Parabéns, Adriana de
Matos Pedrosa, pelo prémio obtido!
Uma luz no
céu!
Sem querer acreditar que a vida se
escapava pelos mais ínfimos poros do seu corpo, ele dirigiu-se, pela última
vez, àquele mágico lugar.
Parecia ser um dia igual a tantos
outros. Não que os dias fossem todos iguais. Não eram! Todavia, este não era um
dia diferente dos demais dias. Era um dia que jamais deveria ter acontecido,
não para muitos, mas apenas para ele. Ele, a quem todos admiravam pela sua
simpatia, afabilidade e generosidade.
Ele, que tinha tudo para ser, um
dia, um grande homem, não pôde alcançar esse futuro, que se esvaiu sem quase se
aperceber!
Nesse dia, em que o céu se pintou
de azul, ele estava no tal lugar mágico, onde tudo acontece: uma biblioteca.
Era ali que ele procurava o seu saber. Era nesse lugar que buscava a magia, a
beleza dos lugares e cultivava a sua aprendizagem sobre a vida.
Na sua, ainda, tenra idade já
mostrava uma grande sabedoria e extrema educação. Não havia dia nenhum, em que
dos seus lábios não brotasse um afável “Bom dia!”, uma qualquer palavra de
apreço, não fingida, nem forçada. Do seu coração emanava sempre a pura e plena
amizade, sobressaia a grandeza do seu ser.
Que mais se pode esperar de um
colega que a amizade? É nela que reside a essência da vida. Ele era aquele
menino com quem se partilham brincadeiras, gargalhadas. Ele era aquele menino
com quem é fantástico conviver e privar. Os seus colegas chamaram-no de amigo! Haverá melhor adjetivo
para se descrever alguém?
Tinha ânsia de saber. Sim tinha, e
procurava-o de uma forma única, sublime até. Procurava-a através desse
extraordinário meio que é a leitura!
Os seus singelos e curiosos olhos,
ávidos de saber, percorriam cada frase, saboreavam cada palavra, perdiam-se em
cada livro, levando-o a um supremo momento: o do conhecimento. Aquele
conhecimento que apenas se consegue com a leitura. Aquele conhecimento que só
alguns conseguem ter, pois só alguns querem alcançar.
A Biblioteca era esse lugar mágico,
o seu refúgio. Os livros enfeitiçavam-no e conduziam-no incessantemente por
essa busca do saber.
A sua necessidade de frequentar
aquele lugar único, a sua busca pelo saber, equiparava-se ao Sol que
diariamente vemos, invariavelmente, nascer no ponto Este e que sabemos ser
impossível ser de outra forma. Ele era assim. Era o Sol, que sistematicamente
se dirige para o mesmo lugar, mas que todos os dias dá luz ao Mundo.
Era a magia que irradiava dos livros que o
enfeitiçava. Era a beleza ímpar da biblioteca e
de tudo o que ela lhe proporcionava, que o atraía e fascinava. Esse era o lugar
onde podia desfrutar de momentos inesquecíveis e extraordinários.
Nos livros havia a procura e a
descoberta. Nos livros encontrava momentos extraordinários e únicos, que o
faziam voar pelas asas da fantasia e pelos meandros do conhecimento.
Os livros transportavam-no para um
mundo que o fascinava e em que entrava por puro prazer. Viajava. Viajava por
gerações, civilizações e raças. Visitava mundos diferentes e distantes, sem
sair daquele lugar mágico.
O prazer de ler estava-lhe na alma.
Ler não era uma obsessão, mas uma necessidade que o alimentava, que o
tranquilizava e que preenchia o seu ainda pequeno Mundo.
O livro sorria e o seu sorriso
contagiante, refletia-se no rosto bondoso daquele jovial menino! A deslumbrante
alegria projetada no seu cândido rosto tornava claro que com o livro ele nunca estava
só. O seu olhar sonhador, enquanto devorava as páginas que o transportavam para
outros lugares, exibia o eterno convívio que ali se criava. A amizade sincera,
sem fronteiras, fluía entre eles.
Ver um livro, naquelas suaves mãos,
era como presenciar o abraço entre amigos. Mas, não é o livro um amigo? E, cada
vez que ele privava com esse amigo, o mundo parava e sentia-se a pertença entre
os dois.
Quem dera que o mundo fosse feito
com pessoas como ele. Reinaria sempre a concórdia. A paz, a amizade e a pureza
seriam muito mais que palavras trancadas nos livros e que apenas alguns, os
escolhidos, ou aqueles que escolhem, e são estes aqueles que mais têm a ganhar,
podem alcançar.
Se todos fossem como ele, muitos
livros perderiam o cheiro a bafio e resplandeceriam livremente, bailando de mão
em mão num elegante ballet.
Ele era a luz! Era a luz, que na
escuridão da noite mais negra, brilhava, como só a Estrela Polar sabe fazer.
Era aquele que todos desejam ser e
que, por muito que se esforcem, não conseguem, pois nele era inato. Era dele,
esse modo de ser, de estar e de viver.
A Biblioteca era o lugar que o
mantinha cativo, numa clausura consentida, pensada e livre. Como livres eram as
suas escolhas. Como livre deveria ser ainda, pois cedo ficou cativo, não desse
sublime lugar, mas de um outro para onde foi sem regresso.
E, nesse dia, nesse mesmo dia que parecia
igual a tantos outros, não que os dias fossem todos iguais, não eram, mas nesse
dia em que semicerrou os seus bonitos olhos, soube que este era um dia
diferente aos demais dias. Era o tal dia que jamais deveria ter acontecido, não
para muitos, mas apenas e tão só para ele.
Nesse dia, que não deveria ter
acontecido, não para muitos outros, mas para ele. Nesse dia, ele dirigiu-se,
pela última vez, àquele mágico lugar.
Nesse dia, em que não queria
acreditar que a vida se escapava pelos mais ínfimos poros do seu corpo, em que
semicerrou os olhos, não por querer, mas por ter de ser. Mas teria mesmo de
ser?!…
Nesse dia. Nesse dia, tão diferente
dos outros dias, esse menino semicerrou os olhos e procurou forças onde sabia
que já não as havia. Esse jovem menino procurou forças que já não tinha e
deixou-se levar por uma força maior que o impeliu para outro lugar.
Nesse dia, triste e repleto de
injustiça, houve mais uma luz que se apagou na Terra.
Nesse dia, 8 de maio de 2017, mais
uma estrela brilhou no céu e os livros choraram na Terra!
Dedico este texto a um menino que
não conheci, mas de quem muito ouvi falar: o Gustavo. A sua memória permanecerá
para sempre em nós e, esteja ele onde estiver, sem dúvida que está em paz!
Até sempre, Gustavo!
Adriana de Matos Pedrosa, n.º 2, 12.º
Ano, turma D
Escola
Básica e Secundária de Anadia
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