23 de janeiro de 2014
O desejo da pequena era apenas liberdade
O desejo da pequena era apenas liberdade:
E lá estava Carolina, os seus pés delicados pisavam a relva
verde do lindo jardim de uma casa abandonada de dois andares, no alto de uma
pequena planície afastada da cidade. Flores de várias espécies cresciam de
uma forma desordenada no jardim cheio de dentes-de-leão, que era a planta
que a rapariga mais gostava…
A garota aparentava ter uns dezanove anos, olhos cor de mel que
se assemelhavam ao mel colhido das abelhas, usava um vestido branco de alcinhas
que mal chegava aos joelhos! Era tão leve que flutuava com o vento, assim como o
seu cabelo liso, muito belo, cor de oiro cheio de mechas que ia até metade das
costas.
Sentou-se preguiçosamente no tapete natural, olhou ao redor e
pegou num dente-de-leão.
Observou-o por algum tempo, fechou os olhos e soprou-o levemente,
como se estivesse a apagar uma vela de um bolo de aniversário. As folhas voaram
em círculos indo para longe e cada vez mais alto, em direções diferentes e
deixando aquele magnifico firmamento azul salpicado de branco. Abriu os olhos e
deu um grande sorriso.
Carolina deitou-se na relva e virou lentamente o seu rosto
angelical e frágil para o céu tentando descobrir formas e desenhos nas macias
nuvens que se movimentavam lentamente naquela manhã ensolarada e morna de
Primavera. Riu ao ver pássaros voando e piando, pareciam cantarolar uma
maravilhosa e harmoniosa melodia que só ela podia ouvir.
A menina levantou-se enquanto inalava o cheiro delicioso e
relaxante que vinha de um lugar distante misturado com o cheiro das flores
selvagens daquele campo. Abriu bem os braços e começou a dar voltas e mais
voltas até se sentir tonta, tentando lembrar-se de uma música que já tinha
escutado num lugar que gostava muito. O seu riso preenchia o ar com tamanha
pureza e alegria que alguns dos pequeninos animais se chegaram um pouco mais
perto dela, só para admirar aquele pequeno espetáculo. Passarinhos, empolgados,
rodeavam-na. Os seus pés pareciam flutuar à medida que dava passos graciosos e
leves, como se estivesse num palco dançando alegre uma coreografia que aprendera
numa das suas aulas de ballet.
Enquanto rodopiava, sentiu as suas asas felpudas abrirem num
rápido movimento. Um anjo… Ou melhor, uma “anja”. Um pesar enorme lhe recaiu
quando, a pequena, se lembrou de onde tinha vindo. Olhou para o céu mais uma
vez. Nunca o havia visto tão de perto, parecia até uma ilusão estar parada ali.
Normalmente, era proibida de descer ao mundo, mas desde que
fugira de casa de seus pais e daquele pesado e assustador ambiente com o qual
fora obrigada a conviver dezanove anos da sua vida começou novamente a sonhar!
Apreciava cada momento e
não se arrependia de ter desrespeitado regras.
O olhar pesado deixou-a e uma calmaria muito forte a invadiu. Há
muito que queria ser livre e havia conseguido!
Começou a andar devagar, sem ritmo definido, mas com a esperança
de um novo futuro.
Estava finalmente livre… Assim como as folhas do dente-de-leão
que dançariam uma eterna dança na brisa suave.
Havia esperança!
Margarida Carlota Lagoa, O Ciclista
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