O texto que hoje
apresentamos foi escrito especificamente para ser lido na “Festa da Paz” que os
Lions Clube da Bairrada promoveram, na Biblioteca Municipal de Anadia. O Ciclista publica-o neste dia que é
dedicado à memória das vítimas da primeira bomba atómica em Hiroshima no Japão (6
de agosto de 1945).
PAZ
No jardim, as roseiras ainda se vestem
de multicores, saudando os visitantes que, nesta época primaveril, ainda são
escassos. A imensidão daquele azul libertador, onde o mar se confunde com o
céu, recebe quem ali chega de braços abertos com um sorriso de boas vindas.
É nesta paz que repouso e gosto de me
deixar andar sem tempo, identidade, ou memória, apenas livremente!
É neste espaço que afasto o tormento
que há muito vivi e que tento, em vão, esquecer. Vêm-me, por vezes, à lembrança
esses momentos em que no céu ecoava o ribombar do canhão disparado sem pedir
licença a ninguém. Em que o rasgar do escuro da noite até teria sido belo, não
fosse a destruição de um mundo que poderia ser de sonho e de esperança.
Lembro-me bem das crianças que nunca o foram. De homens que se odiaram só
porque sim. Das mulheres que choraram a perda de vidas inutilmente.
A paz desejada tardou em chegar… Mas
valeu a pena sonhar!
Neste lugar paradisíaco onde me
encontro, volto a sentir a suave brisa que me envolve e oiço a bela melodia do
tempo que ela entoa. Simultaneamente, vejo-a acariciar suavemente a fina pele
dourada da areia. A bela areia olha-me deslumbrante, irresistível e deixo,
então, o meu corpo deslizar atraído para ela. Deitado na morna areia, escuto o
imenso oceano sussurrar o seu eterno amor à serena praia e a furtar-lhe,
carinhosamente, um beijo quando ela se encontra distraída.
Um fiozinho pinta de branco o belo
azul celeste, mas não consegue fazer sombra ao Sol que irradia a felicidade dos
deuses. As aves voam majestosamente mostrando todo o esplendor da sua plumagem
e eu sinto a liberdade que elas soltam, a paz que espalham no ar e tudo me
parece tão irreal.
Neste paraíso ouvem-se os risos puros
das crianças que libertam os seus gritos inocentes, em brincadeiras alegres e
cativantes.
E, nas tuas mãos, mãe natureza,
deixo-me languidamente voar numa paz tão imensa e tão bela que, de tão límpida
e serena, gostaria de a ver conquistada assim para sempre. Este é o meu refúgio
e quem me dera que em todo o Mundo a Paz fosse possível e lugares como este não
fossem utopia.
Adriana Matos e Sofia Pedrosa, O Ciclista
Sem comentários:
Enviar um comentário