Numa certa aldeia situada no centro de Portugal
continental, vivia um rapaz que detestava a escola. Na sua opinião, esta era
uma prisão, cheia de guardas (os funcionários) e de celas (as salas).
Esse rapaz, que se chamava Pedro, quando tinha
sete anos, foi afetado por uma tragédia que marcou nitidamente a sua vida e a
da sua família.
Era dia vinte e seis de março do ano dois mil,
Pedro estava a brincar com o cão no jardim traseiro da casa, quando de repente
ouviu um barulho estranho vindo da parte da frente da habitação. Dirigiu-se
rapidamente para a proximidade do local e apercebeu-se que um carro qualquer
tinha batido em algum lado, concluindo assim que o barulho que ouvira seria
certamente o seu travar. Nada mais o chamou à atenção naquele momento, já que
estava demasiado embrenhado na brincadeira. Decidiu, então, regressar para o
seu divertimento favorito, isto é, divertir-se com o seu animal de estimação.
Passado algum tempo, o Pedro decidiu regressar ao
interior de casa para lanchar, mas ao entrar deparou-se com algumas pessoas ao
redor de sua mãe, que chorava intensamente. Pedro nunca a tinha visto tão
desorientada e desamparada. Decidiu assim chegar-se lentamente ao pé dela e
perguntou-lhe calmamente o que se estava a passar. A sua mãe não tendo outra
solução, embora com rodeios, indiretas, palavras soltas, frases que julgou sem
nexo e irreais, contou-lhe que o pai tinha morrido num acidente de carro.
A mãe de Pedro, principalmente a partir da perda
do pai, tentou explicar-lhe que a escola é necessária para várias realidades,
entre elas para arranjar trabalho, para ter uma melhor qualidade de vida, mas
Pedro ignorava os conselhos da mãe. Consequentemente, a vida dele mudara
bastante a partir daquela perda, porém não era a falta de dinheiro, brinquedos,
telemóvel que reclamava, era mais a ausência de um tal carinho especial, de um
tal olhar meigo e recriminador ao mesmo tempo, daquelas brincadeiras, daqueles
gestos, daquelas conversas. De facto, embora tivesse alguns companheiros,
faltava-lhe sempre qualquer coisa, era um pequeno vazio que nem a escola
conseguia preencher.
Entretanto, faltavam apenas uns dias para o Natal
e a mãe de Pedro estava preocupadíssima com as notas e as atitudes do seu filho
na escola, uma vez que desde o início do ano letivo não tinha tirado uma única
positiva, em pleno ano de exames.
Pedro, no entanto, preferia ficar no seu mundo,
pois não tinha nenhum amigo que considerasse verdadeiro e em casa já há algum
tempo não conversava abertamente com a mãe, só se sentava ao pé dela à hora de
jantar e, mal terminava a refeição, regressava ao seu quarto, mais propriamente
para o seu computador onde jogava, embora às escondidas, até às tantas da
manhã.
Na escola, grande parte dos alunos gozava com o
Pedro, o que não ajudava em nada. Chamavam-lhe “burro”, “panasca”, “atrasado”,
entre outros insultos. Ele, entretanto, tinha começado a gostar seriamente de
uma rapariga da sua turma. Essa rapariga chamava-se Laura, era a mais linda da turma
e, na sua opinião, era perfeita.
Pedro passou assim vários dias das férias do Natal
a pensar numa maneira de se aproximar da sua deusa, mas não encontrava grande
inspiração na internet, por isso, deixou-se ir numa das tentativas de conversa
da mãe, como que se indiretamente procurasse algum tipo de ajuda. A mãe, ao
ouvir o filho a falar, ficou deveras surpreendida e de algum modo encantada, já
que viu ali uma oportunidade para se aproximar mais dele. A conversa ainda
durou algum tempo e pareceu enriquecedora para ambos. De acordo com os
conselhos da mãe, Pedro concluiu que para conquistar Laura tinha que começar a
ganhar “fama” na escola, mas pelo bom sentido, quer isto dizer que tinha que
subir as notas para começar a chamar à atenção das outras pessoas, teria de
mostrar que era bom naquilo que fazia. O jovem decidiu, então, aproveitar os
restantes dias de férias para começar a rever a matéria. Mas a mãe não notava
diferenças significativas, era como se a sua nova tentativa tivesse caído mais
uma vez por terra, pois Pedro continuava os dias fechado no quarto. Ela não
sabia, ou antes não acreditava que ele começasse a apanhar algum gosto pelos
livros e pelo estudo e que grande parte do dia passasse a ser dedicado ao
estudo.
Começava o segundo período letivo, Pedro sentia-se
confiante, diferente, apto e julgava-se um pouco mais culto.
Durante esse período, não tirou uma única
negativa. Não pensem que foi fácil, ou que por alguns instantes não tenha
considerado que todo o esforço e dedicação tivessem sido em vão, já que não
conseguira chamar a atenção de Laura. Apesar disso, Pedro, mesmo sem conseguir
cumprir o seu principal objetivo, não se sentia triste e não sabia bem porquê.
Tinha começado a ler livros e cada vez lia mais, chegou mesmo a ler um livro de
histórias por semana.
No final do período, no dia da entrega das notas,
sentia-se nervoso pela primeira vez. A diretora de turma deu-lhe os parabéns e
disse que as notas só não tinham sido melhores devido aos maus resultados do
primeiro período que baixaram bastante a média final deste segundo período.
Ao chegar a casa, a mãe decidiu fazer uma espécie
de jantarada para festejar as notas do filho, e foi com isso, a atitude da mãe,
da diretora de turma e de alguns colegas que o jovem percebeu que a escola até
podia ser divertida, e com ela podia conseguir alguma forma de felicidade, mas
para isso tinha que se saber aproveitá-la.
O tempo foi passando e Pedro, por sua vez,
sentia-se cada vez mais recompensado. Como tal, nunca deixou de lutar, apesar
de nunca ter conseguido conquistar Laura, mas casou passados uns anos mais
tarde com a sua cara-metade. É hoje um empresário muito bem-sucedido. Conseguiu
assim tirar um curso numa escola de elite, graças às suas boas notas. Não
perdeu nunca a persistência. Por outro lado, desenvolveu um bom relacionamento
com as pessoas, arranjou amigos verdadeiros e manteve-os.
Nesta história, Pedro era um mau aluno,
problemático, mas arranjou objetivos de vida, aceitou ajuda e com algum esforço
e dedicação conseguiu subir as notas, não desistiu e é agora alguém importante
devido a tudo isso.
Se também tu és um aluno cuja escola não tem
significado algum ou significa muito pouco, se de algum modo te faltam forças
devido às pequenas ou grandes intempéries da vida, segue o meu conselho,
repensa a tua vida, pensa se é isso que queres para ti, pensa no teu futuro.
Todos nós podemos vir a ser alguém, sermos bons em alguma coisa. Porém, é
preciso descobri-la, é preciso querer, é preciso tentar. Ainda vais a tempo!
Rúben Saldanha, O Ciclista
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