Atravessamos um período em que se pode afirmar que a
tecnologia domina a sociedade. Não questiono a sua importância na vida do Homem,
pois considero-a de assaz importância. No entanto, talvez seja o momento de nos
debruçarmos sobre os efeitos que o seu uso, quiçá abusivo, pode acarretar na
socialização, particularmente dos nossos jovens.
A ideia de fazer a apresentação que amanhã divulgaremos
teve origem num correio eletrónico enviado por um colega nosso. Apreciadas as
imagens considerámos que seria interessante apresentá-las aos nossos leitores.
Arregaçamos as mangas e investigámos algumas outras na Internet e, embora
fazendo-o de um modo ligeiramente humorístico, quisemos principalmente alertar
para os seus efeitos.
Com a apresentação das imagens e dos comentários (alguns
dos quais não são da nossa autoria, mas adaptados), pretendemos despertar todos
os Ciclistas para uma realidade que
tem vindo a aumentar de modo exponencial.
As imagens feitas em escolas fossem elas em espaços
exteriores, os chamados recreios, fossem em salas de aula, a partir de
telemóveis de alunos e por eles divulgadas na “Net”, chocaram o mundo.
Imagens de violência de alunos contra alunos, o tal
“Bullying”, de professores contra alunos e, até, de alunos sobre professores
têm-se repetido e sido divulgados de forma gratuita na Internet e aproveitados
posteriormente pelos mass media.
Estas imagens transportaram um alerta global e os
governantes dos diversos países viram-se pressionados a agir de modo a que esta
situação cessasse e apenas falamos do uso do telemóvel, pois a violência não
está agora a ser tratada (essa é outra história!).
Embora não desprestigie o que se passa por esse mundo
fora, vamos ver o que Portugal, pois é o nosso país, decidiu fazer para
combater este problema. Pois é exatamente disso que se trata: um problema.
Detetado o problema a pronta atuação das entidades
competentes levou-nos a pensar que seria fácil erradicá-lo. O imediato
surgimento de um novo Estatuto do Aluno, que proibia os alunos de usarem os
meios tecnológicos em ambiente escolar, parecia ser a solução.
Não é novidade para ninguém que os meios tecnológicos,
muito particularmente os telemóveis, são hoje proibidos nas escolas. Depois de
muitas alterações ao estatuto, essa parte em particular sofreu grande alteração
e viu mesmo reforçada essa proibição. Para os leitores que o desconhecem,
transcreve-se a parte do artigo 10.º, relativo aos Deveres do aluno, patente no atual estatuto (Lei nº 51/2012, de 5 de setembro) que diz respeito ao assunto que
estamos a tratar:
q) Não transportar quaisquer materiais, equipamentos tecnológicos,
instrumentos ou engenhos passíveis de, objetivamente, perturbarem o normal
funcionamento das atividades letivas, ou poderem causar danos físicos ou psicológicos
aos alunos ou a qualquer outro membro da comunidade educativa;
r) Não utilizar quaisquer equipamentos tecnológicos, designadamente,
telemóveis, equipamentos, programas ou aplicações informáticas, nos
locais onde decorram aulas ou outras atividades formativas ou reuniões de
órgãos ou estruturas da escola em que participe, exceto quando a utilização de
qualquer dos meios acima referidos esteja diretamente relacionada com as
atividades a desenvolver e seja expressamente autorizada pelo professor ou pelo
responsável pela direção ou supervisão dos trabalhos ou atividades em curso;
s) Não captar sons ou imagens, designadamente, de atividades
letivas e não letivas, sem autorização prévia dos professores, dos responsáveis
pela direção da escola ou supervisão dos trabalhos ou atividades em curso, bem como,
quando for o caso, de qualquer membro da comunidade escolar ou educativa cuja
imagem possa, ainda que involuntariamente, ficar registada;
t) Não difundir, na escola ou fora dela, nomeadamente, via
Internet ou através de outros meios de comunicação, sons ou imagens captados
nos momentos letivos e não letivos, sem autorização do diretor da escola;
Muito tempo após a saída da primeira proibição e mesmo
agora, mais de um mês passado sobre a aplicação deste novo estatuto, completa
desilusão!
À semelhança de tantas outras leis esta veio para ficar
no papel…
Não querendo ser, ou mesmo parecer demasiado anacrónica,
pois eu também uso telemóvel e sei reconhecer as suas vantagens, gostaria de
ver aplicado em absoluto o Estatuto do Aluno.
Quer isso dizer que considero que os alunos não deveriam
andar com telemóvel, ou trazê-lo para a escola? Não. Não pretendo ser tão
radical.
Considero é que, e acreditando no que a lei diz, não o podem
trazer ligado nas escolas, muito menos nas aulas. Sim, os alunos mantêm-nos
ligados nas aulas e, quando são “apanhados” consideram-se injustiçados, pois
esqueceram-se de o colocar no silêncio! Sim no silêncio e não desligado.
Qual foi o professor que nunca ouviu o toque de um
telemóvel de pelo menos um aluno seu durante uma aula? E sabem? Algumas vezes
são os próprios pais que lhes ligam durante essas mesmas aulas. Inacreditável,
mas verdadeiro.
Mas, embora esqueçam muitas vezes de o “desligar”
(entenda-se tirar o som, colocá-lo no modo “silêncio”, ou “avião”,…), assim que
toca para o intervalo é vê-los a ligar o som, não o aparelho, e a enviarem
mensagens ou a telefonarem, às vezes para os colegas que se encontram a sair da
sala ao lado da sua. Pois, esta parte, a de o ligar, nunca é esquecida. O
inverso é que se verifica!
Todavia, serão apenas os alunos os únicos viciados?
Evidentemente que não. Quase todos nós acabamos por ficar
seduzidos e rendidos às novas tecnologias e àquilo que elas nos proporcionam.
Evidentemente que não goramos as vantagens do seu uso. Nem pretendemos denegrir
quem faz uso dos meios de comunicação. Eu confesso que também me incluo nessa
população dependente das novas tecnologias. Embora, seja mais do PC e não tanto
do telemóvel, que até esqueço frequentemente em casa! Mas realmente sinto-me
dependente deste meio tecnológico: neste preciso momento, já é sábado cerca das
4 horas… da manhã e eu estou aqui usando (abusando) deste extraordinário meio.
Não é sobre o uso dos meios tecnológicos que pretendemos
alertar. Mas sobre os efeitos que o uso abusivo deles pode ter sobre a
comunicação “cara a cara” entre as pessoas. Será que se está a perder vermos retribuída
a expressão daquela pessoa a quem dirigimos um simples olá? Será que se está a
perder ver aquele sorriso no rosto de alguém que encontramos na rua e nos
cumprimenta com carinho? Será que se está a perder aquele beijo na face de um
amigo? Será que se está a perder aquele aperto de mão afetuoso de alguém conhecido?
Será que se está a perder… o simples contacto visual entre as pessoas?
É este alerta que ora pretendo transmitir e que a “nossa”
apresentação ambiciona reforçar.
Estamos muitas vezes rodeados de pessoas, mas tão longe
uns dos outros que deixamos de nos conhecer através dessa linguagem fantástica que
é a fala. Conhecendo-nos antes através uma linguagem escrita (e tão mal
escrita!) de telemóveis, de redes sociais, … pessoas sem rosto que são “amigas”
de milhares de amigos nossos, eternos desconhecidos!
Graça Matos, O Ciclista