Umas férias e um mistério - conclusão
Parte II
Ficámos a discutir ideias até o brilho do luar entrar na tenda. Então, fizemos uma fogueira e ao som melodioso da guitarra do Mateus dançámos e cantámos até o sono nos invadir a alma.
Acordámos, cansados, mas felizes, já o sol ia alto. No que restava daquela manhã, demos um passeio pelo rio e recordámos alguns dos momentos do nosso primeiro ano do secundário.
Durante a tarde, voltámos à praia. Jogámos à bola e às raquetes e, quando íamos refrescar-nos um pouco nas águas cálidas do mar, eis que algo tinha dado à costa mesmo à nossa frente. Era uma garrafa…
A Ana ficou enervadíssima, pois ainda no dia anterior tínhamos procedido à limpeza do mar e do areal. No entanto, o Mateus, com a sua perspicácia e espírito de aventura, observou que a garrafa continha algo aprisionado no seu interior. Fez deslizar a rolha de cortiça e, sob a abóbada das nossas três cabeças, lá estava um pedaço de papel envolto numa fita de seda vermelha. Peguei no fragmento como se valesse ouro e, com a voz marcada pelo espanto e pelo entusiasmo, li:
“Muitos mistérios o mar guarda
Alguns difíceis de entender
Mas se o teu coração ouvires
O horizonte poderás ver” ATURG
Ficámos boquiabertos, espelhando os nossos rostos uma surpresa imensa. Até que a Ana inquiriu:
-Quem terá escrito isto? Assinou como ATURG!?
Ao que o Mateus respondeu:
-ATURG!? ... É GRUTA! Está escrito ao contrário! É isso! Um dos mistérios do mundo está numa gruta!
Corri a abraçá-lo de entusiasmo e então, caminhámos pela costa à procura de uma gruta. Encontrámos uma onde os pescadores guardavam as redes, mas nada mais que isso.
Ao final da tarde, sentei-me na areia e o Mateus sentou-se perto de mim. Em virtude do frio, ele tirou o casaco e aconchegou-me com ele. Deitei a cabeça no seu ombro e a sensação de conforto e proteção era enorme. Estava dispersa a ouvir as ondas a dar à costa e o canto das gaivotas, quando, ao apurar a audição verifiquei que num certo local da costa as ondas batiam menos intensamente…devia existir uma reentrância nas rochas! Corri imediatamente para lá, com o Mateus e a Ana no meu encalço.
De facto, existia lá uma gruta. À partida, era uma gruta normal, mas quando me virei e vislumbrei o horizonte e o pôr-do-sol como nunca assim vira, percebi que aquela era a que procurávamos. Seguimos para o seu interior e encontrámos um pequeno lago, no qual o sol incidia pelas fissuras da gruta. Ficámos fascinados com a sua água pura e serena e, ao tocarmos na mesma, algo emergiu à superfície… Era um pequeno baú de madeira… A Ana tirou o baú da água e, quando todos lhe tocámos para sentir a magia da madeira envelhecida, este abriu-se melodiosamente. Dele irradiava o brilho dourado de três búzios do mar. Cada um de nós pegou num, e com eles ouvimos o sussurro do oceano … Guardámo-los como amuletos e, desde então, percebemos que a amizade e o amor são o maior mistério da humanidade.
Envolvemo-nos num longo abraço e, tendo o céu como limite, deitámo-nos na areia a ver as estrelas do firmamento… Ao meu lado estava o Mateus. Olhou-me nos olhos, deu-me a mão e assim ficámos até ao raiar da manhã…
Joana Pereira Moniz, 10º A, nº 12
Escola Básica e Secundária de Anadia
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