Duarte era um jovem
que vivia com os seus pais numa aldeia situada no concelho de Anadia.
Um dia, enquanto
passeava com o cão num pinhal, perto de sua casa, deparou-se com um objeto
caído na proximidade de um silveiral, totalmente desconhecido e que reproduzia
um barulho muito estranho. Quando se aproximou mais, ficou espantado com a
tecnologia encontrada naquele objeto, e sobretudo assustado. Decidiu, então,
voltar a casa rapidamente. De regresso, não se apercebeu que estava a ser seguido.
Uma vez em casa, para
relaxar, tomou um duche demorado. Ao sair do duche, encontrou as suas coisas
remexidas e um ser estranho debaixo da cama. Este ser desconhecido tinha
parecenças a um ser humano, falava e respirava como tal, contudo, tinha um olhar
estranho e uns tiques desconformes. Pelo seu tamanho aparentava ter cerca de
uns 12 anos, os seus olhos eram brilhantes e muito claros, pareciam
transparentes, e por eles notava-se alguma preocupação que era confirmada pelo
seu tom de voz trémula e um pouco rouca. Proferiu algumas palavras, frases que
o Duarte nem sempre compreendeu, mas tentou fazê-lo o melhor que conseguiu
naqueles momentos. Este ser estranho apresentou-se ao Duarte como um alienígena,
e nos seguintes termos:
- Sou um habitante de
Europa (Lua de Júpiter) e venho aqui avisar-vos, e de algum modo, impedir o
ataque do meu “planeta” sobre vós.
- Mas porquê atacar o
nosso planeta? - inquiriu o Duarte.
- O meu “planeta” tem
muita água tal como o vosso, mas está contaminada, pelo que um dos objetivos é
aproveitar parte da vossa água para a sobrevivência do nosso planeta. - afirmou
o alienígena (Alien).
A conversa durou
alguns minutos. Entretanto, todas as suas ideias da existência de vida noutros
planetas, e que outrora acreditara, surgiam como relâmpagos na sua cabeça.
Pareciam descargas elétricas que o assombravam. Sentiu-se ainda mais perdido no
meio de tanta confusão, não só do que o Alien dizia, mas também no que
acreditar naquele momento. Sentiu, pois, necessidade de sair dali, como se
precisasse de acordar de um sonho.
- Preciso de sair! -
exclamou o Duarte.
- Eu vou contigo,
estou farto de passar a minha vida fechado. - retorquiu o Alien.
- No teu planeta
estás sempre fechado? - questionou o Duarte.
- Só me deixam sair
às vezes. - verbalizou o Alien.
De seguida, foram dar
uma volta por um jardim que existia por perto. Duarte, por sua vez, observou-o
com mais atenção e ponderou a existência de um ser de outro “planeta” na sua
proximidade. Na verdade, não notava nele uma grande diferença comparada com o
ser humano. De facto, se fosse um extraterrestre, à escala humana, não poderia
respirar nem comunicar e muito menos movimentar-se como um ser humano, já que
as características do seu “planeta” eram totalmente diferentes das do nosso,
nomeadamente a atmosfera, a gravidade, o solo, os materiais no geral, entre
outros aspetos e seria certamente um “monstro”, e o pior de tudo é que poderia
ser intelectualmente mais evoluído. Parou, então, num café para comer um gelado,
pediu o seu preferido, mas logo a seguir o Alien também pediu um e pelo
respetivo nome.
De regresso a casa, a
ideia de Duarte estar com um alienígena parecia cada vez mais derrotada. Já
perto de casa, Duarte ao passar ao pé de uma banca de jornais chamou-lhe a
atenção o título de uma notícia de um dos jornais: “Desaparecimento de uma
criança de uma instituição …”.
Em casa, Duarte
convidou o Alien a ficar mais algum tempo consigo em sua casa e ele aceitou. No
momento em que finalmente teve a oportunidade de ficar só, dirigiu-se ao
computador e na Internet, encontrou mais informação sobre a notícia do jornal
cujo título avistara na banca dos jornais. Qual não foi o seu espanto quando constatou
que o seu alienígena era mesmo um ser humano que se chamava apenas João, tinha
desaparecido de uma instituição e sofria de problemas mentais. Contactou de
imediato a instituição e, passados alguns longos minutos, um grupo de pessoas
apareceu para o levar de volta.
Os senhores, que
vieram buscar o João, encheram o Duarte de elogios pois, embora criança, ele
foi de facto responsável, soube assim respeitar as diferenças por mais
estranhas e irreais que elas parecessem, não o maltratou, não o expulsou sem
razão aparente e por outro lado, soube ouvir e ajudar. Aliás, tratou-o como um
ser humano. Além disso, ao Duarte foi prometido um brinquedo semelhante ao que
avistara no pinhal, um brinquedo tecnologicamente evoluído que, embora tenha
sido adaptado às necessidades do João, poderia ser utilizado por qualquer
pessoa.
O João era certamente
um alienígena no seu mundo, mas não deixava de ser um ser humano, com
interesses, gostos, necessidades e sentimentos de uma pessoa, pelo que como
qualquer ser humano deveria ser tratado como tal.
Todos somos
diferentes, embora as diferenças se realcem mais numas pessoas do que noutras.
Rúben
Saldanha, O Ciclista