Era uma vez um rapaz de catorze anos, chamado
Kalil, de origem árabe, que vivia na Síria, sendo filho de Samir e de Layla.
Kalil era um jovem
adolescente bonito, alto, inteligente, simpático, mas tinha nascido no seio de
uma família síria, no meio da guerra. Kalil tinha nascido com uma arma na mão
e, tal como a maioria dos rapazes da sua idade, não ia à escola, não convivia
muito e não tinha amigos. Sendo assim, em vez disso passava os dias na oficina
com o pai a limpar armas e a arranjá-las, pois de um momento para o outro a
guerra podia rebentar e não ter as armas operacionais era morte quase certa.
Ora, estava Kalil a regressar da oficina com o
seu pai, quando uma jovem adolescente passou por ele de arma na mão e se
dirigiu a Samir:
- Por favor, arranje-me esta arma. Ouvimos há
pouco notícias de que a guerra estava para voltar. Esta é a única arma que
temos, mas está encravada. O meu pai está doente e ele era o único que a sabia
arranjar. Por favor, Sr. Samir, ajude-me!
- Querida Thaís, a
guerra não vai nem volta… a guerra está sempre presente.
Pegou, então, na arma
e colocou um braço, num gesto protetor, em volta da rapariga, dizendo:
- Não sabia que o teu
pai estava doente e é claro que te arranjo a arma. Vens, Kalil?
O rapaz estava quase
que petrificado a olhar para a beleza de Thaís que tal como ele nunca tinha ido
à escola, não tinha amigos e passava os dias a trabalhar com a mãe. Foi preciso
Samir abanar o filho para que este respondesse que iria com eles, pois nunca
tinha estado em contacto com uma arma daquele tipo e aquela experiência podia
ajudá-lo futuramente.
De volta à oficina,
Thaís contou a Samir como a doença do pai era grave e que a sua cura tinha um
custo demasiado elevado e, do canto do seu olho esquerdo, uma lágrima caiu,
quando ela disse que o pai tinha poucos meses de vida. Kalil, por sua vez, não
conteve o impulso e abraçou-a, beijou-lhe a testa e disse que ia ficar tudo bem
e que juntos haviam de encontrar uma solução para que o seu pai não morresse.
Samir ficou boquiaberto com a atitude do filho perante uma desconhecida, mas
nada comentou. Mais tarde, quando a arma ficou pronta, Thaís agradeceu o facto
de Samir não lhe ter cobrado nada pelo arranjo e foi para casa.
Kalil passou a noite
inteira a pensar na rapariga de olhos azuis e cabelo negro que naquela tarde no
seu peito tinha chorado. Pensava em como Thaís era a rapariga mais bonita que até
então conhecera e, sem dar por isso, começou a imaginar como seria a sua vida
ao lado dela. Imaginou como seria viver com ela longe da guerra, numa grande
casa onde as crianças poderiam correr e brincar à vontade e foi com este último
pensamento que a guerra rebentou.
Havia sangue, poças e
mais poças de sangue por todo o lado assim como corpos, uns pequenos e frágeis,
outros mais velhos e mais fortes. Mas de que valeria a força, a experiência, a
inocência e a fragilidade, se agora tinham todos acabado de perecer? De que
valeria tantos e tantos anos a trabalhar com armas, se agora eles jamais veriam
a luz do dia?
Kalil correu de arma
em punho para casa de Thaís, mas lá só encontrou um monte de corpos cinzelados
de sangue. Aflito, Kalil chorou e gritou o nome de Thaís, na esperança de que
ela ainda estivesse viva. Gritou então aos quatro ventos que a amava e, num
gesto de pura loucura e desespero, ele correu para o sítio onde deveria ser o
quarto da sua amada e, mais uma vez, chorou por ela não estar ali.
Foi então que Thaís
apareceu à sua frente e Kalil correu para os seus braços, beijaram-se e entre
lágrimas ambos disseram que se amavam e que iriam ficar para sempre juntos.
Nesse mesmo instante, cruelmente uma bomba os atingiu, reduzindo os dois seres
a cinzas, mas não as suas juras de amor eterno, pois aquilo que, em vida, Kalil
e Thaís haviam prometido, no Paraíso, foi cumprido e as suas almas para sempre
apaixonadas vaguearam pelo deserto em que a pequena aldeia, onde eles moravam,
se tornou depois da guerra.
Ana
Filipa Pires, nº 1, 9ºA
Escola Básica nº 2 de Vilarinho
do Bairro, Anadia
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