Aquele dia estava meio estranho. Francisco, ou Kiko como era
habitualmente chamado pelos colegas de escola, já sentia que algo ia ser
diferente. E ele sabia que o seu instinto raramente falhava, por isso ele
pressentia que algo ia acontecer, mas o inquietante era saber o que seria.
O dia não estava muito bonito, estava mais escuro do
que de costume. As nuvens cobriam o sol que tentava, ainda que muito
envergonhado, espreitar.
Francisco tomou o pequeno-almoço, leite e torradas com
manteiga como era habitual e saiu a correr, já estava atrasado para apanhar o autocarro
que o levaria para a escola. Mas, ao contrário do que ele esperava, o autocarro
demorou uma eternidade para aparecer e quando veio, estava abarrotado de gente.
Que chatice! Iria ter de ir de pé mais uma vez, já era a terceira naquela
semana.
Todavia, alguma
coisa parecia estar a travá-lo de entrar. Ele estava assim determinado a não ir
naquele autocarro, uma vez que não estava com paciência para ir cerca de vinte
minutos em pé num autocarro barulhento e atulhado de gente. Estava decidido,
iria a pé. Uma caminhada matinal só lhe faria bem. Virou, então, na direção da
escola, e lá foi ele.
Durante o percurso,
quando já se aproximava da escola, começou a ouvir um ruído, não conseguia
definir de onde vinha ou do que se tratava, mas estava pronto a descobrir!
Estava tão assustado quanto curioso, o que ao início o travou de decidir o que
fazer naquela situação. Mas a sua veia de detetive incentivou-o a procurar a
verdade, ainda que ao início amedrontado. Porém, passados alguns minutos, o
medo já tinha desaparecido e também já não se lembrava que naquele dia tinha
aulas durante toda a manhã.
Procurou, procurou
e finalmente deu o caso por encerrado. Tinha encontrado a chave do enigma, já
sabia de onde e de quê vinha o ruído que ouvira nessa manhã.
Um pobre gatinho
magoado e frágil estava ali no meio da mata à espera que alguém o salvasse. E
ele foi o escolhido para salvar aquele animal indefeso, era oficial, ele era o
herói do dia.
Cuidadosamente,
pegou o gato ao colo e levou-o para casa o mais rápido que pôde. Chegados a
casa, foi buscar uma mantinha já usada da avó e deitou o animal na mesma.
Depois deu-lhe água e comida e tratou-o como um médico trata um doente.
Acarinhou-o e fê-lo sentir-se amado e seguro.
Fora
definitivamente um dia diferente dos outros, o seu instinto não mentira. Além
de não ter ido às aulas, por uma boa causa, teve a experiência que nunca ele
imaginara ter. Numa só manhã, vestiu a pele de um conceituado detetive e mais
tarde, esteve à altura de um prestigiado veterinário.
Naquele dia contou
a história aos pais e aos colegas com orgulho e mais tarde deitou-se. Tinha
sido, de facto, um dia estafante!
Margarida Lagoa, O Ciclista
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