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quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O livro e o prazer da leitura - Concurso literário “Ler & Aprender”


Ler um livro, não é fazer um voo rasante sobre as palavras. É mergulhar nelas, como se nos quiséssemos molhar, sem, contudo, perdermos o pé e, nos afogarmos, na complexidade ondulante da narrativa.
Ler um livro é, também, desmontar o pensamento do narrador, e ir para além do conteúdo, descobrindo o teor, quantas vezes contido nas mensagens subliminares que se encontram nas entrelinhas e, sobre as quais, o nosso espírito crítico, deve estar alerta para as poder diferenciar.
Se lermos um determinado autor, cujos pensamentos políticos, religiosos e outros, já conhecemos e, com os quais, não nos identificamos, não é razão para não o lermos, bem pelo contrário, sob pena de perdermos a oportunidade de lermos grandes obras úteis à nossa formação, como pessoas, devido a preconceitos de ordem ideológica, religiosa ou qualquer outra.
Isso, requer muita atenção e treino, mas, sem cairmos no exagero de levar à letra este pensamento - senão, arriscamos-nos a adoptar, uma postura de permanente desconfiança, para com os escritores.
A leitura, deve por tudo isto, ser um acto, que, num generoso amplexo, passemos a sentir, que, na “alma” de cada livro lido, havia afinal um pouco da nossa própria alma que ainda não conhecíamos. Assim, a leitura, leva-nos a descobrir aquela parte de nós, onde se escondem capacidades de entendimento e apreensão que, de outra maneira, levaríamos muito mais tempo a descobrir.
O prazer da leitura não é mensurável, senão por nós mesmos. É, provavelmente, uma das poucas actividades que é particularmente relaxante e, simultaneamente, enriquecedora do nosso saber e competência.
Alguns escritores afirmam peremptoriamente que, eles próprios lêem muito. Não o que eles escrevem, mas aquilo que outros escritores escrevem, e que só com muita leitura, conseguem a “bagagem” suficiente para “deitarem mãos” à complexa obra que é “construir uma história” e espelhá-la num livro. Há, porém, quem acredite, que os escritores lêem muito pouco, para além dos grandes clássicos que já leram. Eu prefiro, ainda assim, pensar que os escritores lêem.
“Permitam-me que termine juntando o poema (Liberdade) de Fernando Pessoa.”
Este poema é a completa desconstrução de tudo o que acabo de escrever, mas de uma forma, a que só os génios têm a capacidade de aceder. Por isso, achei que fazia sentido, juntá-lo ao trabalho que aqui vos apresento.
   João Farinha Margarido Chamiço, CQ, Escola Básica e Secundária de Anadia


Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um dever, 
Ter um livro para ler
E não o fazer! 
Ler é maçada, 
Estudar é nada. 
O Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal, 
Sem edição original. 
E a brisa, essa, 
De tão naturalmente matinal, 
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma, 
Esperar por D. Sebastião, 
Quer venha ou não! 
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças, 
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo, 
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”

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