Parte I
Uma viagem por um paraíso aquático
Lembro desde sempre o meu fascínio pela tua imensidão e grandiosidade. Sim, falo de ti. Às vezes, pareces-me azul, quando as tuas águas estão mais calmas, serenas e pareces convidar-nos a entrar e a partilhar contigo horas de puro deleite. Outras, verde. Nesses momentos, sinto um arrepio na espinha e parece-me que esse mar que tanto adoro está furioso com alguma coisa, com alguém. Mas, por muito que sejas mau, também nesse momento gostaria de poder explorar-te, de entrar em ti e conhecer-te, de saber porque estás assim. Sei que não me farias mal, pois eu não te quero mal. Apenas queria ir conhecer-te. Outras e, nessas sim, és mesmo assustador… és negro, espumas e provavelmente, mesmo que eu quisesse, não me deixarias entrar. Expulsar-me-ias, batendo-me com as tuas fortes vagas, fazendo com que o meu frágil corpo não aguentasse as tuas investidas de touro enraivecido.
Sim! Tu tens muitas facetas.
E eu, provavelmente, sou uma tola, pois adoro todas elas. Todas elas me fascinam!
O rugir das tuas vagas durante o tenebroso inverno, a tua lassidão no esplendoroso e quente estio. Sim! Tu fascinas-me.
Chamo-me Sofia. Vivo em Anadia. Teoricamente vivo no litoral. Mas, na realidade, sinto-me tão distante de ti! E como eu gostaria de te ver todos os dias assim como de te poder tocar, sentir com os meus dedos, mesmo quando estás frio, mesmo quando espumas e a tua fúria é imensa.
Quando era pequenina, íamos muitas vezes passear até junto de ti. Eram dias tão felizes! Porém, agora, as responsabilidades são outras. Há sempre tanto para estudar e nem sempre temos tempo. Portanto, as nossas visitas são adiadas.
É por isso que adoro o verão, quando estamos de férias.
No entanto, todos aqueles dias em que acordo naquelas manhãs sonolentas e em que os meus pais me tentam arrancar dos meus lençóis quentinhos e aconchegantes, dizendo-me que já chega, que já são horas, “mas horas para quê?” pergunta-me o meu subconsciente, fico um pouco aborrecida e daí que eu pense: “Deixa-te estar!”. Mas, claro que depois prefiro acatar as suas ordens, em vez de escutar as sábias palavras dos meus pais. De seguida, quando me apercebo que estou atrasada, que afinal é para te ir ver, tal é a minha alegria que abro de rompão a doçura do vale que me protegeu durante mais uma noite repousante e corro para a minha casa de banho, onde um revigorante banho me dá a força necessária para o sermão que eu sei que estou prestes a escutar.
No momento em que desço para, finalmente, tomar o pequeno-almoço e partirmos para junto de ti, já todos me aguardam com aquela expressão: “És sempre tu! És sempre a mesma.” E, por vezes, sou e tenho a consciência de que nem sempre consigo mudar!
Mas a minha ansiedade depressa faz esquecer o meu atraso e o meu pensamento voa até ti. Até ao mais profundo do teu ser.
Imagino o meu futuro cuidando de ti, dos teus seres.
E, neste meu deambular pelo meu futuro, quase nem me apercebo que chego junto a ti.
A minha irmã já corre pisando a tua areia, enquanto os meus pais tentam encontrar um bom espaço para colocar os necessários apetrechos para nos protegerem dos raios solares.
São férias mas eles, preocupados como são, não descuram da nossa saúde.
Tiro a escassa roupa que cobre o meu fato de banho e, juntamente com a minha mãe, de quem eu herdei este gosto pela água, e da minha irmã, estou prestes a deixar que me acaricies os pés, primeiro suavemente e depois de um modo mais intenso, deixando-os completamente submersos pela areia que depositaste sobre eles.
Apenas um olhar da minha mãe foi suficiente para perceber e então corremos as três para, após um impecável mergulho, rasgarmos a tua onda perfeita e virmos depois à tona e nadarmos ao sabor dos teus caprichos. Todos os dias de verão gostamos de fazer este mesmo ritual.
Ficamos a nadar durante um tempo infinito até sentirmos que a fome é superior ao gosto de estar contigo e termos de satisfazer as nossas necessidades.
O almoço é feito à base de peixe grelhado e saladas. Logo a seguir, e depois de um breve passeio, regressamos a casa. Contudo, eu gosto de ir para a varanda da nossa casa que é suficientemente alta e dela posso contemplar-te e falar contigo, pelo menos no meu pensamento…
- Sabes?! Eu quero estudar os organismos que vivem em ecossistemas de água salgada, como por exemplo os que habitam no teu meio e das relações entre eles e com o ambiente, que és tu, o mar.
E eis que te ouço afirmar:
- Mas, tu sabes que eu sou muito extenso e por isso, na tua vida tão minúscula não me vais conseguir estudar todo, nem a mim nem aos seres vivos que em mim habitam.
Entre risos, acabo por te dizer:
– Claro que não, Mar! Nem é essa a minha intenção. Eu sei que os oceanos cobrem mais de 71% da superfície da Terra e, assim como o ambiente terrestre é muito diverso, o ambiente aquático também o é. É por isso que tens muitas formas de vida e elas são muito diferentes. Desde os seres microscópicos, como o plâncton, incluindo o fitoplâncton, que é muito importante, como tu bem sabes para a produção primária no teu ambiente marinho e outros animais de maior dimensão, como são os cretáceos, como é o caso das baleias gigantes, ou os golfinhos que são os que eu mais adoro e que pertencem à família Delphinidae.
- Infelizmente, há a outra parte. Há os Homens que poluem as minhas águas. Eu sei que o meu grande volume de água, a minha agitação e composição física e química foram usados como despejo de imensos esgotos urbanos e industriais.
- Sim, mas atualmente já há campanhas a decorrerem e as pessoas, o público em geral já está muito mais atento a esses pormenores e garanto-te que a despoluição está em curso.
- Mas também a minha grande riqueza em peixes, que levou o Homem a explorar-me e que criou um enorme desequilíbrio na minha fauna?!
- Sim, também sei disso. E sei que foi difícil de evitar. Mas sei que também há campanhas de monitorização constante dos ecossistemas marinhos, feitos pela ecologia marinha. Por exemplo, a biologia marinha também está a utilizar ramos da ciência aplicada, como a aquacultura de peixes, mariscos e algas, componentes importantes para a nossa dieta alimentar. E isso vai salvaguardar mais as tuas espécies.
- Talvez seja uma solução. Vamos aguardar para ver. Mas sabes, Sofia, pelo que vejo, já não precisas de vir estudar-me. Tu já sabes muito sobre mim.
- Quem me dera, Mar! Contudo, tu bem sabes que isto não é nada. Quero que saibas que eu, em 2010, tive uma prenda maravilhosa dos meus pais. Fui interagir com os golfinhos. Eles deram-nos algumas explicações sobre a vida marinha e sobre a família Delphinidae. Eu senti-me como se nada soubesse. Ah! Como gostaria de ser como eles! Gostaria assim de poder trabalhar com os golfinhos, estar com eles, nadar com eles, bem como visitar e conhecer as tuas profundezas. Para isso, sei que tenho de estudar muito, que ainda tenho um longo percurso a trilhar, mas sei que tenho vontade para o fazer e que vou conseguir.
- Claro que sim! Então, porque não começas já? Tens um fato de mergulhadora?
Continua...
Anseio pelo resto do texto... atraiu a minha completa atenção e eu gosto muito de ler. Se for bem escrito.
ResponderEliminar