A Lagoa de Torres, situada na freguesia de Vilarinho do Bairro, fica encaixada entre duas povoações Torres e Poutena.
A Lagoa tem o seu início numa pequena nascente “O Olho”. Esta fica situada no Vale D. Pedro, nome que vem desde o reinado de D. Pedro I. À pequena nascente outras se vão juntando formando a Lagoa de Torres.
O seu ponto mais profundo era a Regueira Larga, um dos locais onde existia água durante todo o ano.
Antigamente, as águas eram límpidas porque havia o guarda rios que zelava pela limpeza das valas e regueiras da Lagoa. Nessa altura, a Lagoa era rica em peixes, especialmente enguias e robacos.
Uma das formas de pesca que se utilizava era a sartela. Fazia-se um molho de minhocas presas por um fio, este era atado a um pau e lançado à água para atrair as enguias. Outras vezes, era utilizado um cesto de vindima que era posto no meio da vala, havendo duas pessoas que batiam a vala com um maço. As enguias tentavam fugir e ficavam no cesto. Havia ainda quem pescasse com um galricho, embora este tipo de pesca fosse menos usado na Lagoa de Torres.
A Lagoa era o habitat perfeito para muitas aves que ali encontravam comida, água e abrigo. Por isso, era muito frequentada por caçadores que caçavam patos, rabilas-coelhas, estorninhos, rolas…
Quase todas as famílias de Torres e da Poutena possuíam uma “leira” à beira da Lagoa onde plantavam e semeavam os seus “mimos”: feijão verde, alface, pepinos, abóboras… isto porque, sobretudo a povoação de Torres, no verão, não tinha água para regar os quintais.Na Lagoa havia vários poços de onde se tirava água à cegonha ou a cabaço. No verão, era vulgar ver as carroças dos bois carregadas com uma pipa levando a água que se utilizava no dia a dia da população.
As vergas dos vergueiros eram todas cortadas para fazer cestos de vindima e de arco, poceiras e para empar as vinhas.
Há anos atrás, a Lagoa produzia muito bunho e com ele faziam-se esteiras que serviam para cobrir o milho nas eiras, para dormir a sesta, para fazer divisórias nos sobrados e ainda para deitar os mortos até à chegada da urna. Chegaram mesmo a servir de tema para quadras populares utilizadas nas melodias que alegravam festas e romarias: “Só em Torres se fazem esteiras, gamelas e salgadeiras”.
O junco, (espécie vegetal parecida com o bunho mas mais baixa) era outra planta que a população apanhava com frequência na Lagoa. Servia para enfeitar as ruas na visita pascal e nos dias de festa, para pôr no fundo dos cestos de vindima e meter a loiça a escorrer, para fazer capachos ...
A vegetação rasteira era cortada no fim do verão, quando a Lagoa já tinha pouca água. Seguidamente, era transportada, nas carroças e carros de bois para as estrumeiras, produzindo assim o estrume para as sementeiras. Ficavam só as árvores de maior porte: vergueiros, choupos e salgueiros.
Durante os dias quentes de verão, os jovens adoravam ir para a Lagoa tomar banho. Aí, a maioria aprendia a nadar. Este divertimento fazia a aflição dos pais, pois algumas vezes aconteceram acidentes. As águas da Lagoa tinham sanguessugas que com frequência se agarravam ao corpo dos destemidos nadadores e de todos aqueles que iam descalços para as suas águas. Havia também quem as apanhasse propositadamente para que estas sugassem o sangue pisado do corpo das pessoas. No entanto, a Lagoa era o local mágico que atraía tanto os mais novos como os mais velhos. Era o sítio preferido das crianças tanto para brincadeiras como piqueniques.
Segundo testemunhos da população mais idosa, a Lagoa de Torres foi o sol que iluminou e deu vida a esta região.
Durante vários anos, a Lagoa e as suas margens estiveram descuidadas e ao abandono, sendo um local inacessível, medonho e perigoso para quem o quisesse visitar.
Felizmente, um grupo de pessoas uniu-se para revitalizar a Lagoa, transformando-a num espaço muito agradável e aprazível.
Alunos da EB1 da Poutena
Professoras
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