Já estou farta de ter de acordar todos os dias
à mesma hora, aos mesmos minutos, aos
mesmos segundos. Já estou farta da rotina, dos horários, de ver sempre as
mesmas pessoas, porém, apesar de tudo, tenho sorte em estar aqui.
Este dia por sinal até está magnífico, mas eu
sem vontade de trabalhar e, olhando ao meu redor, não consigo contemplar a
beleza em nenhum sítio. Eu só me encontro neste meu emprego, porque desde jovem
que os meus pais queriam que eu fosse uma bonequinha, muito bem comportada e,
na altura, não se cansavam de me dizer que no futuro deveria ter um emprego
excelente, como o ser médica ou enfermeira, ou seja, algo que enveredasse pela
vertente da saúde. Contudo, eu tinha escolhido ser escritora, uma vez que me apaixonara
pela literatura e foi aí que cometi o maior erro da minha vida. Passo, pois, a
contar:
- Estava um dia exatamente como este, quando
acabara de publicar o meu primeiro livro. Para espanto meu, os meus livros foram
comprados num abrir e fechar de olhos, mas o que eu não sabia é que quem os
estava a comprar todos era a minha família para eu me sentir bem, pois, a meu
ver, o meu livro afinal não servia nem para ler, nem para atirar à lareira. E
eu inicialmente não me tinha apercebido disso. Ingenuamente pensei até que esse
podia ser o livro que me iria levar aos píncaros da fama, mas enganei-me
profundamente.
Toda a gente tinha odiado o livro, pois
achavam-no muito simples, muito previsível e eu não podia fazer nada exceto
sair dessa carreira falhada e trabalhar numa outra qualquer. O contra é que a
minha especialidade se tinha centrado apenas na área da literatura. Porém, em
contrapartida, tinha estudado em simultâneo o inglês como língua estrangeira e,
sendo assim, podia emigrar para outro país. Então, optei por ir para
Inglaterra. Um país esbelto, dado à criatividade, mas o grande problema é que
aqueles que não tivessem grandes posses não iriam ganhar muito naquele país.
Quanto a mim, decidi ir para uma escola dar aulas de Inglês a meninos
carenciados, não ganhava muito, apenas o salário mínimo, e aí percebi o quão
duro é viver a contar cada cêntimo que me entregavam. Chorava todas as noites
pois, por vezes, não tinha dinheiro para comer nem para comprar roupa. Decidi
desistir, desistir de viver, desistir de trabalhar.
Em conversa com a minha mãe, agradeci-lhe a
ajuda que ela me tinha dado e informei-a de que iria voltar para junto dela,
tais eram as saudades. No dia seguinte, comprei o bilhete de avião e voei até
Portugal. Já em solo português,
sentia-me feliz pela primeira vez em cinco anos.
Abracei os meus pais com toda a minha força e
pensei para comigo como foi possível ter-me deixado arrastar pela dor, pelo
sofrimento. Estava na hora de mudar o rumo à minha vida!
Sejam, pois, como eu, que
acabei por ver que nunca devemos desistir da vida! Se viemos ao mundo é porque
precisam de nós! Não viemos para acabarmos cortados, sufocados por uma corda ou
despedaçados depois de cairmos de uma ponte! Nada disso! Temos de viver como podemos
e não nos podemos esquecer que a família é a melhor dádiva que nos podem dar!
Dedicado a todos os
fortes deste mundo!
Francisca
Rosário Costa, 7º C
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