Ser jornalista
Naquele dia quente de
verão, altura onde as chamadas férias grandes já tinham começado, decidi fazer
uma curta viagem de bicicleta até à barragem que se situava bastante longe de
minha casa, pois não aguentava tanto calor e necessitava urgentemente de me
refrescar. No entanto, não estava disposto a fazê-lo sozinho e por isso,
procurei companhia. Contudo, estava com azar, pois a maior parte dos meus
colegas e amigos tinham viajado para outras zonas do país ou para o
estrangeiro.
O meu pensamento esmoreceu, mas a vontade de
ir permaneceu. Procurei assim o meu lado mais aventureiro e tive de o procurar
muito bem, pois estava algo escondido, e, apesar de sentir uma grande hesitação,
decidi que deveria ir.
Quando coloquei os
pés nos pedais, tentei não pensar no longo percurso que teria pela frente. Para
minha surpresa, fiz o caminho de forma rápida, mas por esse motivo cheguei
completamente exausto.
Para
recuperar as minhas energias, decidi deitar-me tranquilamente nas águas frescas
da barragem, quando de repente um helicóptero com um grande suporte retirou uma
quantidade imensa de água, suporte este preso por fortes braços de metal e que
terminavam em farpões agarrados às barras laterais do aparelho. Não me tinha,
pois, apercebido da sua chegada, por isso saltei de susto e ainda engoli uns
valentes goles de água. Mas o que me chamou à atenção foi o facto de, depois de
o helicóptero ter abastecido, ter descarregado a água numa zona muito próxima
da barragem. Eis, então, que conciliei todo aquele aparato com o cheiro a
queimado com o qual me debatia desde que ali tinha chegado. Quase que por
impulso peguei na bicicleta e pedalei o mais rápido que pude até ao local da
descarga.
O incêndio já tinha assumido
grandes proporções e já lá estavam dois camiões dos bombeiros. Memorizava cada
segundo. Ouvi dois bombeiros a discutir, pois o acesso ao local do incêndio era
péssimo. Naquele momento, eu tive vontade de os ajudar mas, por outro lado,
eles estavam muito bem organizados e eu não os queria atrapalhar.
No mesmo
instante em que eu me decidi a oferecer ajuda, chegaram dois carros com duas
pessoas cada um. Vinham cheios de cadernos, lápis e canetas e registaram tudo o
que viam no papel. Poucos segundos depois, dirigiram-se a mim enquanto eu os
observava, mais nervosos do que os próprios bombeiros, e perguntaram-me se eu
já ali estava há algum tempo. Eu, algo tímido, disse que sim. Entretanto, o
fogo já tinha sido controlado e apagado pelos bombeiros voluntários. Pediram-me,
então, que eu escrevesse um pequeno comentário sobre a forma como agiram os
bombeiros, a forma como eu supunha que o fogo fora causado entre muitos outros
itens. Eu aceitei sem hesitar, apesar do jornal não ser muito conceituado.
Momentos depois, regressei a casa digerindo
ainda tudo o que me fora dito. Mal cheguei aos meus aposentos, pus logo mãos à
obra e comecei a escrever aquilo que me tinha sido pedido. Calculei as
probabilidades de o meu comentário aparecer realmente no jornal e pareceram-me
nulas. Porém, apesar de tudo, envolvi-me de tal forma naquilo que escrevi que,
mesmo que não fosse publicado, guardaria o meu comentário para mais tarde
recordar aquele episódio. De seguida, enviei o meu pequeno texto para o e-mail
do jornal.
Entretanto até à data
da publicação do jornal, comecei a escrever um diário mas senti necessidade de
levar as minhas considerações a leitores que as pudessem ler atentamente. Optei,
então, por escrever pequenos textos relativos à atualidade e, à medida que o ia
fazendo, ia mostrando-os à minha família que, ao lê-los, os adorou de imediato,
mas o que eu queria mesmo eram leitores exigentes.
Por fim, chegada a data da publicação, fiquei
bastante feliz, pois o meu comentário foi realmente publicado e com grande destaque.
Nos dias que se seguiram, recebi um convite do mesmo jornal para fazer parte da
sua equipa e eu aceitei sem hesitar. Este foi, de facto, o impulso que eu
necessitava para me poder tornar um grande jornalista ou então, simplesmente,
para me tornar jornalista.
João
Pedro Rocha, O Ciclista (nº 13, 10º B)
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