20 de janeiro de 2014
O pequeno floco de neve
Mais um dia, vejo o sol
nascer e eu aqui na imensidão do oceano. Brinco deslizando preguiçosamente com
as minhas irmãs e amigas, espraiando-me por entre corais e sentindo os peixes e
as anémonas que nadam deliciando-se na limpidez da nossa frescura.
Gosto de deambular
por entre os barcos dos humanos e ver os seus rostos queimados pelo sol e os
seus cabelos esvoaçando ao vento. Ah! Como adoro sentir a braçada vigorosa dos que
se aventuram e mergulham e nadam, ou fazem aquilo a que apelidam de surf.
Às vezes formo, com
as minhas amigas, uma onda gigante e vou beijar suavemente a areia quente da praia,
depois volto para longe da costa, onde me aventuro até aos fundos oceânicos,
deixando-me depois deslizar lentamente para a sua superfície.
Mas, o que se passa?!
O que é isto que estou a sentir?! Estou a afastar-me do mar… Estarei a voar?!
Uau! Estou a sentir-me tão leve! Está tudo cada vez mais longe, mais alto, o
oceano, a costa, as casas, as pessoas, tudo a ficar pequenino. Mas que bonito! Contudo,
para onde estarei eu a ir?!
Ui! Terei eu batido
em algo?
Uma gota, tal como eu
ainda há pouco tempo … Mas agora encontro-me num sítio fofo e não tão agitado.
Onde estou eu, afinal? E a fazer o quê?
- Estás numa nuvem. –
respondeu-me a gota na qual eu tinha chocado. – Irás voltar lá baixo.
Porém, depois desapareceu no meio das outras
gotas e eu não pude fazer mais perguntas.
Sinto-me perdida. E
já estou há muito tempo cá em cima, e cada vez chegam mais gotas e a nuvem com
o vento viaja de lugar para lugar.
Ups! Está a ficar
muito frio. Estou a sentir outra vez que estou a ficar tão estranha. Estou a
deparar-me outra vez com transformações, mutações… estou novamente a ficar
diferente…
De repente, como se
algo me impelisse e sem que eu conseguisse evitar, começámos todas a cair e que
frio que está! Voltei a voar e apesar do frio intenso, a paisagem era magnífica.
O céu tinha um azul diferente do que eu me lembrava. Fui caindo, caindo, caindo
tão suavemente, sem perceber muito bem o que me acontecera. Olhei, então, em
volta de mim e vi o espetáculo que eu e as minhas irmãs e amigas fazíamos.
Tínhamo-nos transformado em belíssimos flocos de neve.
Finalmente, decidi deixar-me
cair sobre o branco tão puro e aliar-me às minhas colegas e ajudá-las a tecer o
já imenso tapete de neve. Aqui só se vê crianças a brincarem com os seus cães e
trenós, fazendo bonecos de neve. Adolescentes a fazer esqui. Que maravilha!
Afinal, todos os meus
receios se dissiparam, pois nunca me senti tão realizada, feliz e confortável.
Adriana de Matos, O Ciclista
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