Premiado com o 1º lugar, género narrativo, na categoria do 3º
ciclo.
Parabéns Ema!
Já passara muito tempo desde que o último arco-íris
animava os céus da conhecida Área Enigmática.
Os primeiros raios solares penetravam no céu de tons de
cinzento, ora claro, ora escuro. Não havia sons. De facto, desde o início da
guerra que não existiam sons malignos, mas infelizmente também não se ouviam os
sons sublimes. No ar pairava a questão: o que é a paz?
Ora, os nossos antepassados tanto a desejaram
que agora aqui está ela, disfarçando a guerra que decorria. Milénios depois
aprendemos o custo da paz. Agora, apenas há um governo, apenas um país, apenas
um povo.
A meio do século XIX os conflitos começaram a
reaparecer. A Rússia, agora chamada de Alfheim, tomou o mundo, prometendo a
paz.
«Apontam armas ao mundo e chamam-lhe proteção.» É o
que penso sempre deste regime. Mas quem sou eu para difamar esta
"gloriosa" nação? Um cientista? Um médico? Um professor
universitário? Não, apenas um Soldado da Paz, ou como gostam de chamar, stormtrooper.
- Boryenka? - é soado o meu nome com um grito abafado no ar - Para de rabiscar nesse teu caderno e vem já aqui, caloiro!
- Boryenka? - é soado o meu nome com um grito abafado no ar - Para de rabiscar nesse teu caderno e vem já aqui, caloiro!
O meu trabalho é controlar ou manter a paz, na
Área Enigmática. Secção Norte central. A minha quadrilha, a Quadrilha
Relâmpago, como gostamos de nos designar, não tem anomalias nem nada
preocupante. O chefe da quadrilha, o velho Pavel, conta sempre as mesmas histórias
já há muito ouvidas. O início da guerra, a cedência do resto do mundo a Alfheim,
governada por Lhyr, «Deus do submundo».
- Diz a lenda - continuava Pavel com as suas histórias
intermináveis, enquanto o resto de nós suspirava de desespero - que Lhyr não é
humano, é antes um raio de luz proferido pelo sol para iluminar o caminho
da salvação ao nosso planeta.
- Isso é tudo treta! - retorquiu rapidamente Alek, o
terceiro membro da quadrilha.
- Que as câmaras informadoras não te estejam a filmar,
neste momento, meu filho.
Enquanto a batalha de palavras entre eles decorria,
caminhei um pouco até à fronteira leste, passando por inúmeros ecrãs onde eram
exibidas propagandas do governo de Lhyr, retratado como um deus omnipotente.
Porém, nunca eram ultrapassados os limites. Ele era, pois, um ser normal,
mas subestimava-se maior que todos os outros. E era assim o nosso regime.
Contudo, nunca segui nenhuma das leis do grandioso lorde. Apenas a ordem e a
segurança. Foco-me somente nisso. E, de facto, renunciei a todos os prazeres
para poder dar isso às pessoas, que já não aguentam mais uma guerra.
De repente, ouço um barulho estridente a
interromper os meus pensamentos. Volto-me e vejo um miúdo pequeno,
provavelmente órfão, com um espigão de ferro. A criança assustada gaguejava
palavras indecifráveis, e eu vi o medo nos seus olhos. A criança certamente
estava assustada de morte com receio que a prendesse no momento ou a mandasse
para a fábrica até pagar os reparos.
- Sabes, miúdo, - suspirei eu - uma das coisas que um stormtrooper tem de ter sempre é um
reparador. E um limpa-vidros!
Ele sorriu e, de seguida, gaguejou:
- De-descul-ul-pe-pe, nã-o-o era-ra minha
inten-en-ção.
- Vai-te lá embora, miúdo. Eu trato disto - afirmei,
passando a mão pela sua cabeça loira.
O miúdo largou, de imediato, o espigão e desatou a
correr pela vasta rua imunda. Facilmente emendei o ecrã e continuei a minha
jornada. Momentos depois, inexplicavelmente tropecei e fiquei deitado no chão,
olhando para a fronteira leste. Alguém estava a atravessar a vedação. Corri até
lá o mais rápido possível. Puxei o ser em causa. Neste caso,
uma rapariga. A criatura que se aproxima mais da perfeição e a mais esbelta que
alguma vez vi, com os olhos claros e límpidos como a água e os cabelos
castanhos como avelãs e esguios como a seda. Trazia um uniforme branco igual ao
meu, com o capacete branco na mão. A clareza da neve com os tons negros das
nuvens escuras, a ofuscar o sol, iluminavam e escureciam a sua pele pálida, o
que a tornava ainda mais bela.
- Deixa-me! - ordenou ela, de forma rude.
Hesitei um pouco e depois gaguejei:
- Hmm... não podes passar... Hmm... Onde arranjaste o
fato?
Ouviu-se o som de metal a roçar no chão. Ela
fitou-me corada e disse:
- Sou a Naidi, senhor Boryenka - enquanto ajeitou a
plaqueta com o meu nome.
Sorri e deu-me um beijo nos lábios. Nesse mesmo
instante, o meu peito tornou-se palco de guerra. As explosões de calor e os
tiros que o meu coração dava inundavam-me o peito. Rapidamente ela agarrou a
peça metálica do chão, largou o capacete e correu entre o nevoeiro para lá da
fronteira. Nem pensei duas vezes, pois corri atrás dela agarrando o capacete, e
gritando o seu nome. De repente, avistei umas luzes coloridas, era uma cabana pequena
de betão. Ela parou e afirmou:
- São luzes de Natal. Lindas não são?
Fiquei maravilhado. Luzes de Natal… Como seria possível?!
Naidi entrou e eu segui os seus passos.
- É melhor afastares-te já, minha estrela guia. -
reclamou ela, de forma doce.
Enquanto isso, o meu coração não parava de disparar.
De facto, senti que nunca amara alguém como ela, nem mesmo por breves minutos.
De seguida, Naidi ligou uma máquina barulhenta.
- O que é? - perguntei eu, curioso.
- O meu bilhete de ida para casa - afirmou, enquanto
encaixava a peça de metal que levava na mão - Eu vi o que fizeste com o miúdo.
Se tivesse sido outro, espancá-lo-ia. Foste deveras querido.
Ao ouvir tais palavras, senti-me orgulhoso e
envergonhado ao mesmo tempo. Afinal deveria ter cumprido o meu dever, a minha
função, mas o que é o orgulho comparado com a vida de um miúdo inocente?
Melodias animadas soaram pela pequena cabana.
- Tenho que ir, senhor Boryenka. - informou ela.
- Para onde? - questionei tristemente.
- Para onde pertenço - retorquiu ela - para o passado.
Uma tristeza profunda atingiu-me e, por entre soluços,
indaguei:
- Vais voltar?
- Adeus, minha estrela guia. - disse ela, passando a
mão na minha cara.
Nesse preciso
momento, cerrei os olhos suavemente, enquanto ela me dava um beijo suave
nos lábios. De seguida, entrou na máquina, clicou nuns botões aleatórios e
gesticulou com a mão um sinal de despedida:
- Adeus! - saudei melancolicamente.
E ali ia ela. A única pessoa que alguma vez amei, mesmo
que acabada de conhecer. E ali fiquei em pé com as lágrimas nos olhos, com o
seu capacete ainda nas mãos, imaginando a sua vida e questionando-me se alguma
vez a voltaria a ver.
Ema Ganhito Fadiga, nº 8,
9º A
Escola Básica nº2 de
Vilarinho do Bairro, Anadia
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