No mesmo ano em que se celebram os 100 anos da implantação da República, passa o 2º centenário do nascimento de Alexandre Herculano, uma das personalidades mais importantes do século XIX, a quem Portugal muito deve e que, no entanto, passou quase despercebido.
Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo nasceu em Lisboa no dia 28 de Março de 1810, no Pátio do Gil, local de residência dos mais pobres como eram os seus pais. Faleceu em Vale de Lobos, Santarém, a 13 de Setembro de 1877, vindo o seu corpo para os Jerónimos em 1888 como reconhecimento do que o país lhe devia.
A situação dolorosa do país em consequência das invasões francesas e dos desmandos dos ingleses e a agitação social que conduziria à Revolução Liberal de 1820 devem ter marcado profundamente a sua infância e adolescência.
Frequentou até aos 15 anos o colégio dos Padres de S. Filipe de Nery. Contudo, não podendo frequentar a Universidade de Coimbra, como era seu desejo, por falta de meios económicos, não deixou de se dedicar ao estudo do inglês, francês, italiano e alemão que, mais tarde, lhe seriam úteis para as suas pesquisas históricas.
Descontente com o governo de D. Miguel, exilou-se em França e na Inglaterra, vindo a integrar o exército de D. Pedro IV que desembarcou junto ao Porto para afastar os absolutistas do poder.
Terminada a guerra civil, inicia uma carreira de bibliotecário que o levaria da Biblioteca do Porto às Bibliotecas Reais da Ajuda e das Necessidades, onde se dedica ao estudo e pesquisa.
Vai publicando várias obras que vão da poesia, ao teatro e à narrativa, estando entre as mais conhecidas “Lendas e Narrativas”, “ O Monge de Cister”, “ O Bobo”, “Eurico, o Presbítero” e tantas outras.
Mas a que lhe daria mais glória seria a “História de Portugal”, em quatro volumes, que introduz em Portugal a historiografia científica.
A Academia das Ciências nomeia-o seu sócio efectivo e encarrega-o de recolher os “Portugaliae Monumenta Historica” – documentos antigos e muito valiosos, que estavam dispersos e em risco de se perderem, nos vários conventos do país, após a extinção das ordens religiosas.
Recusou honrarias e condecorações e, desiludido com a situação política do país, retirou-se para a sua quinta de Vale de Lobos onde, além da agricultura, se continuou a dedicar à sua obra literária e científica.
Juntamente com Almeida Garrett, é considerado o introdutor do romantismo em Portugal.
O 1º centenário do seu nascimento, ocorrido a 28 de Março de 1910 foi celebrado de forma notável. Os principais jornais dedicaram-lhe grande destaque, realizaram-se vários eventos a nível nacional entre os quais uma visita ao seu túmulo nos Jerónimos, em Lisboa, uma homenagem da Academia Real das Ciências, com a presença do rei D. Manuel II e seu tio o infante D. Afonso, festejos na Câmara de Lisboa, uma exposição bibliográfica da sua obra, além de outras iniciativas.
Enquanto vivo, teve uma influência sem paralelo em Portugal pela sua autoridade moral, intelectual e cívica. Citando o historiador Rui Ramos “recebeu em vida a glória que Camões e Fernando Pessoa só tiveram após a morte”.
Laura Pinto, professora