Numa noite escura e fria
de inverno, Manuel chegou a casa com a alma negra como a noite, pois acabara de
perder o emprego. Nem sabia como dizer à mulher. Lá em casa mais ninguém
trabalhava!... O que ia fazer agora aos sessenta anos? Como iam sobreviver sem
rendimentos?
Os dias seguintes foram
assustadores, desesperantes. O Estado penhorou-lhes a casa, o dinheiro
esgotou-se, a fome instalou-se e a mendicidade foi o caminho a seguir. Tornou-se
um sem-abrigo, envolto em cartões e trapos velhos, cheio de frio e de fome que
os ricaços ignoravam, invadidos por sentimentos de revolta, não por compaixão
dele, mas sim pelo cenário desagradável e promíscuo que observavam diariamente.
Assim, esquelético e com
a mão trémula de fraqueza, vasculhava meticulosamente os restos de comida, na
esperança de encontrar um osso com escassos bocados de carne ou um iogurte mal
comido que o saciasse, pelo menos, durante essa noite. Sem sucesso, sentou-se
no chão e a cabeça começou a rodar. De repente, foi inundado por imensos
sentimentos estranhos e alucinações que o deixaram feliz. Cenouras, laranjas,
pernas de frango, salmão e chocolates rodeavam-no numa cascata de água fresca.
Manuel tentava agarrá-los desesperadamente, mas tudo se evaporava.
- Venham cá, preciso de
energia, de ferro, de vitaminas. Vocês são a minha única salvação. Para
vivermos precisamos de uma alimentação saudável. Não fujam!
Exausto implorava por uma
última ceia digna.
Ao longe vislumbrou uma
luz cintilante e rotativa que se aproximava cada vez mais.
Dias depois acordou numa
cama, já recuperado, acompanhado pela família e pela ceia que tanto desejara.
Uma nova fase da sua vida iria começar.
6.º B –
2012/2016, Escola Básica e Secundária de Anadia
(Professora Isabel Pimenta)
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