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domingo, 9 de setembro de 2018

Vencedor do Conto inédito dedicado ao livro e ao prazer da leitura e de homenagem ao Gustavo Campar


Parabéns, Adriana de Matos Pedrosa, pelo prémio obtido!

Uma luz no céu!
Sem querer acreditar que a vida se escapava pelos mais ínfimos poros do seu corpo, ele dirigiu-se, pela última vez, àquele mágico lugar.
Parecia ser um dia igual a tantos outros. Não que os dias fossem todos iguais. Não eram! Todavia, este não era um dia diferente dos demais dias. Era um dia que jamais deveria ter acontecido, não para muitos, mas apenas para ele. Ele, a quem todos admiravam pela sua simpatia, afabilidade e generosidade.
Ele, que tinha tudo para ser, um dia, um grande homem, não pôde alcançar esse futuro, que se esvaiu sem quase se aperceber!
Nesse dia, em que o céu se pintou de azul, ele estava no tal lugar mágico, onde tudo acontece: uma biblioteca. Era ali que ele procurava o seu saber. Era nesse lugar que buscava a magia, a beleza dos lugares e cultivava a sua aprendizagem sobre a vida.
Na sua, ainda, tenra idade já mostrava uma grande sabedoria e extrema educação. Não havia dia nenhum, em que dos seus lábios não brotasse um afável “Bom dia!”, uma qualquer palavra de apreço, não fingida, nem forçada. Do seu coração emanava sempre a pura e plena amizade, sobressaia a grandeza do seu ser.
Que mais se pode esperar de um colega que a amizade? É nela que reside a essência da vida. Ele era aquele menino com quem se partilham brincadeiras, gargalhadas. Ele era aquele menino com quem é fantástico conviver e privar. Os seus colegas chamaram-no de amigo! Haverá melhor adjetivo para se descrever alguém?
Tinha ânsia de saber. Sim tinha, e procurava-o de uma forma única, sublime até. Procurava-a através desse extraordinário meio que é a leitura!
Os seus singelos e curiosos olhos, ávidos de saber, percorriam cada frase, saboreavam cada palavra, perdiam-se em cada livro, levando-o a um supremo momento: o do conhecimento. Aquele conhecimento que apenas se consegue com a leitura. Aquele conhecimento que só alguns conseguem ter, pois só alguns querem alcançar.
A Biblioteca era esse lugar mágico, o seu refúgio. Os livros enfeitiçavam-no e conduziam-no incessantemente por essa busca do saber.
A sua necessidade de frequentar aquele lugar único, a sua busca pelo saber, equiparava-se ao Sol que diariamente vemos, invariavelmente, nascer no ponto Este e que sabemos ser impossível ser de outra forma. Ele era assim. Era o Sol, que sistematicamente se dirige para o mesmo lugar, mas que todos os dias dá luz ao Mundo.
 Era a magia que irradiava dos livros que o enfeitiçava. Era a beleza ímpar da biblioteca e de tudo o que ela lhe proporcionava, que o atraía e fascinava. Esse era o lugar onde podia desfrutar de momentos inesquecíveis e extraordinários.
Nos livros havia a procura e a descoberta. Nos livros encontrava momentos extraordinários e únicos, que o faziam voar pelas asas da fantasia e pelos meandros do conhecimento.
Os livros transportavam-no para um mundo que o fascinava e em que entrava por puro prazer. Viajava. Viajava por gerações, civilizações e raças. Visitava mundos diferentes e distantes, sem sair daquele lugar mágico.
O prazer de ler estava-lhe na alma. Ler não era uma obsessão, mas uma necessidade que o alimentava, que o tranquilizava e que preenchia o seu ainda pequeno Mundo.
O livro sorria e o seu sorriso contagiante, refletia-se no rosto bondoso daquele jovial menino! A deslumbrante alegria projetada no seu cândido rosto tornava claro que com o livro ele nunca estava só. O seu olhar sonhador, enquanto devorava as páginas que o transportavam para outros lugares, exibia o eterno convívio que ali se criava. A amizade sincera, sem fronteiras, fluía entre eles.
Ver um livro, naquelas suaves mãos, era como presenciar o abraço entre amigos. Mas, não é o livro um amigo? E, cada vez que ele privava com esse amigo, o mundo parava e sentia-se a pertença entre os dois.
Quem dera que o mundo fosse feito com pessoas como ele. Reinaria sempre a concórdia. A paz, a amizade e a pureza seriam muito mais que palavras trancadas nos livros e que apenas alguns, os escolhidos, ou aqueles que escolhem, e são estes aqueles que mais têm a ganhar, podem alcançar.
Se todos fossem como ele, muitos livros perderiam o cheiro a bafio e resplandeceriam livremente, bailando de mão em mão num elegante ballet.
Ele era a luz! Era a luz, que na escuridão da noite mais negra, brilhava, como só a Estrela Polar sabe fazer.
Era aquele que todos desejam ser e que, por muito que se esforcem, não conseguem, pois nele era inato. Era dele, esse modo de ser, de estar e de viver.
A Biblioteca era o lugar que o mantinha cativo, numa clausura consentida, pensada e livre. Como livres eram as suas escolhas. Como livre deveria ser ainda, pois cedo ficou cativo, não desse sublime lugar, mas de um outro para onde foi sem regresso.
 E, nesse dia, nesse mesmo dia que parecia igual a tantos outros, não que os dias fossem todos iguais, não eram, mas nesse dia em que semicerrou os seus bonitos olhos, soube que este era um dia diferente aos demais dias. Era o tal dia que jamais deveria ter acontecido, não para muitos, mas apenas e tão só para ele.
Nesse dia, que não deveria ter acontecido, não para muitos outros, mas para ele. Nesse dia, ele dirigiu-se, pela última vez, àquele mágico lugar.
Nesse dia, em que não queria acreditar que a vida se escapava pelos mais ínfimos poros do seu corpo, em que semicerrou os olhos, não por querer, mas por ter de ser. Mas teria mesmo de ser?!…
Nesse dia. Nesse dia, tão diferente dos outros dias, esse menino semicerrou os olhos e procurou forças onde sabia que já não as havia. Esse jovem menino procurou forças que já não tinha e deixou-se levar por uma força maior que o impeliu para outro lugar.
Nesse dia, triste e repleto de injustiça, houve mais uma luz que se apagou na Terra.
Nesse dia, 8 de maio de 2017, mais uma estrela brilhou no céu e os livros choraram na Terra!
Dedico este texto a um menino que não conheci, mas de quem muito ouvi falar: o Gustavo. A sua memória permanecerá para sempre em nós e, esteja ele onde estiver, sem dúvida que está em paz!
Até sempre, Gustavo! 
Adriana de Matos Pedrosa, n.º 2, 12.º Ano, turma D
Escola Básica e Secundária de Anadia


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