Era dia 5 de julho de 1995, dia em que Camila ia
passear com os pais, pois fazia 14 anos. Camila era muito feliz. Ela nunca
tinha andado de comboio e, como estava muito entusiasmada, não conseguia parar
de sorrir.
Entraram e, depois de já estarem algum tempo lá
dentro, o comboio despenhou-se. O pai de Camila morreu de imediato, a mãe ficou
em coma e, depois de já estar no hospital, morreu e a jovem Camila ficou
ligeiramente ferida, ficando pouco tempo no hospital.
Camila ficou órfã e, então, teve de ir para uma
instituição. Ficou traumatizada, tendo de ser acompanhada por uma psicóloga.
Mudou de escola, deixou os amigos e isso dificultou ainda mais a sua vida.
A menina alegre passou a ser uma menina triste; ria
muito e, agora, passara a chorar muito.
Um dia, Camila estava a almoçar na escola quando
uma menina foi ter com ela e lhe perguntou:
- Posso almoçar contigo?
- Podes – respondeu Camila, em voz baixa.
- Eu chamo-me Rita, e tu?
Camila respondeu:
- Chamo-me Camila.
Para meter conversa, Rita perguntou:
- És muito calada, não és?
Camila não respondeu.
- Porque és assim? – perguntou Rita.
Camila foi-se embora com lágrimas nos olhos. Rita
ficou muito preocupada, pois nunca tinha visto uma pessoa tão sensível.
No intervalo seguinte, Rita procurou Camila e,
quando a encontrou, exclamou:
- Fogo,
estava a ver que não te encontrava!
- Deixa-me em paz! – gritou Camila.
Rita sentou-se, dizendo:
- Desculpa aquilo do almoço… Acho que tu precisas
de desabafar com alguém para te tirar esse peso dos ombros.
Camila continuou calada, mas Rita insistiu:
- Não queres falar comigo?
Camila virou-se e abraçou aquela que parecia ser a
sua nova amiga. Depois, contou-lhe tudo o que já se tinha passado na vida dela.
Com esta nova amizade, Camila começou a ficar mais
feliz. Muito devagarinho, mas a pouco e pouco, ela ia conseguindo ultrapassar a
sua tristeza com a ajuda da Rita.
Certo dia, Rita foi ter com Camila e ia com uma
cara muito triste. Camila ficou logo preocupada e perguntou, abraçando-a:
- O que é que tens, Rita?
- Vou ter de mudar de escola. Vou para uma cidade
muito distante daqui – respondeu Rita.
Camila ficou muito surpreendida com esta notícia e
perguntou:
- Quando?
- Para a semana.
Camila ficou sem palavras. Tinha ganhado uma amiga
e já a ia perder.
Na semana seguinte, Camila estava muito triste. Voltou
a ser aquela menina calada, como era antes de ter encontrado a Rita.
Passados uns meses, Camila recebeu uma ótima
notícia! Ela, finalmente, ia ter uma nova família! A jovem ficou feliz com a
notícia, mas ainda não era aquela menina alegre como a de antes.
Passados dois meses, a menina conheceu a sua nova
família. A Senhora disse:
- Olá, Camila! Eu sou a Elisabete, a tua nova mãe!
- Eu sou o Ricardo, o teu novo pai!
Depois, Camila foi conhecer sua nova casa. Era uma
casa muito grande e espaçosa. A rapariga gostou muito dela.
Elisabete chamou a empregada. Quando a empregada
chegou, a nova mãe de Camila disse:
- Esta é a Carla, a nossa empregada.
- Boa tarde, menina! – disse Carla.
- Dona Carla, vá mostrar o novo quarto da Camila –
mandou o senhor Ricardo.
Camila foi
ver o seu novo quarto. O quarto era grande e giro, o quarto de sonho de
qualquer rapariga.
No dia seguinte, Carla foi chamar Camila para ir
para a escola, a mesma onde já andava. A menina vestiu-se e foi para a sala de
refeições. Entretanto, perguntou:
- Dona Carla, onde estão os meus pais?
- Já saíram, – respondeu Carla – o senhor João é
que a vai levar à escola. Quando acabar de comer, eu vou com a menina para lhe
mostrar quem é. Pode ser?
- Sim – respondeu Camila com uma cara triste.
O senhor João levou Camila à escola. Camila ia
triste.
Quando chegou da escola, os pais ainda não estavam
em casa. Então, perguntou:
- Os meus pais ainda não chegaram?
- Já chegaram, – respondeu dona Carla – mas já
saíram, outra vez.
Camila sentia-se sozinha naquela casa enorme e
estava quase a chegar o Natal, o dia em que a família se reúne.
Passadas umas semanas, quando já estava de férias
de Natal, Camila já se tinha levantado quando a empregada a foi chamar, pois
tinha passado mal a noite. Foi para a sala de refeições onde estavam os pais
adotivos que lhe disseram:
- Bom dia, Camila! Temos uma coisa para te dizer.
Camila foi ter com eles e sentou-se numa cadeira.
- Filha, para a semana, a mãe não vai poder estar
cá em casa – disse Elisabete.
- Pois é – afirmou Ricardo.
- Porquê? – perguntou
Camila.
- Tem de ir numa viagem de trabalho – disse o pai
de Camila.
- Mas para a semana é a semana do Natal! – exclamou
Camila, triste.
- Desculpa, filha… - disseram os pais de Camila,
tristes por a verem assim.
Camila foi para o quarto a chorar. Esteve lá muito
tempo, até que o pai foi ter com ela.
- Então, filha, tem de ser! – disse o pai, triste -
A mãe e o pai têm muito trabalho, o pai também vai estar atarefado! Desculpa…
vais ver que nós os dois vamos ter um Natal muito feliz!
Ricardo foi-se embora. Camila lembrou-se de fazer
um poema para dar ao pai na noite de Natal, que era assim:
De manhã acordo
E já não estás cá,
À tarde chego
E ainda não chegaste.
Não sei se vamos estar juntos
Na noite de Natal,
Mas se não estivermos
Até vai parecer mal.
Feliz Natal!
Camila sabia que não era um bom poema, mas ela não
conseguia pensar noutra coisa.
Na noite de Natal, Camila esperou, esperou e
esperou… O pai chegou já eram onze horas da noite.
- Desculpa por ter chegado atrasado, é que o pai
não tem folgas, nem no dia de Natal! - disse ele, dando um beijo à sua filha.
O jantar passou-se em silêncio. Camila deu a prenda
ao pai e o pai deu a prenda à filha. A prenda dele foi um relógio muito chique.
E assim se foram passando anos.
Aos 16 anos,
Camila começou a meter-se na droga. Começou a ser cada vez mais triste e
tímida. Começou a vestir só roupas pretas, não falava com ninguém e era muito
violenta.
Certo dia, estava a almoçar na cantina da escola
quando uma rapariga veio ter com ela e perguntou:
- Posso sentar-me?
Camila ficou calada.
- Eu sou a Matilde, e tu?
Camila continuou calada e foi-se embora.
Quando Matilde acabou de almoçar, foi ter com
Camila.
- Porque fugiste de mim? – perguntou Matilde.
- Não quero falar com ninguém, vai-te embora! –
exclamou Camila.
Matilde foi-se embora.
Quando chegou a casa, Camila lembrou-se de mandar
uma carta para a Rita, que se tinha mudado. Mandou a carta a contar tudo o que
se tinha passado naquele tempo todo e, passados dois meses, recebeu uma carta da
Rita. Nessa carta, esta dizia que ia voltar para o lugar onde estava quando
andava na escola com Camila.
Passado meio ano, apareceu uma menina à porta de
casa de Camila, era Rita. Quando Rita viu Camila, ficou muito surpreendida,
pois ela tinha mudado muito, no mau sentido.
- És tu, Camila?
Camila foi a correr para abraçar Rita. Rita não
sabia o que dizer.
- Queres vir para o meu quarto? – perguntou Camila.
- Claro! – respondeu Rita.
No quarto, as amigas conversaram muito durante
muito tempo. Camila mudava completamente o seu modo de ser quando estava com
Rita, mas esta notou que ela estava estranha.
- Há muito tempo, uma menina chamada Matilde veio
ter comigo, mas eu não quis falar com ela – disse Camila.
- Por que é que tu não quiseste falar com ela?
Podia ser uma nova amiga.
- Não sei…
- Tu estás tão diferente. Será que é de não nos
vermos há muito tempo? – perguntou Rita, desconfiada de que Camila se andasse a
pôr numa trapalhada. Ficou um silêncio no quarto, até que Camila disse:
- Está a ficar tarde, é melhor ires para casa.
Rita foi-se embora.
No sábado, Camila saiu de casa e disse que ia dar
um passeio. Foi para um beco numa aldeia, ia fumar. Estava toda a tremer. De
repente, apareceu Rita que disse:
- Olá, Camila!
Quando Rita viu que Camila estava a fumar, ficou
muito séria, de boca aberta.
- Não é o que estás a pensar… - desculpou-se
Camila.
- Por que razão estás a fazer isto? – perguntou
Rita, espantada. E virou-lhe as costas.
Camila gostava muito de Rita, faria tudo para a ver
feliz junto a ela.
Na semana seguinte, semana em que as aulas
voltavam, Camila não conseguia parar de chorar. Matilde, quando reparou que ela
estava a chorar foi ter com ela e disse-lhe:
- O que se passa?
Precisas de alguma coisa? Estás a sentir-te mal?
- Ela vai
deixar-me – disse Camila.
- Quem é que
te vai deixar? – perguntou Matilde.
- A minha
única amiga! – respondeu Camila.
- Ela não é
a tua única amiga, eu também sou tua amiga e tenho a certeza de que há muita
gente que quer ser tua amiga! – disse Matilde, tentando animá-la.
Camila
abraçou a sua nova amiga.
- Quem era
essa menina? – perguntou Matilde.
- Era a
Rita, ela voltou há pouco tempo e eu já a perdi! - exclamou Camila, triste.
- Eu conheço-a! Ela disse-me que te tinha
descoberto a fazer coisas que não devias!
E olha que ela não quer ser amiga da Camila que és
agora, ela quer ser amiga da Camila que eras quando ela te conheceu, mas mais
alegre! Ela falava muito de ti. Eu nunca tinha visto uma amizade assim!
Foi aí que
Camila percebeu que tinha de deixar a droga e o tabaco, porque não lhe estava a
fazer nada bem.
- Obrigada,
Matilde! – agradeceu Camila.
Rita e
Matilde ajudaram Camila a ultrapassar tudo aquilo de que ela não precisava.
Fizeram um grupo e tornaram-se as melhores amiga para sempre.
Esta amizade é uma amizade daquelas que dá gosto saber
que ainda existem neste mundo! A vida não é só formada por guerras, também é
necessária a amizade.
Leonor Ferreira, 6.º A, Escola
Básica de Vilarinho do Bairro