31 de outubro
Desde muito cedo que Duarte se habituara a poupar. Os seus
pais eram pessoas pobres que viviam do seu, mal pago, trabalho. Apesar de
escassa e sem grandes manjares, a comida nunca faltou na mesa da sua casa.
Martim, filho de antigos aristocratas, quando em Portugal
ainda reinava a monarquia, habituara-se a uma vida regalada e a gastos
frequentemente desnecessários. As festas e banquetes dados pelos seus pais eram
o seu dia a dia.
A escola frequentada pelos dois não foi a mesma. Duarte
sempre andou na escola da pequena vila. Já Martim estava no melhor colégio.
Conheceram-se na faculdade de Medicina e, logo no primeiro
momento em que se conheceram, uma grande e verdadeira amizade os uniu, apesar
das diferenças sociais que os separavam.
Duarte estudava com o dinheiro da bolsa que lhe tinha sido
atribuída e era um aluno aplicado. Martim gostava de farras e as noites
perdidas levavam-no a quase nunca pôr os pés nas aulas. Duarte bem o tentava
convencer a mudar o seu estilo de vida, a poupar, mas nada o demovia do seu
viver desenfreado.
Assim, enquanto Duarte terminou o curso no tempo normal e
conseguiu estágio e depois emprego num importante hospital, Martim nunca conseguiu
completar o primeiro ano.
Os pais, que entretanto faleceram drasticamente, deixaram-no
com aquilo que se podia dizer um bom pé-de-meia. Mas Martim, por sua vez, vivia
dos seus rendimentos, gastava tudo sem pensar e nada fazia para manter ou
acrescentar esse património. Por isso, um dia, viu-se subitamente na miséria. Estava
sozinho no mundo e não sabia o que fazer.
Certa tarde, sentado
no banco de um belo jardim, pensava como tinha desperdiçado a sua juventude. O
que faria agora? O que realmente sabia fazer? Como iria arranjar trabalho? Não
sabia fazer nada. Quem lhe dera voltar atrás e recomeçar. Certamente, iria
tirar o curso e ficar como o Duarte. Recordou-se assim dos velhos tempos com o
amigo, dos seus conselhos e do total desprezo pela mania de poupança do amigo. De
repente, sentiu uma mão sobre o seu ombro e viu-o, era Duarte, o seu melhor
amigo. Martim abraçou-o emocionado.
Após terem colocado alguma da conversa em dia, Martim
perguntou-lhe se no hospital onde trabalhava haveria um lugar para ele, pois precisava
urgentemente de trabalhar.
Duarte sentiu-se mal. Haver até havia, mas não era trabalho
para ele. Vendo-o hesitar, Martim disse-lhe:
- Nestes dias, tenho
aprendido muito. Reconheço que nunca respeitei o trabalho de ninguém, trabalhar
era até uma palavra que não constava do meu dicionário. Sinto que há lá
qualquer coisita. Diz-me, há, não há?
De facto, dias depois, Martim concorreu e, com uma pequena
ajuda de Duarte, conseguiu o emprego de maqueiro das 18 às 24 horas, todos os
dias. Com este horário e o dinheiro que ganhava, conseguiu acabar o curso.
Hoje, Duarte e Martim estão juntos na clínica, a “DuaMar” e
tudo isto só foi possível com o seu trabalho e, claro, com uma grande poupança por
parte dos dois amigos.
Sofia Matos, nº21, 8º C / O Ciclista