Endereço de correio eletrónico

ociclista@aeanadia.pt

sábado, 2 de maio de 2015

Não gostas da escola?!



Numa certa aldeia situada no centro de Portugal continental, vivia um rapaz que detestava a escola. Na sua opinião, esta era uma prisão, cheia de guardas (os funcionários) e de celas (as salas).
Esse rapaz, que se chamava Pedro, quando tinha sete anos, foi afetado por uma tragédia que marcou nitidamente a sua vida e a da sua família.
Era dia vinte e seis de março do ano dois mil, Pedro estava a brincar com o cão no jardim traseiro da casa, quando de repente ouviu um barulho estranho vindo da parte da frente da habitação. Dirigiu-se rapidamente para a proximidade do local e apercebeu-se que um carro qualquer tinha batido em algum lado, concluindo assim que o barulho que ouvira seria certamente o seu travar. Nada mais o chamou à atenção naquele momento, já que estava demasiado embrenhado na brincadeira. Decidiu, então, regressar para o seu divertimento favorito, isto é, divertir-se com o seu animal de estimação.

Passado algum tempo, o Pedro decidiu regressar ao interior de casa para lanchar, mas ao entrar deparou-se com algumas pessoas ao redor de sua mãe, que chorava intensamente. Pedro nunca a tinha visto tão desorientada e desamparada. Decidiu assim chegar-se lentamente ao pé dela e perguntou-lhe calmamente o que se estava a passar. A sua mãe não tendo outra solução, embora com rodeios, indiretas, palavras soltas, frases que julgou sem nexo e irreais, contou-lhe que o pai tinha morrido num acidente de carro.
A mãe de Pedro, principalmente a partir da perda do pai, tentou explicar-lhe que a escola é necessária para várias realidades, entre elas para arranjar trabalho, para ter uma melhor qualidade de vida, mas Pedro ignorava os conselhos da mãe. Consequentemente, a vida dele mudara bastante a partir daquela perda, porém não era a falta de dinheiro, brinquedos, telemóvel que reclamava, era mais a ausência de um tal carinho especial, de um tal olhar meigo e recriminador ao mesmo tempo, daquelas brincadeiras, daqueles gestos, daquelas conversas. De facto, embora tivesse alguns companheiros, faltava-lhe sempre qualquer coisa, era um pequeno vazio que nem a escola conseguia preencher.
Entretanto, faltavam apenas uns dias para o Natal e a mãe de Pedro estava preocupadíssima com as notas e as atitudes do seu filho na escola, uma vez que desde o início do ano letivo não tinha tirado uma única positiva, em pleno ano de exames.
Pedro, no entanto, preferia ficar no seu mundo, pois não tinha nenhum amigo que considerasse verdadeiro e em casa já há algum tempo não conversava abertamente com a mãe, só se sentava ao pé dela à hora de jantar e, mal terminava a refeição, regressava ao seu quarto, mais propriamente para o seu computador onde jogava, embora às escondidas, até às tantas da manhã.
Na escola, grande parte dos alunos gozava com o Pedro, o que não ajudava em nada. Chamavam-lhe “burro”, “panasca”, “atrasado”, entre outros insultos. Ele, entretanto, tinha começado a gostar seriamente de uma rapariga da sua turma. Essa rapariga chamava-se Laura, era a mais linda da turma e, na sua opinião, era perfeita.
Pedro passou assim vários dias das férias do Natal a pensar numa maneira de se aproximar da sua deusa, mas não encontrava grande inspiração na internet, por isso, deixou-se ir numa das tentativas de conversa da mãe, como que se indiretamente procurasse algum tipo de ajuda. A mãe, ao ouvir o filho a falar, ficou deveras surpreendida e de algum modo encantada, já que viu ali uma oportunidade para se aproximar mais dele. A conversa ainda durou algum tempo e pareceu enriquecedora para ambos. De acordo com os conselhos da mãe, Pedro concluiu que para conquistar Laura tinha que começar a ganhar “fama” na escola, mas pelo bom sentido, quer isto dizer que tinha que subir as notas para começar a chamar à atenção das outras pessoas, teria de mostrar que era bom naquilo que fazia. O jovem decidiu, então, aproveitar os restantes dias de férias para começar a rever a matéria. Mas a mãe não notava diferenças significativas, era como se a sua nova tentativa tivesse caído mais uma vez por terra, pois Pedro continuava os dias fechado no quarto. Ela não sabia, ou antes não acreditava que ele começasse a apanhar algum gosto pelos livros e pelo estudo e que grande parte do dia passasse a ser dedicado ao estudo.
Começava o segundo período letivo, Pedro sentia-se confiante, diferente, apto e julgava-se um pouco mais culto.
Durante esse período, não tirou uma única negativa. Não pensem que foi fácil, ou que por alguns instantes não tenha considerado que todo o esforço e dedicação tivessem sido em vão, já que não conseguira chamar a atenção de Laura. Apesar disso, Pedro, mesmo sem conseguir cumprir o seu principal objetivo, não se sentia triste e não sabia bem porquê. Tinha começado a ler livros e cada vez lia mais, chegou mesmo a ler um livro de histórias por semana.
No final do período, no dia da entrega das notas, sentia-se nervoso pela primeira vez. A diretora de turma deu-lhe os parabéns e disse que as notas só não tinham sido melhores devido aos maus resultados do primeiro período que baixaram bastante a média final deste segundo período.
Ao chegar a casa, a mãe decidiu fazer uma espécie de jantarada para festejar as notas do filho, e foi com isso, a atitude da mãe, da diretora de turma e de alguns colegas que o jovem percebeu que a escola até podia ser divertida, e com ela podia conseguir alguma forma de felicidade, mas para isso tinha que se saber aproveitá-la.
O tempo foi passando e Pedro, por sua vez, sentia-se cada vez mais recompensado. Como tal, nunca deixou de lutar, apesar de nunca ter conseguido conquistar Laura, mas casou passados uns anos mais tarde com a sua cara-metade. É hoje um empresário muito bem-sucedido. Conseguiu assim tirar um curso numa escola de elite, graças às suas boas notas. Não perdeu nunca a persistência. Por outro lado, desenvolveu um bom relacionamento com as pessoas, arranjou amigos verdadeiros e manteve-os.
Nesta história, Pedro era um mau aluno, problemático, mas arranjou objetivos de vida, aceitou ajuda e com algum esforço e dedicação conseguiu subir as notas, não desistiu e é agora alguém importante devido a tudo isso.
Se também tu és um aluno cuja escola não tem significado algum ou significa muito pouco, se de algum modo te faltam forças devido às pequenas ou grandes intempéries da vida, segue o meu conselho, repensa a tua vida, pensa se é isso que queres para ti, pensa no teu futuro. Todos nós podemos vir a ser alguém, sermos bons em alguma coisa. Porém, é preciso descobri-la, é preciso querer, é preciso tentar. Ainda vais a tempo!
Rúben Saldanha, O Ciclista

Sem comentários:

Enviar um comentário