Podia
parecer mais uma das palestras dinamizada pelos grupos de Geografia e Biologia
da escola. Contudo, a entrada do Dr. José Xavier, biólogo marinho, mudou, para
sempre, o nosso modo de ver o mundo. Apesar de afirmar que está sempre de
férias, já há 20 anos, desde 1997, que é pago para tal e que o seu trabalho é
cheio de aventuras. Afinal, quando deslindamos a realidade, verificamos que ele
é feito de muito estudo e trabalho, dedicação e constante risco de vida!
A
pergunta inicial deixou sorrisos nos rostos de uns, embora outros ficassem
intrigados: “Porque é que os ursos polares não comem pinguins?”. A resposta a
esta questão teria de esperar…
Ao longo da sua dissertação, o palestrante foi-nos mostrando a beleza dos oceanos e o quanto este mundo ainda é tão pouco conhecido. Isto, porque há uma grande dificuldade em o conhecer, uma vez que o meio aquático se reveste de condicionalismos naturais como a água fria e até a própria profundidade, que impedem o Homem de fazer estudos científicos mais aprofundados.
Os
leões-marinhos, lulas, chocos, polvos, pinguins, focas, como é o caso das
focas-leopardo, elefantes-marinhos, albatrozes, as alforrecas, entre outros,
são espécies marinhas estudadas pela sua equipa. Referiu que os oceanos estão
povoados de espécies de diferentes tamanhos e que uns se alimentam dos outros.
Todavia, nem sempre os mais pequenos são o alimento dos maiores, o inverso,
também, é verdadeiro.
Mostrou
as estratégias dos animais, como as alforrecas, as lulas, os chocos e os polvos
de se protegerem dos seus predadores. Referiu que as alforrecas são animais
muito simples, dada a sua constituição ser, essencialmente, por água, mas
contêm células que queimam e os seus tentáculos podem atingir os 40 metros.
Apresentou
os exemplos do polvo, da lula e dos chocos, como sendo dos animais mais
inteligentes. No caso do polvo, até nos apresentou um vídeo em que este se
disfarçava de coco ou de algas. Ele estava, realmente, irreconhecível! O seu
mimetismo é de tal modo perfeito que fica com uma dimensão e uma forma
totalmente diferentes do que estamos habituados a ver, pois tem a capacidade de
alterar a textura da sua pele, sendo o único animal que tem um controlo fino
sobre esta, o que causou o espanto de todos. Não podemos esquecer que estes
animais dependem da sua capacidade de camuflagem para se esconderem dos seus
predadores e, também, para capturarem as suas presas. Referiu que ele,
juntamente com a sua equipa, descobriu na Antártida o polvo que é, ainda
atualmente, o que tem maior peso, com 300 kg.
Os
elefantes-marinhos fêmeas podem atingir os 800 kg, enquanto os machos podem
chegar às 4 toneladas.
Quanto
às focas-leopardo, ficámos a saber que devoram tudo o que lhes aparece no mar,
sendo, por isso, difícil fazer uma aproximação delas no meio aquático. Embora
em terra já seja possível.
Ao
longo da sessão, também, mostrou uma lula colossal. Referiu, ainda, que os
animais se adaptam às alterações climáticas.
Ficámos
a saber que o albatroz é uma ave marinha de grandes
dimensões e que possui a maior envergadura de asa de qualquer espécie ainda
existente. Para melhor compreendermos a dimensão desta, solicitou a colaboração
de dois alunos e, pedindo para os dois estenderem os braços, referiu que esse
era o tamanho do albatroz, cerca de três metros. Mostrou um aparelho que
consegue controlar os seus movimentos. O albatroz macho atinge, geralmente,
maior dimensão do que a fêmea.
Interessante
foi a informação sobre o facto dos animais da Antártida não terem medo dos
humanos, pois, como não povoamos este continente, eles veem-nos como seres
iguais. Por exemplo, os pinguins são muito curiosos, formando mesmo um círculo
em torno de nós e focam o seu olhar, pois nós é que somos os invasores.
Mostrou, também, os diversos sons que estes produzem ao longo da sua vida e
como se pega neles. Para ver se são fêmeas ou machos é necessário tirar sangue,
o que não é fácil. Ou, quando se vê um pinguim a pôr um ovo, este é o mais
fácil e lógico!
Outra
curiosidade teve a ver com a sua bata. Realmente, um casaco que o protege das
baixas temperaturas antárticas. A cor laranja é propositada, pois serve para
distinguir da neve. De seguida,
mostrou a todos os presentes e todos puderam observar, de perto, algumas das
recordações recolhidas ao longo das suas imensas expedições: dentes de
lobo-marinho, mandíbula de lula, um saco que continha as penas de um pinguim,
uma bola de rugby, pois comparou o corpo destes animais a esta, os seus óculos
de sol para o frio e vento e para proteger dos raios UV, o seu bloco de notas,
original e improvisado, feito com folhas de plástico, uma vez que é impossível
levar um dos normais, como aquele que utilizamos diariamente.
Outra
tarefa que executam é o controlo do peso e tamanho dos pinguins,
leões-marinhos, etc. Nesta atividade, relatou que há sempre alguém que acaba
por ser mordido. Ele mesmo já tinha algumas marcas dessas ocorrências.
Inacreditáveis
são as gigantescas ondas que fustigam os barcos, quando viajam para a
Antártida. Ondas com mais de 30 metros que saltam sobre o barco e que parecem
que o devoram.
Entretanto,
dá finalmente a resposta à questão inicial: “Porque é que os ursos polares não
comem pinguins?”. É simples, pois os ursos polares e os pinguins vivem em polos
diferentes! Esta resposta, muito original, provocou uma gargalhada geral.
No
final, respondeu às dúvidas que surgiram e mostrou-nos um vídeo de uma sua
expedição envolvendo pinguins e albatrozes, acompanhado, no início, com a
música dos Deolinda.
E
tantas mais informações que nos foram transmitidas nesse memorável dia 27 de
abril, mas que é impossível relatar aqui (disseram-me que o espaço era
limitado…).
“São
férias! E, pagas!” Enfim, quando alguém demonstra esta alegria pela profissão
que escolheu e, mesmo vivendo em constante risco, continua a transmitir de uma
forma fantástica e bela os milagres da natureza, só é possível dizer:
Bem-haja
pelo seu trabalho, Cientista José Xavier! Muito obrigada!
Sofia
Pedrosa, O Ciclista, n.º 23, 12.º B
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