
para todo o lado, e também graças ao seu cão-guia Scooby, um labrador preto,
treinado para ajudar pessoas com os mesmos problemas que ele.
No dia em que
fez um ano em que o acidente se deu e em que a sua vida mudou, o João resolveu
fazer uma avaliação do seu momento de mudança, os prós e os contras. Após esse
momento de reflexão, chegou à conclusão que, embora tivesse sido um acidente
terrível e não pudesse nunca mais voltar a ver o Mundo à sua volta com os seus
olhos bem como a sua família, reconheceu que afinal, a partir desse incidente,
passou a tirar partido de outras sensações que nem sabia ter tão apuradas.
João pode ter
deixado de conseguir ver como qualquer um de nós o que o rodeia, mas passou a
conseguir cheirar, ouvir e tocar, ou seja, passou a “ver” o Mundo à sua
maneira.
Ana Patrícia Fernandes, O Ciclista
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