Parabéns, João Farinha
Margarido Chamiço, pela Menção Honrosa Alcançada!
Os Velhos não Amam
Os velhos não amam, é
uma narrativa baseada em factos reais, que acontecem nesta sociedade rude, em que
tantas vezes as pessoas que dela fazem parte, se escondem atrás de máscaras
imaginárias onde cabe toda a hipocrisia cultivada ao longo de vidas
desinteressantes e desprovidas de amor por alguém.
Viver assim, neste
registo falso, é óptimo para essas pessoas, para assim poderem apontar o dedo a
quem supostamente “pisa o risco” e desafia o pensamento tacanho tido como
correcto.
Talvez sejam os
jovens quem melhor entende esta minha explanação. Todos nos lembramos
certamente, de como é vibrante ser jovem e de como o amor nos faz correr, nos
faz ter suores frios, nos acelera o coração e até nos ensina a descrever
sentimentos que vamos descobrindo sem quase darmos por eles. Uns mais que
outros, todos passamos por essa euforia primaveril de sentimentos que desabrocham
em nós como em qualquer jardim que fervilha de vida repleta de cores.
Bem, mas o Outono
também é uma estação do ano em que as cores se caldeiam e tomam conta da
paisagem até ao infinito. Pode não haver tantas flores, mas algumas persistem.
Algumas folhas enrugam um pouco, mas outras resistem às agruras do tempo chovedio.
E quem são “os velhos
que não amam”? Esta censura corrosiva é feita, não se julgue que apenas a
pessoas muito velhas. A pessoas com sessenta e até menos anos e que nem
conhecemos, e que têm por hábito sentarem-se bem juntinhas num banco de jardim
ou numa gare de estação, e em que haverá, provavelmente o braço de um deles que
se esgueira para o ombro do outro, alguém ainda mais velho aproxima-se e com a
maior desfaçatez, diz isto: “vocês já não têm idade para isso!”
Um casal na casa dos
sessenta, tomam café juntos no bar de uma estação de Caminhos de Ferro.
Conversavam em voz baixa, entreolhando-se com cumplicidade como quem tem muito
mais para dizer, mas cujos recados apenas os olhos os sabem dar.
Os altifalantes
anunciam a entrada eminente de um comboio na linha número um, sentido sul
norte:
- “O comboio intercidades proveniente de
Lisboa Santa Apolónia e com destino ao Porto, dará entrada na linha número um
dentro de breves instantes.”
O casal na casa dos
sessenta, abraçam-se resolutamente e colam os lábios com fulgor num fugidio beijo,
que para mais não dava o escasso tempo de quem subia para a carruagem do
comboio. A duração do tempo, é inclemente para com aqueles que, deixam no cais,
alguém que gostariam de levar consigo, mas também para quem, ficando, se
resigna de coração plangente ao penar da separação inevitável.
A mulher ia embarcar para uma semana de
separação a que obrigavam os afazeres familiares e a necessidade premente do abrandar
das saudades dos netos, que nestas idades, também embaraçam os dias.
Sentadas a uma das
poucas mesas do café da Estação, duas mulheres maduras estavam em segredinhos e
os seus olhos penetrantes pousavam em toda a gente como se fossem olhos de
repórter. Nem o mais ínfimo dos pormenores escapava a essa voracidade felina,
de quem observa tudo o que se passava em redor, sem que nada lhes fizesse, nem
por um segundo, derivar o olhar que as fixava ao casal na casa dos sessenta. No
momento do beijo, uma delas balbuciou baixinho e cuidadosamente: “- aquilo é
arranjinho!”. O casal manteve-se plácido, saíram de mão dada dirigindo-se à
plataforma, e claro, não puderam evitar uma galhofa discreta daquele episódio
caricato, já que nestas coisas, o riso vem depois e é sempre o melhor remédio.
Claro que, se fizermos de cada episódio que nos é dado observar, ou até viver,
por mais anedótico que ele seja, uma lição de aprendizagem para a vida, o que
podemos retirar deste, é o encontrar de uma realidade que nos transporta para a
mentalidade mesquinha de parte das nossas gentes: “é óbvio” que duas pessoas na
casa dos sessenta que se beijam em público, aquilo não pode passar de um “arranjinho”.
Amor? Qual amor? Beijar alguém apenas porque se ama, é algo que aos olhos de alguns
“já não é próprio” de pessoas de certa idade. Deve ser por isso e também por
algum cinismo, que muitos filhos impedem ou tentam impedir, os pais de se
relacionarem com alguém quando já são “velhotes”. Podemos então, inferir daqui,
que quem reage desta forma, já não sabe o que significa ter uma vida amorosa? E
que para lá das paredes das suas casas, já não se tem idade para essas coisas?
É assim que está convencionado nesta sociedade, mais censora dos comportamentos
afectivos dos mais velhos, em que tudo pode ser feito às escondidas e em que um
beijo não pode ser dado na rua sem parecer “arranjinho”. Quantos casais de
alguma idade, se beijam com alguma frequência ou vêem televisão de mão dada?
Muito poucos, certamente! E isto, nem sequer significa falta de afecto,
significa sim que é assim que as coisas “devem” funcionar porque é assim que a
maioria pensa e assim procede. Aliás, quem de entre nós nunca reparou, que os
casais mais velhos, em passeios pela rua, ou nos afazeres da vida, raramente
caminham lado a lado, mas sim um atrás do outro separados por vários metros?
Numa manhã amena de
Agosto, seriam umas dez horas - o homem
de sessenta e tal, chamemos-lhe assim porque se escusam os nomes por serem
desnecessários à narrativa, chegara cedo ao local que combinara com a mulher. Ela
chegou alguns minutos depois. Vinha no seu automóvel que estacionou por ali.
Saiu do carro e observou em redor, tentando iludir a calma aparente que lhe
transparecia da alma em sobressalto. O homem viu-a chegar, e ambos caminharam demoradamente,
quase pé ante pé em direcção um do outro, fazendo render o momento, como quem
tem todo o tempo do mundo. Em cada um dos seus rostos, havia um daqueles
sorrisos indisfarçáveis, daqueles que ruborizam o semblante e contagiam as
pupilas e as incendeiam como se fossem sois.
É comum dizer-se que
os olhos são o espelho da alma, mas é nestes momentos tão diversos que essa
realidade é posta à prova com a evidência máxima que confirma a veracidade dessa
expressão hoje em dia tornada “lugar-comum”.
Eles avizinham-se timidamente,
e a alguns centímetros um do outro, fitaram-se por breves instantes, até que,
como por instinto ou por prévia combinação, ambos deram um passo em frente e
entregaram-se nos braços um do outro, esquecidos num beijo sôfrego e num abraço
que prometia ser interminável.
A manhã, apesar de
amena, era um pouco fresca. Ela resguardou uma das suas delicadas mãos no bolso
do casaco dele, onde duas mãos se encontraram, como se também elas falassem ou
tivessem a capacidade de prever ou até de proporcionar esse encontro.
Foi assim que, pela
primeira vez, caminharam de mão dada, e assim subiram pela ampla escadaria
granítica que leva à entrada do café restaurante, onde, pela primeira vez na
vida deles se juntaram na cumplicidade de saborearem juntos um café. Depois desse
dia, repetiram vezes sem conta, todos os passos e todos os gestos desse dia memorável
para eles. Voltaram vezes sem conta ao mesmo lugar, subindo a mesma escadaria,
sempre de mãos dadas e resguardadas do frio no bolso do casaco dele, obedecendo
a um ritual impossível de interromper.
Casais de pombos iam
e vinham num frenesim imparável. Esvoaçavam em redor, como se lhes fosse
permitido entender os sentimentos humanos, quando o amor os aproxima como ali, e
pouco importa se outros acham que eles “já não têm idade para essas coisas”.
Os sinos da Igreja
Matriz repetiam chamamentos à celebração dominical. O nosso par na casa dos
sessenta, entraram na Igreja de mão dada e sentaram-se lado a lado.
Mantiveram-se imóveis durante um tempo longo de introspecção, como se isso
estivesse previamente acordado. À saída foram a uma banca de rua e compraram
tremoços, que iam comendo enquanto caminhavam descontraídos lado a lado como se
fosse a milésima vez que o faziam.
Haviam decorrido seis
meses desde o dia em que num simples acaso iniciaram aquilo que, julgavam eles,
não seria mais que uma simples troca de palavras na Internet. Durante um tempo,
apenas visitavam o perfil um do outro sem nada dizerem. Havia ali um fascínio
mútuo que os levava à quase obrigação de se visitarem virtualmente em cada
serão.
Um dia: - Olá José!
Quer dizer-me alguma coisa?
Esta pergunta tão
simples foi a chave mestra que certo dia abriu a primeira frincha de uma “porta
fechada a sete trancas”, e que desde então, não mais se haveria de fechar.
Foram aliás duas as portas que essa inocente pergunta teve o condão de
franquear definitivamente.
- Bem, eu querer até
quero, mas, na verdade, agora que me pergunta, confesso que não sei o que lhe
quero dizer! Podemos apenas conversar um pouco? - Claro que sim! Respondeu Vitória.
A partir desse instante, desencadeou-se o inicio de um “desassossego” amoroso entre
aqueles dois seres. Sim, que o amor tem destas surpresas. Penetra o coração das
pessoas sem nenhum aviso prévio. Nada mais seria igual a antes nas vidas deles
e seria tal a reviravolta, que, por vezes, nem eles entendiam muito bem o que
lhes acontecera.
A conversa entre os
dois foi fluindo, tão descontraidamente que no dia seguinte, já eram como que
inseparáveis amigos. Uma amizade de um dia só, que se enraizava a cada momento
e em cada troca de palavras, sem que algum deles tivesse a clarividência
suficiente para entender o que lhes estaria a acontecer, ou talvez, nem
tivessem a mínima vontade de entender fosse o que fosse, porque o que sentiam era
apenas que tudo estava muito bem assim e não precisava de ser entendido.
- Vitória, queria
pedir-lhe se podíamos tratar-nos por tu!
- Mas claro que sim
José. Afinal já somos “visita” frequente um do outro, salvo as devidas
proporções claro, já que cada um se encontra no seu cantinho, apesar do ecrã
nos proporcionar uma quase realidade, ela não deixa de ser apenas virtual. Mas
sim, vamos tratar-nos por tu.
A cada novo dia, a
cada novo serão de conversa teclada, tornava-se mais e mais evidente que nada
voltaria a ser como dantes. Passaram-se dias, depois semanas, e até meses.
Chegou por fim um tempo em que ambos estavam certos de que um encontro amoroso
entre os dois, seria, mais tarde ou mais cedo inevitável. Teria que acontecer e
estaria cada vez mais eminente o dia em que tal adviria. Ainda assim, durou
seis meses esta espécie de namoro à distância alimentando o desejo do “pecado”.
Os
tremoços iam reduzindo dentro do saco, enquanto diminuía a distância que os
separava do quarto de hotel, onde iriam libertar o desejo imenso da partilha, a
eufórica descoberta da intimidade, que se escondia por detrás da infinda
apreensão que antecede momentos como este. Entraram num supermercado e, pela
primeira vez, fizeram algumas compras para um almoço simples que iriam
partilhar no próprio quarto, e que desde esse dia, passou a ser trivial nas incontáveis vezes que vieram a seguir. Eram almoços totalmente
indescritíveis, não tanto pelo que comiam e bebiam, mas sim pelo clima
descontraído daquele apaziguamento, daquele refrear do clímax de todas as
emoções, antes levadas demoradamente ao limite.
Existe
apenas uma idade para sermos felizes, apenas uma época na vida
de cada pessoa em que é possível sonhar, fazer planos e ter energia bastante
para realizá-los, a despeito de todas as dificuldades e obstáculos. Uma só
idade para nos encantarmos com a vida, viver apaixonadamente e desfrutar
de tudo com toda intensidade, sem medo nem culpa do prazer.
Fase
dourada em que se pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e
semelhança, vestir-se com todas as cores, experimentar todos os sabores e
entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor algum. Tempo de
entusiasmo e coragem em que todo o desafio é mais um convite à luta
que enfrentamos com toda disposição de tentar algo novo, de novo e de
novo, e quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz nas nossas vidas chama-se
presente e tem a duração do instante que passa.
Mensagem deixada no Skype
Meu Porto de Abrigo …….
Meu querido ( José) Bom Dia !!!!!!!!!!! Manhã cedo, levantei-me, vim ao
computador para te deixar algumas palavras escritas. Estou muito grata por te
ter conhecido, por te amar, por ter conseguido acreditar que era possível amar
de uma outra maneira.
Amar é viver uma nova história todos os dias, a cada por do sol, e a cada
renascer, toda a conquista recomeça, não para provar que é o melhor, mas sim
para demonstrar que é especial!
Foi um amor para valer que a vida fez renascer de um coração que queria
viver. Foi quando eu te conheci sem perceber. És tudo quanto eu procurava e
queria ter, és o meu mundo, a minha alegria, o meu ser que completa a minha
vida de carinho e prazer.
Porque é que eu sinto que és o meu porto de abrigo?
- Amar é proteger, é acreditar, é construir, é sonhar com os pés na terra.
Amar é planear. E depois trabalhar em conjunto para que os planos e os sonhos
se realizem. Nenhum amor sobrevive sem construção, recostado à sombra da
bananeira, porque cada história de amor tem a sua própria vida, a tal terceira
entidade na qual tanto acredito. Se não cresce e se desenvolve, se não se
transforma nem amadurece, acaba por morrer. Para construir é preciso
acreditar.”
Eu acredito no nosso amor !!!!!! Acredito que temos uma Vida pela
frente……….
Beijinhos, meu adorado (…….)
2ª MENSAGEM:
Eu tenho um príncipe.................
O meu príncipe não veio até mim montado num cavalo branco, mas fez-me
sorrir, aguenta as minhas crises, lutou por mim.
O meu príncipe não tem o cabelo super arrumado, a roupa muito engomada, nem
um sapato a brilhar. Mas ele tem o sorriso mais encantador. O meu príncipe não
tem um escudo e uma espada, mas ele tem o abraço mais aconchegante. Ele tem o
poder de fazer os problemas fugirem com a sua presença, de me fazer rir com o
seu feitio brincalhão e engraçado de ver a vida.
Ele sabe exactamente do que eu gosto e do que não gosto, ele conhece-me em
público e quando estamos sozinhos. Ele abraça-me firme e demora tempo para me
soltar, transmite-me segurança e confiança. Segura a minha mão com a sua mão forte
como se fosse para eu não me perder...........
O meu príncipe não mora num castelo, não usa coroa, não tem cavalo branco, mas ele é perfeito para mim .........
O meu príncipe não mora num castelo, não usa coroa, não tem cavalo branco, mas ele é perfeito para mim .........
Voltei aqui para concluir "história" do meu Príncipe
...............
Assim ................. escrevo o seguinte: -
Quando estamos longe um do outro, algo dentro de mim grita por ele. Pelo
seu cheiro, pela sua voz, pelo seu carinho, pelo seu abraço. O meu príncipe é o
meu mundo. Eu, ele e o som da nossa respiração. Lembro-me daquele primeiro beijo,
lento, intenso, apaixonado, especial ....... Calou tudo ao nosso redor,
ensurdeceu os meus ouvidos ........ E só bastou isso para que eu quisesse
repetir todas as vezes que visse os seus lábios mexerem. Adoro a cara séria que
ele faz quando eu o faço.
Esta história não é,
porque não poderia ser, porque seria idiota ou de grande ingenuidade, uma
tentativa der passar a ideia ou sequer acreditar, que a internet é o meio mais
recomendável para se procurar um amor para a vida.
Esta é apenas uma
história baseada em factos verídicos, como já se disse, em que duas pessoas
encontram a felicidade num simples acaso, numa dessas encruzilhadas que a vida
tem, em que muitos caminhos são pedregosos e incertos, mas outros são rectos e
lisos quanto baste, para neles se caminhar lado a lado para lá dos limites do
horizonte.
NOTA: os nomes são
fictícios como convém.
João
Farinha Margarido Chamiço, Centro Qualifica, AEA
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