Parabéns
Inês,
pela Menção honrosa no Concurso “Ler e Aprender”!
O
Ciclista, Clube de Jornalismo do AEA
Avó
Fomos
todos avisados de que nos devíamos despedir… do teu calor… do teu abraço… fomos
todos avisados de que não havia muito mais tempo… e não era o que precisava de
ouvir… muito menos o que queria ouvir… mas fomos avisados… e dentro de todo o
azar… fomos tão sortudos…!
Entrei
num grande edifício… grande demais… e tão estreito… estreito demais… apenas o
suficiente para o estreito que é a vida… e a imensidão que é a morte…
Estava
preparada para qualquer coisa que encontrasse para lá daquele quarto de
hospital …, mas fiquei surpreendida pelo esperado que rezava não encontrar…
mesmo antes de atravessar aquela tão temida porta…
Fomos
obrigados a proteger-nos… dela… dela…?
E
por debaixo de batas, máscaras, luvas e coragem eram apenas os nossos olhos que
carregavam com o peso do medo de te perder…
Entrámos
então numa sala escura e, lá no fundo… encontrei-te!
Ao
longo dos meus passos lentos conseguia sentir as minhas mãos a suar… até ao
momento em que os teus olhos se cruzaram com os meus…
A
primeira coisa que reparei em ti foi neles… nos teus grandes olhos… parecia que
conseguias ver para além do mundo enquanto esse mundo se tornava fusco… fusco
como a imagem que tinhas agora de mim…
Então
agarrei-te na mão… tinhas a mão tão quente como o teu coração… cujos batimentos
fracos eram a única coisa que conseguia sentir para lá das minhas luvas largas
e quase tão rugosas como a tua pele…
Ocasionalmente,
ouvia-te tossir num tom ofegante… o que… estranhamente… me tranquilizava…
talvez por ser dos poucos sinais que me davas de que ainda estavas viva…
Agarrei-te
então uma última vez na mão… tinhas a mão fria… ou talvez estivesse todo o
ambiente mais frio pois a hora de me despedir de ti estava a chegar… e por mais
que tentasse… nada te conseguia dizer…
Encostei-me
a ti… “Agora tenho de ir Avó” …
Ao
que a tua voz fraca me respondeu sussurrando… “Minha querida Inês” …
E
de olhos húmidos… com um beijo na tua testa rugosa… soube que tinhas percebido
tudo o que te queria dizer…
Inês
Silva, n.º 10, 9.º A, 3.º Ciclo, Escola Básica e Secundária de Anadia
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