Neste momento final de mais um ano letivo, a equipa do
Jornal Escolar do Agrupamento decidiu presentear os nossos leitores com uma
entrevista realizada ao Diretor, Professor Elói Gomes, que está precisamente a
terminar o seu mandato.
Não poderíamos, de modo algum, proceder à publicação do
nosso jornal sem ter uma última conversa com quem, durante estes últimos quatro
anos, esteve ao leme deste grande navio constituído pelas várias escolas do
Agrupamento e a quem, desde já, damos os nossos parabéns e agradecemos também a
sua total disponibilidade em nos ter recebido.
CJ – Bom dia! Eu sou a Adriana. Eu sou a Sofia, Eu sou o
Manuel. Eu sou a Margarida. Somos do Clube de Jornalismo, O Ciclista e gostaríamos de conversar um pouco consigo.
D – Com certeza.
CJ - Como se sente sabendo que estes são os seus últimos
momentos na Escola?
D – Sinto-me com a sensação do dever cumprido e, ao mesmo
tempo, com alguma nostalgia, é um misto, um sentimento que nem sei bem
explicar. Evidentemente que foi uma decisão que tomei, a qual foi pensada, foi
bem ponderada, mas que, quando chega a hora da verdade, é sempre difícil. Vou
com a consciência do dever cumprido, pois fiz o melhor que sabia e que podia.
Vou, de facto, com o dever cumprido.
CJ – Há algo que gostaria de ter feito e que não fez? Se
sim, o quê, por exemplo?
D – Nós, por vezes, propomo-nos fazer coisas que nem
sempre conseguimos fazer. Eu tentei fazer sempre o melhor que podia e que
sabia. Não nos podemos esquecer que este é um Agrupamento muito grande, um Mega
Agrupamento que se formou e cuja formação não foi consensual, ou seja nem todos
concordavam com ele e, por isso, era preciso fazer aqui a harmonização. Em
primeiro lugar, houve necessidade de fazer disto um Agrupamento, de ganhar o
espírito de Agrupamento, coisa que não existia. Depois passámos estes 4 anos,
que coincidiram com a entrada da Troika, de grande austeridade e isto teve
reflexos na educação. A educação foi um dos setores que teve bastantes cortes,
cortes aos professores e cortes nos orçamentos, enfim profundas alterações. A
motivação é mais difícil, quando alguém está a ser penalizado no seu salário e
depois até lhe exigem mais horas de trabalho, que passou de 35 para 40 horas.
Um dos nossos objetivos era motivar os professores, o pessoal não docente bem
como os alunos. Foi dentro deste quadro difícil de austeridade, em que houve um
maior número de alunos por turma, menos professores colocados, menos pessoal
docente colocado, que foi preciso gerir tudo isto e motivar todos. É evidente
que, se tivéssemos outras condições, teríamos feito de modo diferente, pois
ficamos sempre com a sensação de que poderíamos ter feito mais! Mas, dentro
deste quadro que referi, fizemos aquilo que foi possível fazer.
CJ - E pelo bem-estar dos alunos?
D – O bem-estar pode ser visto em várias vertentes:
condições de trabalho, vocês sabem as condições que temos aqui na secundária. A
escola viu-se em torno dessa situação e aí os pais, os alunos e até, não dando
tanto a cara, os próprios professores, acabamos todos por levar a água ao
moinho, uma vez que temos uma escola praticamente pronta. Mas têm que pensar
que o Agrupamento é uma grande escola, isto é, uma escola que tem 217 km2,
que é a área do concelho, que está dispersa. Depois, há uns que têm melhores
condições que outros. Os Centros Escolares, por exemplo, têm ótimas condições
de trabalho, bons equipamentos, boas Bibliotecas. Porém, há outras escolas que
não são assim. O que se nota no nosso concelho é que as condições para os
alunos têm vindo a melhorar e a Câmara Municipal tem tido um papel importante.
CJ – Contrariamente, há algo que fez e que lamenta ter
feito? Se sim, será que nos pode revelar?
D – É natural que eu tenha cometido erros e falhas, como
toda a gente. Como se costuma dizer: só falha quem faz, quem nunca faz, nunca
falha! Agora os erros para os termos presentes devem ser aqueles que devem ter
sido significativos, que fizeram qualquer coisa que não correu muito bem, devem
ter sido um marco, ou seja, que causaram danos. Eu desses não tenho. Tenho
aquelas falhas de procedimento normal, aquelas que no dia a dia, muitas das
vezes, nós analisamos as situações, pensamos que é por ali o melhor caminho e
depois chegamos à conclusão que não é. Eu, normalmente, falo no plural, eu sou
o diretor, mas uma das coisas que eu sempre usei foi o espírito de equipa e eu
não me considero o “diretor”. Aliás, os meus colegas de direção tinham o
protagonismo todo, porque eu lhes dava o protagonismo todo, tinham as suas
competências e tomavam decisões, tinham muita autonomia nas decisões que
tomavam. É evidente que há assuntos que são partilhados, que têm de ser
partilhados e discutidos em conjunto, mesmo eu, enquanto diretor, tenho
competência para tomar esta ou aquela decisão, tentava sempre ouvir os meus
colegas e eles faziam o mesmo, mas por vezes eu tomava as decisões sozinho,
assim como eles também o faziam. Depois dávamos conhecimento, partilhávamos a
tomada dessa decisão. Agora, não considero que tenha feito algo que foi uma
mancha, que foi um marco, que tenha sido algo negativo. Quanto à gestão diária,
quem faz gestão sabe perfeitamente que há maus caminhos e há bons caminhos e
que se tenta fazer o melhor, embora nem sempre o que se idealiza é o produto
final.
CJ – Como descreveria a sua vida de professor e de
dirigente de um Agrupamento que inclui um número elevado de Escolas como este?
D – Isto não é fácil, aliás é uma experiência. Eu sou um
professor que começou no 1º ciclo, vocês sabem disso, mas nunca me desliguei do
1º ciclo. Não é fácil para um professor que vem de uma realidade diferente. Eu
fiz quase que uma escala, um percurso escalonado. Eu comecei por ser Presidente
da Área Escolar, que surgiu aqui em Anadia. Aliás, Anadia foi piloto e teve
essa experiência durante seis anos, depois criou-se o Agrupamento Horizontal,
que tinha todo o Pré-escolar e 1º ciclo, o concelho todo, depois criou-se o
Agrupamento Vertical que ia até ao 9º ano, que incluía a escola lá de baixo,
tinha o Pré-escolar, 1º ciclo, 2º ciclo, 3º ciclo e depois apareceu este Mega
Agrupamento que é desde o Pré-escolar até ao 12º ano. Eu subi estes degraus
todos. É lógico que fui acumulando experiência, havia áreas, coisas que eu não tinha,
formação específica que não dominava mas, tal como eu disse há pouco, as
equipas são precisamente para isso e a minha preocupação foi sempre ter uma
equipa polivalente, em que conseguíssemos ver todas as áreas e tendo uma boa
equipa e tendo aquela gestão intermédia, os coordenadores de departamento, os
coordenadores de estabelecimentos, os coordenadores de disciplina, tendo estas
estruturas internas a funcionar é fácil chegar a todo o lado. Quer dizer, não
sou omnipresente, não posso estar em todo o lado, mas nós temos em todo o lado
alguém que responde pelas situações. Com esta organização é mais fácil, pois
uns são mais especialistas numa área, outros são mais noutra e assim uns
dominam mais umas situações do que outras e nós passamos a palavra a quem está
em melhores condições de responder. Muitas das vezes temos dúvidas, reunimos,
conversamos, constatamos e só assim é que se consegue fazer a gestão do chamado
Mega Agrupamento. São muitos estabelecimentos, embora cada vez sejam menos
porque os Centros começam a juntar as pequenas escolas e já temos poucas
escolas dispersas, porém, já temos quatro Centros Escolares.
CJ – O que mais lhe agradou ao longo da sua carreira
docente e, contrariamente, o que mais o desiludiu?
D – Eu não tenho grandes desilusões na minha carreira. O
que mais me agradou foi as pessoas que conheci através destes anos todos, tanto
como professor, como gestor, eu conheci muita gente, aprendi muita coisa, criei
muitas amizades, tenho muitas amizades. Uma característica que eu me reconheço
é que eu sou fácil de criar amizades e de criar boas relações. Recordo todos,
desde os meus primeiros colegas do 1º ciclo, lembro-me de entrar na escola aqui
em Anadia, lá em baixo, eu era o mais novito que lá estava, eu olhava para os
outros professores e nem sabia como é que os havia de tratar, não sabia se os
via como os meus colegas, se os via como professores. É um misto de sensações e
eu passei por isso. Tive sempre apreço pelos meus colegas. Uma das coisas que
eu recordo foi o apoio que eu sempre tive, desde o 1º ciclo, quando aí
trabalhei com os meus colegas e depois ao longo da gestão, tanto com as
direções como com os professores, pessoal não docente, os pais e as associações
de pais. Aqui é importante realçar as associações de pais porque, muitas das
vezes, se olha para elas como algo que está fora da escola e que vem aqui só
para criar problemas. Eu nunca vi as associações assim e sempre criámos uma
relação que foi até muito além do que é institucional, são as tais relações de
amizade. A vantagem que consegui criar para além da relação institucional,
formal, eu até pessoalmente, mesmo com o município, com a câmara, que são
nossos parceiros e nós precisamos deles todos, que faz parte daquilo a que
chamamos comunidade educativa, consegui, como estava a dizer, criar uma relação
de amizade. Por exemplo, com a câmara, eu consigo resolver muitas situações,
pois já há essa relação de amizade. Eu estou a dizer a câmara, porque é um
parceiro forte que nós temos. As associações de pais têm também colaborado
connosco, nomeadamente em algumas iniciativas.
CJ – Como gostaria que fosse o perfil do seu sucessor?
D – Eu acho que o meu sucessor tem bom perfil. Não é por
acaso que o futuro diretor, o professor Jorge Humberto, estou a dizer futuro,
porque já foi eleito mas ainda não tomou posse, tem todas as condições para ser
um bom diretor. Reconheço-lhe muitas capacidades, com uma capacidade de
trabalho fora do normal. Trabalhou comigo 4 anos, fui eu que o escolhi para
subdiretor, porque já via nele condições para mais tarde ser diretor, ou algo
no género. É lógico que as personalidades são diferentes, as pessoas são
diferentes, porque há uma matriz de comportamento que eu penso que ele deve
manter mais ou menos dentro do que tem vindo a seguir, mas depois há o cunho
pessoal. As pessoas são diferentes, têm o seu cunho pessoal, agora eu penso que
ele tem todas as condições para ser um excelente diretor. Tem capacidade de
trabalho, é aplicado, como costumamos dizer “veste a camisola”, domina muitas
áreas, desde a distribuição de serviço, horários, CEF, Profissionais, é talvez,
dentro do Agrupamento, a pessoa que eu conheço mais polivalente. Vai ser um bom
diretor.
CJ – A direção tem afirmado que vamos mudar para a escola
nova. Contudo, temos ouvido que existem problemas de legalização e que as obras
não vão terminar. Qual é na realidade o ponto de situação? Pode esclarecer-nos?
D – A informação que nós temos tido da Parque-Escolar, os
responsáveis da obra, é que vamos ter todas as condições para o ano começar na
escola nova, em setembro. Tem-nos sido dada essa garantia, inclusivamente o
Conselho Geral várias vezes tentou fazer o ponto da situação e essa informação
circulou nesse órgão, logo é uma informação oficial. No entanto, não posso
dizer que desconheço algumas notícias que têm vindo no jornal que têm a ver com
o terreno e registos, espero francamente que isso não venha a afetar a abertura
da nova escola no próximo ano letivo, é só o que eu desejo. Agora, é evidente
que oficialmente é para abrir!
CJ – Gostaria de acrescentar algo mais?
D – Gostaria que daqui para o futuro as coisas melhorassem
em termos de aproveitamentos e comportamentos. Gostaria que muitos alunos não
viessem à escola só por vir à escola. E que os alunos aproveitassem porque no
futuro é que vão reconhecer o que perderam. É pena que muitos alunos, que temos
aqui, além de não aproveitarem, prejudiquem ainda outros alunos.
CJ – Considera-se uma pessoa realizada?
D – Realizada uma pessoa nunca está, mas sinto-me bem
comigo próprio.
CJ – Para finalizar, gostaríamos de saber o que pensa do
nosso Clube?
D – Acho que é espetacular. Tem feito um trabalho bastante
importante, tem divulgado o que de bom acontece na Escola. Uma vez que o que
muitas das vezes acontece é que é divulgada qualquer situação menos boa que
acontece na escola, um acidente por exemplo, toda a gente comenta, toda a gente
sabe. Se fizermos uma coisa boa, quase ninguém sabe. Por isso, o vosso papel é
importante nesse aspeto, é divulgar o que nós temos, o que nós fazemos e são
muitas coisas e vocês têm tido um trabalho muito bom, de muita qualidade.
Inclusivamente tem havido elementos do clube que têm sido premiados em
concursos. É um Clube de salientar, é um clube que já vem de trás, mas que está
em pleno, está em força, até parece que tem mais força do que a tinha. O
trabalho é de qualidade, penso e é fundamental que se divulguem as coisas que
nós fazemos. Agradeço-vos pessoalmente o contributo que vocês deram para a
divulgação da nossa escola e dos eventos, pois conheço e reconheço o vosso
trabalho.
CJ – Em nome d’O
Ciclista, desejamos-lhe um bom período de descanso e agradecemos a sua
colaboração.
D – Eu a vocês não desejo um período de descanso, mas que
continuem a trabalhar arduamente na divulgação da nossa escola e em prol da
nossa escola.
Caros leitores, a entrevista que acabaram de ler resultou
mais numa conversa amena e emotiva, conforme puderam apreciar, do que numa
entrevista formal que talvez estivessem à espera. Nós, que já há muito
conhecemos o nosso querido diretor, nem nos admirámos muito com tal facto. Por
isso, apresentamo-la tal e qual como ela decorreu…
Adriana
Matos, Manuel Garruço, Margarida Lagoa e Sofia Pedrosa
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