O nosso artigo de hoje aborda a controvérsia que
ultimamente se tem gerado em torno do voluntariado nas escolas.
Não nos compete a nós, Ciclistas,
ajuizar sobre tão polémico tema, nem a nossa opinião teria cabimento neste
artigo que hoje apresentamos. Mas falámos com alguns dos “nossos” aposentados,
pedindo--lhes que se debruçassem sobre este polémico tema, tendo essa mesma
dualidade ficado bem expressa. Não vamos nomear nenhum dos nossos
“entrevistados”, de modo a não causar atritos desnecessários e que não faz
parte da ética d´O Ciclista.
Começamos assim por salientar que todos foram unânimes em
identificar o voluntariado como uma atividade exercida sem intenção de haver
qualquer remuneração e que se assume como uma ação de interesse social e
comunitário. Contudo, diferem na intenção e no modo como esta é praticada.
Para os antigos docentes, que são defensores do
voluntariado nas escolas, este não deve ser encarado como uma profissão, pois o seu principal objetivo,
na sua opinião, é contribuir para apoiar os alunos que de outro modo não teriam
este tipo de apoio.
Para eles, este é um trabalho posto em prática com
seriedade e altruísmo e que, contrariamente àquela ideia que muitas das vezes
parece transparecer, não é feito com o intuito de sobressair ou de ganhar
estatuto social. Por outro lado, se pensarmos bem, nas escolas infelizmente não
há capacidade de resposta neste tipo de acompanhamento. Daí, ser extremamente
importante este complemento de voluntariado.
No entanto, há algumas diferenças a registar pois, na
opinião de alguns, o voluntariado nas escolas não deve ser encarado como um
tirar o emprego a alguém, mas sim uma mais-valia que não seria possível de
outra forma.
Aquele que é feito
para além das competências normais dos docentes e que de outro modo os alunos
não teriam acesso, segundo uma das nossas fontes: “… deve ser feito apenas quando não colida com o trabalho dos
profissionais de educação que estão ou poderiam estar empregados e pelo qual
auferem um vencimento. Por exemplo, apoiar os alunos durante os seus
intervalos, dialogando com eles, motivando-os para a partilha, para o convívio
são e isento de violência, física ou psicológica, e apoiando-os no seu
crescimento e desenvolvimento”.
Para outros, o voluntariado nas escolas pode assumir
aspetos que o estado deveria comportar mas, por razões diversas, mormente
económicas, não o está a fazer. Consideram, assim, que as crianças e jovens não
devem ser penalizados pela instabilidade económica e pela falta de meios humanos
capazes de lhes dar a resposta que de outra maneira não viriam a usufruir.
Alguns dos docentes contactados, contrariamente à opinião
anterior, veem o voluntariado como um trabalho que não deve camuflar os défices
que as escolas têm fruto do desleixo e do abandono a que são votados alguns
setores da educação, particularmente aqueles que são da responsabilidade do
Ministério da Educação (ME) e que são, frequentemente, desprezados.
Conforme nos foi confidenciado por um professor aposentado:
“O voluntariado só é possível, quando a
pessoa tem vontade de fazer um trabalho para bem de alguém sem receber nada em
troca. Ora, como é possível ter vontade de trabalhar para o ME (embora ajudando
alunos), se os responsáveis da tutela têm maltratado os professores de forma
continuada e tão incompreensível? – esta é a razão emocional do meu não querer.
O motivo racional tem a ver com questões práticas: se um professor aposentado
fizer voluntariado na escola, estará a realizar um trabalho que poderia ser
dado a um não aposentado para fazer. Isso poderá significar estar o voluntário
a contribuir para o desemprego dentro da classe”.
Outro antigo docente salienta: “O ME tem vindo cada vez mais a denegrir a educação, muito em especial a
profissão docente, relegando-a para um plano inferior e tentando subtrair-lhe o
enorme valor que todos sabem que realmente ela possui na construção de uma
sociedade mais culta e socialmente mais ativa, empreendedora, justa e cujo
bem-estar deve prevalecer. Por isso, quando pensei abandonar a profissão que
abracei há mais de 40 anos, fi-lo com a convicção de ter contribuído para tudo
aquilo que sonhei. Mas, fi-lo de um modo que jamais imaginara, com uma imensa
desilusão por ver que o trabalho de décadas estava a ser denegrido. Que o
ânimo, a garra e alegria com que sempre pautei a minha entrega estavam a ser
dizimados retirando-lhes o devido valor”.
Os artigos, que vamos apresentar nos próximos dias,
expressam apenas o trabalho de voluntariado encetado por alguns dos antigos
docentes do Agrupamento, particularmente da Escola Básica nº 2 de Anadia que
mantêm a sua ligação ao Agrupamento, muito particularmente a esta escola.
Acrescentamos que o artigo que hoje apresentamos não tem a opinião pessoal de
nenhum dos intervenientes no voluntariado, que se está a realizar na escola,
mas apresenta tão-somente o tipo de voluntariado que os mesmos efetuam.
Iniciamos com o trabalho da Dra. Ana Amorim, que lecionou
as disciplinas de Ciências da Natureza e Matemática do 2º ciclo e de Ciências
Físico-Químicas do 3º ciclo que, embora aposentada, colabora com a nossa equipa
de Educação para a Saúde,
todas as sextas-feiras, quer no gabinete de apoio, quer fazendo ações de
informação e de sensibilização em sala de aula. Seguidamente, daremos a
conhecer o testemunho da Dra. Dina Celeste Almeida, também já aposentada e antiga
docente de Ciências da Natureza e Matemática do 2º ciclo, que colabora com a
equipa de Educação Especial e
que aceitou o convite em dar apoio, duas vezes por semana, a uma aluna com
necessidades educativas especiais de carácter permanente.
Finalmente,
no último artigo, vamos dar a conhecer o trabalho realizado pelo antigo docente
de Educação Visual e Tecnológica e das disciplinas específicas relacionadas com
o curso de Empregado de Mesa dos CEF, Professor Nelson Franco.
A Equipa d´O Ciclista
agradece a todos os antigos docentes que se disponibilizaram em colaborar e,
deste modo, permitiram que estes artigos fossem possíveis.
A Equipa d´O Ciclista