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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O alienígena

Duarte era um jovem que vivia com os seus pais numa aldeia situada no concelho de Anadia.
Um dia, enquanto passeava com o cão num pinhal, perto de sua casa, deparou-se com um objeto caído na proximidade de um silveiral, totalmente desconhecido e que reproduzia um barulho muito estranho. Quando se aproximou mais, ficou espantado com a tecnologia encontrada naquele objeto, e sobretudo assustado. Decidiu, então, voltar a casa rapidamente. De regresso, não se apercebeu que estava a ser seguido.
Uma vez em casa, para relaxar, tomou um duche demorado. Ao sair do duche, encontrou as suas coisas remexidas e um ser estranho debaixo da cama. Este ser desconhecido tinha parecenças a um ser humano, falava e respirava como tal, contudo, tinha um olhar estranho e uns tiques desconformes. Pelo seu tamanho aparentava ter cerca de uns 12 anos, os seus olhos eram brilhantes e muito claros, pareciam transparentes, e por eles notava-se alguma preocupação que era confirmada pelo seu tom de voz trémula e um pouco rouca. Proferiu algumas palavras, frases que o Duarte nem sempre compreendeu, mas tentou fazê-lo o melhor que conseguiu naqueles momentos. Este ser estranho apresentou-se ao Duarte como um alienígena, e nos seguintes termos:
- Sou um habitante de Europa (Lua de Júpiter) e venho aqui avisar-vos, e de algum modo, impedir o ataque do meu “planeta” sobre vós.
- Mas porquê atacar o nosso planeta? - inquiriu o  Duarte.
- O meu “planeta” tem muita água tal como o vosso, mas está contaminada, pelo que um dos objetivos é aproveitar parte da vossa água para a sobrevivência do nosso planeta. - afirmou o alienígena (Alien).
A conversa durou alguns minutos. Entretanto, todas as suas ideias da existência de vida noutros planetas, e que outrora acreditara, surgiam como relâmpagos na sua cabeça. Pareciam descargas elétricas que o assombravam. Sentiu-se ainda mais perdido no meio de tanta confusão, não só do que o Alien dizia, mas também no que acreditar naquele momento. Sentiu, pois, necessidade de sair dali, como se precisasse de acordar de um sonho.
- Preciso de sair! - exclamou o Duarte.
- Eu vou contigo, estou farto de passar a minha vida fechado. - retorquiu o Alien.
- No teu planeta estás sempre fechado? - questionou o Duarte.
- Só me deixam sair às vezes. - verbalizou o Alien.
De seguida, foram dar uma volta por um jardim que existia por perto. Duarte, por sua vez, observou-o com mais atenção e ponderou a existência de um ser de outro “planeta” na sua proximidade. Na verdade, não notava nele uma grande diferença comparada com o ser humano. De facto, se fosse um extraterrestre, à escala humana, não poderia respirar nem comunicar e muito menos movimentar-se como um ser humano, já que as características do seu “planeta” eram totalmente diferentes das do nosso, nomeadamente a atmosfera, a gravidade, o solo, os materiais no geral, entre outros aspetos e seria certamente um “monstro”, e o pior de tudo é que poderia ser intelectualmente mais evoluído. Parou, então, num café para comer um gelado, pediu o seu preferido, mas logo a seguir o Alien também pediu um e pelo respetivo nome.
De regresso a casa, a ideia de Duarte estar com um alienígena parecia cada vez mais derrotada. Já perto de casa, Duarte ao passar ao pé de uma banca de jornais chamou-lhe a atenção o título de uma notícia de um dos jornais: “Desaparecimento de uma criança de uma instituição …”.
Em casa, Duarte convidou o Alien a ficar mais algum tempo consigo em sua casa e ele aceitou. No momento em que finalmente teve a oportunidade de ficar só, dirigiu-se ao computador e na Internet, encontrou mais informação sobre a notícia do jornal cujo título avistara na banca dos jornais. Qual não foi o seu espanto quando constatou que o seu alienígena era mesmo um ser humano que se chamava apenas João, tinha desaparecido de uma instituição e sofria de problemas mentais. Contactou de imediato a instituição e, passados alguns longos minutos, um grupo de pessoas apareceu para o levar de volta.
Os senhores, que vieram buscar o João, encheram o Duarte de elogios pois, embora criança, ele foi de facto responsável, soube assim respeitar as diferenças por mais estranhas e irreais que elas parecessem, não o maltratou, não o expulsou sem razão aparente e por outro lado, soube ouvir e ajudar. Aliás, tratou-o como um ser humano. Além disso, ao Duarte foi prometido um brinquedo semelhante ao que avistara no pinhal, um brinquedo tecnologicamente evoluído que, embora tenha sido adaptado às necessidades do João, poderia ser utilizado por qualquer pessoa.
O João era certamente um alienígena no seu mundo, mas não deixava de ser um ser humano, com interesses, gostos, necessidades e sentimentos de uma pessoa, pelo que como qualquer ser humano deveria ser tratado como tal.
Todos somos diferentes, embora as diferenças se realcem mais numas pessoas do que noutras.

Rúben Saldanha, O Ciclista

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