Encontramos, na Bairrada e, em particular, no concelho de Anadia, várias demonstrações de carisma vincadamente popular, ancestral e peculiar.
Esta região, ao longo dos tempos, tem mantido os usos
e costumes do seu povo conservando os valores culturais e a índole das suas
gentes, da sua riqueza tradicional.
No entanto, muitos dos usos e costumes vão-se diluindo
no tempo. Outros, porém, permanecem até ao tempo atual.
É o caso dos “Santoros”, no primeiro dia de novembro,
no chamado Dia de Todos os Santos. Este costume típico da Bairrada é outra
tradição que tende a desaparecer.
Em Sangalhos, pela manhã, as crianças, em grupos,
pedindo de porta em porta, percorriam os lugares da freguesia incentivados
pelos seus familiares, amigos e professores que transmitiam e mantinham a
tradição.
Assim, “pedir os Santoros,” geralmente, consistia na
dádiva de fruta da época marcada pelo outono, em que os frutos secos
(castanhas, nozes, avelãs...) e outros (maçãs, romãs...) dos seus quintais ou
aidos eram em maior abundância. Por vezes, a oferta variava conforme o desejo
dos moradores a quem eram feitos os pedidos.
Por tradição, as crianças de famílias com menos
recursos económicos, eram aquelas que praticavam o hábito de “pedir os
Santoros”. Mais recentemente, esse costume foi alargado, em geral, a todas as
crianças.
Julga-se que o nome de Santoros ou Santórios e o
costume são bastante antigos e terão como origem o Dia de Todos os Santos -
Sanctorum. Em Sangalhos, desde muito novo, sempre ouvi pronunciar Santoros
[ó].
Em terras Açorianas chamam “Pão por Deus”, cuja
designação tem origem no pão bento que era repartido, há muito, muito tempo.
A título de curiosidade, san.to.ro [ó] pode ainda
entender-se como sendo um bolo comprido, em formato de tíbia, que se dá em Dia
de Todos os Santos ou de Finados.
san.to.ro [ó] - (do Latim Sanctorum, genitivo plural
de Sanctus, Santos)
Amílcar Costa |
2022
CES
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