Quero ver a autodestruição!

 

Querida humanidade,

Escrevo-te esta carta, talvez como forma de demonstrar a minha admiração pela nossa raça, visto que somos seres a ser admirados. Ou talvez o faça para deitar cá para fora todos os pensamentos bons e maus que eu, como substância pensante, possuo dentro de mim. Bem, independentemente da razão, o importante é que a bomba já foi lançada, e, ao invés de a tentar desativar, ao invés de tentar corrigir tudo e retirar o que disse, vou antes tentar explicar o meu egoísmo. Quero ver a nossa autodestruição! Sim, isso mesmo! Quero ver o apocalipse! Porquê? Essa é a parte difícil.

Queria antes dizer que escrevo esta carta da forma menos formal possível, pois considero estabelecida uma relação de amizade para contigo, humanidade. Sim, sou Cristão, admito, mas isso não me tira qualquer tipo de credibilidade. Pelo contrário! E é por ser Cristão que esta carta se torna a coisa mais difícil do mundo! A razão disso? Digamos que a minha ideologia estúpida e sem sentido, pois como pode aquele que deseja a morte de um amigo considerar-se humano? Foi esse pensamento que me fez recuar um pouco, pensar melhor antes de escrever atrocidades numa carta tão importante para mim!

Quando entrei nesta cadeia, nesta prisão de pensamentos negativos direcionados diretamente para mim, concluí que, se eu não chegasse a uma razão, se eu não alcançasse uma justificação lógica para o meu desejo incomum, apenas poderia ser considerado um psicopata. Não é que houvesse algum problema, pois se fazia parte da minha natureza, do meu ser enquanto existência insignificante que sou, então apenas podia admiti-lo, e não havia nenhum mal nisso. Essa era a minha derradeira ideologia egoísta! Mas logicamente ninguém gosta de ser assim chamado, pelo que então decidi ir atrás da razão existente dentro de mim que me fazia ter tal desejo.

A primeira coisa de que eu me apercebi acerca da misteriosa razão, foi que esta era inalcançável. Por mais que eu pensasse, por mais que eu raciocinasse, não conseguia encontrar aquilo que me levava a sonhar com o ridículo. Parecia que o meu cérebro simplesmente queria brincar comigo (não é que já não o fizesse, mas desta vez era diferente). Todas as justificações, à primeira vista lógicas, mostraram-se falíveis, e muitas pareciam ter sido retiradas do vazio das coisas mais sombrias. Da mente de um verdadeiro “madman”. E eu não sou assim. As minhas boas ações mostram que eu não sou assim. Ou talvez…?

Recusei-me a acreditar na loucura da minha mente. Algo estava a incomodar-me, uma falha grave na máquina mais poderosa obtida pelo ser humano. E uma falha, num raciocínio claramente perigoso e aterrorizador, só levaria a que ninguém me ouvisse. Ninguém me escutasse. E isso era o mais assustador. Quero que a minha palavra se faça ouvir, nem que tenha de cometer o maior dos crimes para isso. Algo está errado comigo. Até a mais inocente das crianças conseguiria perceber. E por momentos, por breves momentos, percebi que tinha perdido. Perdi para a loucura das coisas, das ideias que fariam aquilo que eu tanto procurava fazer desaparecer que nem poeira. Perdi, e admito isso. Só posso admitir isso…

Foi no meio dos meus pensamentos sem sal e sombrios que algo de súbito invadiu a minha mente. Um verdadeiro clarão de luz, ainda que baça e egoísta, uma luz única que não deixava ninguém brilhar senão ela. Mas uma luz é uma luz, branca e cheia de esperança. E era essa a luz que eu precisava. Essa era a luz que faltava no meio da geringonça destruidora que era a minha mente. Talvez estejam confusos: eu também estava. Mas o significado das coisas, mesmo daquelas que parece que nunca se vão encontrar, aparece sempre e essa é a beleza da vida. Isso é o que me faz amar a vida.

Quero ver a destruição do mundo, porque sou egoísta. Porque sou super egoísta. O maior egoísta do mundo. Foi isso que a luz me disse, e era isso que faltava na minha tese berrante. Quero ver a destruição do mundo, porque não quero morrer sozinho. Porque não quero morrer. Assusta, mais do que qualquer coisa, saber que depois de ser poeira, ninguém sequer deitará uma lágrima por alguém tão insignificante como eu. Porque nem tu, mundo, mudarás por alguém como eu. É assim que é a vida, e é por isso que eu a odeio. Quero ver a destruição do mundo, porque assim, quando morrer, ninguém se lembrará de mim, porque não haverá ninguém para o fazer. Ninguém se lembrará de ninguém, e aquilo que sobrará será ninguém. Ninguém como eu. Eu não sou ninguém…

Pedro Fernandes, 12.º ano, Escola Básica e Secundária de Anadia, AEA

 

Nota:

Imagem retirada de https://aterraemmarte.com/a-historia-do-fim-do-mundo/