Gil Vicente com o “Auto da Barca do Inferno” pretendeu moralizar,
ridicularizar e denunciar os vícios da sociedade em que ele vivia, uma
sociedade dividida em classes sociais, estando no topo da pirâmide os mais
privilegiados, detentores do poder e riquezas e, depois, mais abaixo, os
pobres, sem privilégios e os ignorados.
Por outro lado, Gil Vicente queria, com o seu auto, mostrar que, depois da
morte, todas as pessoas estariam em pé de igualdade e seriam julgadas pelos
erros cometidos em vida, não podendo de maneira nenhuma fazer-se acompanhar
pelos seus objetos valiosos que, na peça, surgem na forma de símbolos cénicos,
materializando assim os verdadeiros pecados de cada uma das personagens-tipo
criticadas e, consequentemente, a classe ou grupo social representado. Gil
Vicente, no auto, ridicularizou assim todas as classes e grupos sociais, por
terem cometido vários pecados, vários erros, apesar de por vezes não terem
consciência das suas atitudes e, infelizmente, esta situação é muito comum na
sociedade dos nossos dias, também ela marcada pela ganância, pelo roubo, pela
arrogância, pela mania do poder e riqueza. Enfim, pela corrupção!
Lembremos, por exemplo, a figura do nobre que afirmava ser “fidalgo de solar”,
achando-se superior aos outros, por isso achava ter direito à salvação e o
Onzeneiro que queria voltar à vida para recuperar o dinheiro que amealhara
pelos juros excessivos que cobrava aos mais necessitados a quem lhes emprestara
dinheiro. Atualmente, continuamos a deparar-nos com pessoas que abusam do seu
poder e que até são conhecidas publicamente pela prática da corrupção, no
âmbito, por exemplo, da política, da economia, do deporto, entre outros.
No auto, Gil Vicente também quis mostrar que as pessoas na altura já
marginalizavam aqueles que nasciam com uma certa deficiência, na figura do
Joane, o Parvo, que, apesar de tudo, era um ser simples e de alma pura, razão
pela qual mereceu entrar na Barca do Paraíso. Ora, nos nossos dias, este tipo
de pessoas continuam a ser postas de parte pela sociedade. Há até a referir o
caso dos idosos que, por vezes, são abandonados pelos seus familiares.
Sendo assim, com o que acabei de expor, penso que o “Auto da Barca do
Inferno”, texto dramático escrito no século XVI, se mantém indiscutivelmente
atual, estando nós no século XXI.
Inês Gouveia, nº 11,
9º E
Nota:
Imagem da Internet.
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