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quinta-feira, 25 de junho de 2020

O que vejo à janela

Estou no meu quarto, no andar de cima e a maior iluminação é a minha janela.

Vejo nela dinheiro gasto para as compras e, à noite, o meu reflexo nos seus vidros brilhantes com uma ligeira poeira (mais para o final da semana, quando ainda não limpámos a casa...que seca que é!)

Mas, o mais importante não é o que vejo na minha janela, mas sim o que vejo pela minha janela… Por ela, vejo um grande pátio com o chão em pedra castanha e muitas pedrinhas pequenininhas que aleijam os pés quando estes estão descalços. Vejo também uma hortinha, de alfaces deliciosas, com cerca de dois metros quadrados, que dá um ar fofo ao jardim da parte de trás da casa. Vejo, indiretamente, memórias excelentes de quando me divertia com os meus amigos a jogar à bola com a pequena tabela de basquete ou quando, no verão, o meu pai montava uma pequena piscina insuflável em cima do pequeno tapete de relvado sintético, que se enchia de folhas todos os dias. Observo mais para abaixo, e vejo, como um filtro que a minha mente cria com o poder da imaginação, da memória e da criatividade todas juntas, as noites em que jantávamos na rua porque estava calor dentro de casa. Vejo momentos em que cresci, me diverti, chorei, ri, pensei. E, lá ao fundo, consigo ver vários blocos de prédios novos com três andares que, para esta pequena aldeia que vai evoluindo aos poucos, são uns prédios enormes. Mas, nesses prédios, consigo ver o meu melhor amigo que se mudou para lá recentemente. O paraíso: o meu melhor amigo a viver do outro lado da rua com a janela do seu quarto virada para a minha. Mas esta pequena distância que nos separa com apenas um pequeno terreno com umas árvores enormes, mas sem folhas no inverno, um mini pátio e uma estrada lá ao fundo, pode ser ainda pior do que se ele vivesse noutro país. E tu, sim tu, que estás a ler isto, sabes porquê? Podes estar a ler isto daqui a cem anos e, por isso, podes não saber, mas aqui, em 2020, está a acontecer uma quarentena por causa de um vírus com o nome covid-19. Isto significa que não podemos estar com outras pessoas... ou seja, como ele está, apesar de muito perto, longe o suficiente, o meu pai não me deixa estar com ele. E, se ainda não percebeste porque seria melhor se ele estivesse noutro país, é porque… nós só temos assim o “cheirinho um do outro”. É como quando estás com fome e tens um bolo à tua frente, percebes? E, acima de tudo, consegues cheirá-lo, MAS não o podes comer… é pior ainda.

Vejo também um telheiro com um estendal e uma churrasqueira que raramente é utilizada, mas também me faz lembrar bons momentos em família. Lá ao fundo, na estrada, costumo ver alguns carros... MAS o que realmente eu vejo pela janela agora é… tudo o que já falei, mas com uma grande solidão… ou seja, no máximo cerca de doze carros por hora, ninguém na rua e o pior de tudo, na minha perspetiva, por estarmos na Primavera…as árvores que referi há pouco no terreno à frente do meu pequeno pátio, ficam cheias de folhas…e, como têm imensas folhas, não permitem que eu veja o Duarte (o meu melhor amigo), o que é horrível, principalmente, numa altura destas…

Basicamente a minha janela é uma “gaveta” de grandes recordações que encherão a minha vida.

E talvez tenhas gostado deste texto ou talvez não, mas, mesmo que este texto não sirva para absolutamente nada… deu para eu refletir e “viajar” de uma forma diferente para fora da minha casa…o que foi LIBERTADOR…

 Francisco Cruz, 8.º Ano, EBVB

Escrito no âmbito da disciplina de Oficina de Escrita

 

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